O piloto que merecia ter corrido pela Ferrari. Foto: Reprodução

O piloto que merecia ter corrido pela Ferrari. Foto: Reprodução

Vittorio Brambilla queria ter sido piloto da Ferrari.

Ele era italiano, morava no quintal de Monza e passou boa parte de sua juventude ouvindo os roncos daqueles motores V12 da equipe de Maranello, que enchiam sua alma de esperança.

Começou na F1 aos 45 do segundo tempo, aos 36 anos.

Disputou 74 corridas e venceu apenas uma, o tumultuado Grande Prêmio da Áustria de 1975, debaixo de um aguaceiro dos diabos, a bordo de sua bela March laranja. 

Imperativamente, digo: não existe nenhuma cor mais linda que a laranja.

No dia de sua vitória, tal qual Quixote, esfuziante, como se tivesse conseguido espetar um dragão disfarçado de moinho de vento, acabou batendo seu carro em um guard-rail logo após receber a bandeira quadriculada. 

A primeira. A única. 

Por essa e outras ganhou fama de destruidor de carros, mas, de fato, o que acontecia, é que ele sempre queria ser mais rápido do que o seu equipamento permitia; primeiro a March, depois a Surtees e, por fim, a Alfa Romeo.

Aliás, na Alfa Romeo, ele viveu a maior proximidade com a Ferrari, pelas históricas e concretas ligações entre as duas empresas.

Foi também pela Alfa, que em Monza, fez sua última prova pela Fórmula 1, em 1980.

Vittorio foi tocar sua modesta oficina mecânica, colada na pista de Monza, aquela em que ele mais queria ter vencido uma corrida de Fórmula 1.

Continuou ouvindo os motores, de longe, até o dia em que seu coração, outrora cheio de sonhos, rendeu-se em um infarto fulminante, aos 63 anos.

A melhor morte.

Na oficina, pendurada em uma das paredes, ficou o bico quebrado de sua March laranja, o símbolo de sua maior conquista.

Seus carros foram verdadeiros pangarés, tão lerdos quanto o Rocinante de Quixote.

Tão errantes quanto o próprio Cavaleiro da Triste Figura.

Faltou ao sonhador Brambilla a companhia de um Sancho Pança.

Alguém para lhe fazer acordar.

Brambilla e o bico de sua March, em sua oficina, em Monza. Foto: Wagner Gonzalez

 

 A maior vitória de Vittorio. A única. O GP da Áustria, em Österreichring, disputado em 17 de agosto de 1975, logo depois de receber a bandeira quadriculada e bater a frente de sua March no guard-rail. Foto: Reprodução

 

A March em plena forma. Laranja, bela. Lindona. Foto: Reprodução

 

VÍDEO COM O MOMENTO DA VITÓRIA DE VITTORIO BRAMBILLA NO GP DA ÚASTRIA DE 1975 E SUA BATIDA NO GUARD-RAIL

ABAIXO, VÍDEO EM TRIBUTO A BRAMBILLA, "IL SOGNO DI VITTORIO BRAMBILLA

ABAIXO, HUMBERTO GESSINGER INTERPRETANDO "DOM QUIXOTE", MÚSICA QUE ME INSPIROU PARA ESTA CRÔNICA


   

 

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