Felipe Drugovich durante teste pela Ganassi. Foto: Instagram de Felipe Drugovich

Felipe Drugovich durante teste pela Ganassi. Foto: Instagram de Felipe Drugovich

Excetuando os nativos norte-americanos, e talvez os canadenses, a Indy Car (chamada erroneamente no Brasil de Fórmula Indy), continua sendo um "plano B ou C" para a maior parte dos pilotos do "resto do mundo", aqueles que se formaram em monopostos na Europa, sobretudo.

A Indy, quando era chamada de CART, nos anos 80 e 90, chegou a fazer cócegas na Fórmula 1. 

Apenas cócegas.

Tomando por base a temporada de 1989, aquela em que Emerson Fittipaldi conquistou seu único título por lá, o grid era bem sortido, parecia um saco das saudosas balas Soft.

Que saudade das amarelinhas...

Emerson ganhou o campeonato a bordo de um carro da Penske (que fabricava seu próprio chassi), empurrado por um motor Chevrolet.

Mas a March e a Lola também disponibilizavam chassis naquela temporada.

Hoje, apenas a Dallara é responsável por esta tarefa.

Mas em termos de motores, a diversidade era ainda maior naquele 1989.

Chevrolet, Judd, Cosworth, Porsche, Buick e Alfa Romeo...

Hoje, na Indy, apenas Honda e Chevrolet.

A Goodyear era a única fornecedora de pneus.

Hoje também há apenas uma fornecedora, a Firestone.

O problema daquela Indy da época de Emerson Fittipaldi, é que os "forasteiros" que por lá chegavam, eram pilotos que já haviam esgotado seu tempo pela Fórmula 1.

Emerson foi um caso clássico.

Mas, também, Mario Andretti, Nigel Mansell, Christian Fittipaldi, Eddie Cheever, Mauricio Gugelmin, Raul Boesel, Christian Danner, Stefan Johanson, Bertand Gachot, Andrea Montermini, Olivier Grouillard, Roberto Moreno, Teo Fabi...

Sem contar a fugaz e desastrosa (literalmente) participação de Nelson Piquet.

E, mais recentemente, outros nomes, como Rubens Barrichello, Pietro Fittipaldi, Marcus Ericson, Romain Grosjean e Takuma Sato, apenas para citar alguns.

Sim, houve uma rota contrária, bem feita por sinal, por Jacques Villeneuve, que deixou a Indy e foi campeão na Fórmula 1.

A Fórmula 1 continua - e continuará sendo -, como encontrar o Cupom Dourado da Wonka, aquele que o pequeno e querido Charlie Bucket ganhou depois de encontrar a moeda no bueiro e comprar sua barra de chocolate.

E como era um ser humano infinitamente melhor que seus pares, foi presenteado com a fábrica do Sr. Willie Wonka ao término da jornada.

Fica a dica: leiam o livro de Road Dahl e vejam a primeira versão do filme, a de 1971, infinitamente melhor que a segunda, estrelada por Johnny Depp.

Voltando à Indy...

Não há mal nenhum em ser "plano B" ou "C".

E a Fórmula E e o WEC também entram neste abecedário.

A Fórmula 1, que nos anos 70 e 80 tinha 26 carros no grid e mais uns oito ou dez tentando passar na pré-classificação, hoje é um clube exclusivo.

Costumo dizer que é mais fácil ser astronauta, dar umas voltinhas pelo espaço, como fez um lunático brasileiro, do que guiar um F1 por um único GP na vida.

O brasileiro Caio Collet, que figurou na Academia de Jovens Pilotos da Alpine, já se convenceu que os Estados Unidos é o melhor caminho, tanto que fez um ano na Indy NXT e em 2025 seguirá por lá, pensando, talvez, na Indy para 2026.

Até mesmo os jovens pilotos que estão andando muito bem na Indy, se pudessem escolher, migrariam sem pestanejar para a F1.

O que me levou a escrever isso tudo?

A expressão de desalento do paranaense Felipe Drugovich em um clique que foi feito durante seu teste em Barber, com um carro da Indy, da Ganassi.

A Ganassi não tem vaga para ele. Já escolheu seus três pilotos para a temporada de 2025.

Claro, pode surgir um lugar em um time de segundo ou terceiro escalão.

Bom piloto que é, mas ao que tudo indica teve seu tempo por uma chance na Fórmula 1 esgotado, andou melhor que o titular, ainda que tenha estranhado o espartano monoposto, que sequer tem direção assistida (nem elétrica, nem hidráulica).

Um carro que passa dos 300 km/h e anda em ovais com médias insanas, não ter um volante mais "leve" é um desserviço.

Um descaso.

É mais ou menos como ter um celular sem conexão com a internet...

Não chegar à Fórmula 1 para um piloto que subiu os degraus em busca disso certamente é desanimador.

Mas não é o fim do mundo.

Porém, para quem esteve por perto e não conseguiu, de fato, é uma frustração que servirá de companhia pelo resto da vida.

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