Paciência tem limite...
A do tetracampeão Alain Prost parece já ter transbordado do copo.
Na esteira do lançamento da série "Senna", da Netflix, o francês, que em breve terá sua história retratada também em um documentário (pelo Canal+), mostrou um incômodo natural pela abordagem de sua trajetória, segundo ele já deturpada em "Senna: O Brasileiro, O Herói, O Campeão", filme de 2010.
"Há 30 anos, convivo com uma espécie de redução da minha vida, que é o episódio Prost-Senna", disse Prost ao motorsport.com da França.
"Entre o filme Senna, o primeiro [Senna: O Brasileiro, O Herói, O Campeão], no qual passei talvez até mais tempo do que no meu documentário, e esse filme biográfico, é óbvio que não vou ficar satisfeito, porque sempre há um mocinho e um bandido [mostrado nele]", arrematou Alain, campeão em 1985, 1986 e 1989 pela McLaren e em 1993 pela Williams.
Prestes a completar 70 anos (no próximo 24 de fevereiro), Alain tem razão.
Primeiro e único francês a ter sido campeão na Fórmula 1, já era tricampeão quando Ayrton ganhou seu primeiro título, justamente disputando de forma ferrenha contra ele na mesma McLaren, em 1988.
O caldo entornou após Ayrton descumprir um acordo no GP de San Marino de 1989.
Eles havia se entendido sobre o fato de que não se digladiariam na primeira volta das corridas.
Mas lá em Imola, em 1989, tudo foi respeitado na largada e na primeira volta, com Senna (o pole) liderando as três primeiras voltas com Prost em seu encalço.
Aí, aconteceu o impactante acidente de Berger (Ferrari) na Tamburello. O carro do austríaco pegou fogo mas ele conseguiu se desvencilhar do cockpit com leves queimaduras nas mãos.
Bandeira vermelha e nova largada.
Desta feita foi Prost quem assumiu a liderança, com Senna em segundo.
Senna, ainda na primeira volta, deu o bote para cima de Prost e venceu a prova.
O francês ficou furioso, dizendo que o brasileiro havia descumprido o acordo, ao que Senna retrucou dizendo que o acordo valia para as largadas, não para as relargadas...
No espírito da "Lei de Gérson", o do sujeito que gosta de levar vantagem em tudo, Senna achou que estava tudo bem.
Ron Dennis, chefe da McLaren, "enquadrou" o brasileiro dando razão ao francês.
Então, quando alguns dizem que em 1990 Senna se vingou de Prost pelo que havia acontecido em 1989 em Suzuka, talvez possamos pensar que Prost se vingou de Senna em 1989 pelo que havia passado em Imola no mesmo ano, certo?
Nenhum santo, diga-se.
Embora por essas bandas Senna seja uma figura quase canonizada e Prost seja considerado o filho do demo.
Se Ayrton Senna tivesse sobrevivido ao acidente na Tamburello, Michael Schumacher tomaria o "bastão" de Prost como novo capeta.
Na verdade tomou, apesar de a rivalidade com Barrichello nunca ter existido de fato.
"Tenho outras coisas para fazer na vida além de sempre falar sobre o que aconteceu com Ayrton", emendou Alain ao site francês, demonstrando maturidade sobre sua trajetória brilhante que, de fato, não deve se limitar à rivalidade com o piloto brasileiro.
Particularmente tenho curiosidade em assitir ao documentário de Prost, no aguardo que ele não seja "chapa branca", mas um mais fiel retrato dos fatos, diferente do que fez a Netflix com "Senna".
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