Charlie Bucket encontrou seu cupom dourado. Foto: Reprodução

Charlie Bucket encontrou seu cupom dourado. Foto: Reprodução

Alguns filmes marcam para sempre.

Nem sou um fanático por cinema, confesso.

Claro, eu poderia me lembrar de "Guerra nas Estrelas" no saudoso Cine Yara, em Praia Grande, depois transformado em sede de uma igreja evangélica, a exemplo do que aconteceu com a maior parte das salas cinematográficas do litoral, do interior e dos bairros das grandes cidades brasileiras.

Por que Guerra nas Estrelas?

Porque foi ali, naquela sala escura com poltronas vermelhas de courvin e plafons em forma de estrelas do mar, conchas e cavalos marinhos espalhados pelas paredes, que segurei pela primeira vez na mão daquela que foi, de fato, minha primeira namorada, meu primeiro amor, menina que tinha apartamento de veraneio no mesmo prédio que o meu, na esquina da Rua Bahia com a Duque de Caxias.

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade em seu poema "Consolo na Praia", mais do que apropriado para este amor infantil (eu tinha 12 anos), justamente no litoral, "O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua..."

Sim, aquele primeiro amor passou, o segundo também. E tantos outros.

Porém, jamais me esqueci de qualquer um deles, e o coração continuou, batendo e buscando, ainda que alguns desses amores tenham sido verdadeiras ciladas.

Mas, tirando pelo suor das minhas mãos (e das mãos dela) naquela noite de verão de 1978 na sala do Cine Yara, "Guerra nas Estrelas" passa longe de estar na minha lista de películas favoritas.

Não sei precisar o ano, pois não assisti no cinema, mas em uma deliciosa global "Sessão da Tarde", o filme da minha vida, aquele que se eu tivesse que levar para uma ilha e passar os últimos dias de vida, é "A Fantástica Fábrica de Chocolate".

Sim, você deve ter visto.

Se não assistiu a primeira versão, de 1971, mas apenas a segunda, de 2005, com Johnny Depp, recomendo buscar a original.

Há também o livro, que tenho. Li e reli.

É um daqueles casos raros em que a literatura perde feio para o cinema.

O filme ganha de goleada da história escrita por Roald Dahl.

O pequeno Charlie Bucket é, provavelmente, a criança mais doce que pisou na face da Terra.

Tão doce quanto os confeitos produzidos na fábrica do Sr. Willy Wonka, homem excêntrico que um dia fez a mais genial ação de marketing da história, ao colocar cinco cupons dourados em suas barras de chocolate, um passaporte para aqueles que as encontrassem pudessem visitar, uma única vez, sua enigmática empresa, da qual pouco se sabia.

Charlie, que entregava jornais nas cercanias do bairro onde morava em uma precária casa com a mãe e os quatro avós, achou uma moeda em um bueiro e, com ela, entrou em uma confeitaria absolutamente linda e, com o troco de um chocolate que devorou em segundos, comprou sua barra, onde o Destino (sim, com "D" maiúsculo), o presenteou com o cobiçado bilhete.

Encurtando a história: Charlie, no final, ganhou a fábrica.

O Sr. Wonka não tinha herdeiros e precisava de alguém de alma pura, tão pura quanto o rio de chocolate que abastecia sua fábrica, para que pudesse tocar aquele negócio quando ele não mais estivesse por aqui.

Charlie era essa criança de alma pura, um contraponto absoluto em relação às outras quatro que estiveram com ele naquela aventura. Meninos e meninas que escancaravam em suas personalidades vários dos sete pecados capitais.

A fábrica de Willy Wonka era um mistério. 

Pouco, ou quase nada, era conhecido sobre os chocolates ali produzidos.

Assim, foi um privilégio ímpar conhecer aquele lugar, que se revelou mágico tão logo o próprio dono conduziu as crianças e seus respectivos acompanhantes ao seu interior.

A fábrica da Ferrari, se tivesse que ser comparada à alguma do mundo ficcional, teria na empresa de Willy Wonka o seu espelho mais cristalino.

Não pelo mistério, mas pela mística.

Nenhum carro no mundo conseguirá, em tempo algum, tirar da "Fantástica Fábrica de Maranello", o status de produzir as mais belas máquinas de quatro rodas do mundo.

A Porsche pode ralar à vontade e a Lamborghini estrebuchar desesperadamente...

Esqueçam.

Mal comparando, é mais ou menos como acontece no ramo alimentício, com a Hellmann´s.

As outras até tentam, mas só ela é a verdadeira maionese. Slogan genial, diga-se.

A Ferrai não tem concorrentes para aquilo que se propõe.

Por isso, e bem por isso, deveria se resguardar mais.

A fábrica, por exemplo, virou uma espécie de Disney, muito mais acessível do que deveria ser.

Exceção feita a quem deva mesmo conhecê-la, quem é da área, como por exemplo Claudio Carsughi, que já a visitou (merecidamente) por duas vezes, e também sua filha Claudia, uma vez, a convite da própria Ferrari, privilégio para pouquíssimos.

Pode parecer bobagem, mas essa má fase que a equipe de Fórmula 1 está vivendo, tem muito a ver com isso.

O comendador Enzo Ferrari, se estivesse por aqui, não teria permitido que sua fábrica tivesse tantas portas.

E tão abertas.

A Ferrari deveria ser como a fábrica de Willy Wonka, com seu grande portão de serviço, mas apenas uma pequena porta, de folha única, para que alguns poucos felizardos pudessem conhecê-la.

Ciceroneados por seu dono.

O problema, talvez, resida justamente aí...

A Ferrari não tem mais um único dono.

Faz tempo que perdeu seu "Willy Wonka".

ABAIXO, CENA DE "A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE", DE 1971, QUANDO CHARLIE BUCKET ENCONTRA A MOEDA E COMPRA SUA BARRA DE CHOCOLATE PREMIADA

Charlie Bucket foi interpretado pelo norte-americano Peter Ostrum, hoje com 62 anos. O filme foi gravado em Munique (Alemanha), e Ostrum não atuou mais. Hoje ele é veterinário e mora nos Estados Unidos. Pois é... O menino de alma pura do personagem do filme tornou-se um homem que cuida de animais. Absolutamente apropriado!

 

Prédio do antigo Cine Yara, em Praia Grande. Foto: Reprodução

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