Em menos de um mês vai começar mais uma temporada da Fórmula 1.
Para quem ama esse esporte (sim, é esporte), a abstinência em ficar tanto tempo sem um GP ao vivo pode levar a tremores e laricas incontroláveis.
É o meu caso.
Assumo o vício, afinal não bebo nada de álcool e sou absolutamente careta para quaisquer tipos de drogas, às quais incluí o açúcar como uma delas nos últimos tempos.
Estou até pensando em reler o best-seller "Sugar Blues".
"Pra valer", de fato, será minha 44ª temporada de F1, a 12º como jornalista, com o dever (prazeroso) de assistir treinos e corridas e relatar em matérias no Portal Terceiro Tempo.
Fora as colunas, como esta, outra tarefa que me dá um prazer danado.
Não vou contar as parcas lembranças antes de 1976 e nem mesmo o GP do Japão daquele mesmo 1976, uma temporada que rendeu até película das boas, "Rush".
Nos últimos tempos, depois de dois ou três dias de treinos de pré-temporada, tudo parece claro sobre quem vai brigar pelo título, quem vai andar no meio do pelotão e quem vai dar vexame.
Nem vou me estender para dizer que a Mercedes é franca favorita ao título de construtores e de pilotos (com Hamilton).
Também não vou gastar mais que uma linha para cravar que a Ferrari seguirá em jejum de campeonatos e outra para apostar que Verstappen vai beliscar algumas vitórias sempre que tiver carro para encarar as Mercedes.
Assim, direciono meu holofote para o time de Frank Williams, hoje comandado por sua linda filha, Claire Williams.
É bem possível que se fosse o filho, e não a filha de Frank quem tivesse assumido a equipe, as críticas não fossem tão duras.
O mundo da F1 também olha de "esgueio" para as mulheres.
Depois de duas temporadas na rabeira da tabela, a de 2019 com apenas um ponto, a outrora gigante Williams chegou a aquele lugar conhecido por muita gente, o chamado fundo do poço.
Às vezes é preciso mesmo descer tão fundo para, lá de baixo, pensar no que foi feito de errado.
A culpa sempre é da gente, por mais que tentemos condenar um demônio.
Anjos, de fato, não existem.
No caso da Williams, uma série de escolhas erradas, entre pessoal da área técnica e pilotos, podem entrar na contabilidade dos fracassos recentes.
Para quem desembarcou agora no planeta, a Williams é uma das maiores da história da F1, com nove títulos de construtores, sete de pilotos e 114 vitórias.
São números robustos, nada condizentes com o que aconteceu ultimamente.
Por isso, o ânimo de Claire Williams em Barcelona, quando viu o recém-nascido FW43 ser guiado pela primeira vez por George Russel fechar sessões em quinto, sexto lugares, é totalmente justificável.
Seu pai, o velho Frank, tetraplégico, está um pouco afastado, sua saúde não é das melhores aos 77 anos.
Claire tem a imensa responsabilidade de devolver dignidade à equipe.
Parafraseando o canceriano Gilberto Gil em uma de suas mais belas canções (Amarra o teu arado a uma estrela), que diz em um refrão "safras e safras de sonhos, quilos e quilos de amor".
Não custa sonhar, não é mesmo canceriana Claire?
Clarice Lispector deixou uma boa frase para novas histórias:
Ainda bem que existe outro dia. E outros sonhos.
E outros risos. E outras pessoas.
E outras coisas.
ABAIXO, "AMARRA O TEU ARADO A UMA ESTRELA", CANÇÃO DO CANCERIANO GILBERTO GIL QUE ME INSPIROU PARA A CRÔNICA
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