O escritor e jornalista com mais de 2.500 exemplares para autografar. Foto: Laêne Caetano

O escritor e jornalista com mais de 2.500 exemplares para autografar. Foto: Laêne Caetano

Não foram muitas vezes em que li um livro "numa tacada só".

O mais perto que cheguei disso foi com "Vinhas da Ira", meu favorito, diga-se, aquele que se fosse o único livro que eu pudesse levar para uma ilha deserta, teria em minhas mãos, tão essencial quanto um cantil com água.

Um robusto livro de 629 páginas e letras miúdas que devorei rapidamente em um fim de semana prolongado no sítio do meu então sogro, em Atibaia, interior de São Paulo.

A obra de John Steinbeck (1902 - 1968), de quem me tornei um leitor voraz, é de um lirismo que machuca.

O final, minha nossa, é a coisa mais linda que alguém pôde escrever, entendo.

Recomendo a leitura. Quem não conhece Steinbeck, dê uma pesquisada na vida do escritor norte-americano que nadou contra a maré em seu país, foi perseguido pelos conservadores mas coroou sua divina arte de escrever com o Pulitzer em 1940 e o Nobel de Literatura em 1962.

Há o filme da obra, brilhantemente dirigido por John Ford e com Henry Fonda no papel principal. Mas fiquem com o livro, sobretudo porque a forma de escrever de Steinbeck é ímpar e o final não é reproduzido na película.

Depois, por curiosidade, assistam o filme, vale a pena também.

E leiam os outros livros dele, se possível, todos!

Sugestões?

"Ratos e Homens" e "Boêmios Errantes" para quem não quiser debutar com o grandalhão "Vinhas da Ira".

Sou bastante emotivo, característica marcante dos cancerianos segundo os astrólogos, talvez isso explique o fato de, ao terminar de ler "Vinhas da Ira" em uma noite de inverno rigoroso, não tenha conseguido dormir até que o Sol rompesse atrás dos eucaliptos no leste e amainasse um pouco a geada, tamanho "soco no estômago" que levei.

"Vinhas da Ira" — e também a biografia de John Steinbeck —, excepcionalmente escrita por Jay Parini, ficam em lugar de destaque na minha sala, estão sempre ao alcance das minhas retinas, mãos e coração. 

O preâmbulo é para justificar minha mais recente leitura: "Imola 1994", de Flavio Gomes.

Conheço pessoalmente o Flavio desde 22 de fevereiro de 2005, noite de lançamento de seu primeiro livro, "O Boto do Reno", evento concorrido em uma pizzaria no bairro de Moema, zona sul da capital paulista.

Ele já me conhecia de nome.

Meu irmão mais novo havia trabalhado com ele na outrora confiável rádio "Jovem Pan", e uma vez o Flavio me respondeu com palavras elogiosas a um texto que eu havia escrito e lhe enviado por e-mail, publicado no Portal Terceiro Tempo antes mesmo de eu aportar no site de Milton Neves, uma crônica chamada "Montoya e a bicicleta", quase um divisor de águas na minha vida, não apenas pelo texto mas, principalmente, pelo estímulo que se fazia necessário a mim, mergulhado em um poço do qual eu achava que não sairia mais.

Flavio me deu isso, sem saber da escuridão pela qual eu passava, e eu sempre lhe serei grato. Até escrevi uma vez sobre o quanto isso foi importante para mim. Está aqui.

"Imola 1994" chegou em minhas mãos na última sexta-feira (30).

Contido em um grande envelope branco, meu nome escrito em caligrafia técnica, veio acompanhado de mimos valiosos para mim: o press-release da equipe Simtek após a morte de Roland Ratzenberger em Ímola, duas gravuras (a Ferrari de Gilles Villeneuve de 1981 e a Brabham de Nelson Piquet de 1980) e um delicado marcador de páginas confeccionado em impressora 3D com o traçado antigo do circuito Enzo e Dino Ferrari.

Estou em minha última semana de férias e concluí a leitura neste sábado, 1º de maio, coincidentemente o dia da fatalidade de Ayrton Senna no GP de San Marino de 1994.

Livro bom, entendo, permitam-me a comparação meio esdrúxula, é mais ou menos como aquele almoço de domingo cuidadosamente elaborado pela mãe, que leva horas em sua preparação e que os comensais, ávidos, salivando, devoram em poucos minutos...

E depois, refestelados no sofá da sala, cochilam enquanto aguardam o início do clássico futebolístico na tevê.

Fico até meio constrangido pela velocidade com a qual "consumi" o livro do Flavio, que levou meses para escrevê-lo e uma vida inteira para tê-lo em registros, e eu, no sofá azul da minha sala, "mastigando" compulsivamente...

Talvez eu devesse tê-lo saboreado com parcimônia e solenidade.

Imagino o exercício de memória do Flavio para buscar tudo aquilo que está nas 263 páginas.

E perfeccionista como é, na pesquisa de dados da época, para que tudo ficasse absolutamente encaixado na trama, ou tramas, uma vez que cada capítulo existe como se tivesse vida própria, independente, embora existam enlaces harmoniosos entre vários deles.

Especificamente sobre Ayrton Senna, Flavio o trata de maneira humana e honesta, como era o piloto, sem os desvarios habituais daqueles que o consideram um ser superior, à beira da beatificação.

Meus olhos marejaram com a justa lembrança que ele faz ao nosso professor em comum de astronomia na Escola Municipal de Astrofísica vinculada ao Planetário Municipal do Parque do Ibirapuera, o saudoso Acácio Riberi (1924 - 1998), que era cego, uma das figuras mais doces que conheci.

"Era cego. Mas me fez ver muito mais do que qualquer outro", escreveu Flavio, sobre nosso querido mestre.

Também mencionou outro professor meu, este do curso de Geografia na USP, o gigante baiano Milton Santos (1926 - 2001), do qual tenho lembranças saborosas de um semestre que passou voando no lindo prédio da FFLCH projetado pelo arquiteto Eduardo Corona (1921 - 2001), com suas rampas majestosas e iluminação natural. Corona, que era gaúcho, também projetou o Planetário Municipal do Parque do Ibirapuera, o mesmo em que o professor Acácio Riberi brindou ao Flavio e a mim, em anos diferentes, com aulas maravilhosas em cursos de Astronomia.

Como sugere o prefaciador de "Imola 1994", Mário Magalhães, a obra deveria ser incluída na bibliografia acadêmica dos bons cursos de jornalismo.

É, de fato, uma aula. Muitas aulas, um curso inteiro de comprometimento com o ofício.

Ainda no prefácio, Mário Magalhães atesta que "depois da largada, não dá para parar  a leitura, bem entendido. O pit stop que espere outra hora", diz.

Concordo integralmente.

Eu, pelo menos, a exemplo do que aconteceu com "Vinhas da Ira", não consegui parar até receber a bandeira quadriculada, tremulada na página 263...

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