A foto que ilustra essa crônica é especial para mim.
Fiz em 14 de novembro de 2019, em Interlagos.
Era quinta-feira, e o vaivém de mecânicos e pilotos evidenciava-se eletrizante pelo paddock da Fórmula 1, na minha primeira incursão como jornalista em um evento da categoria mais importante do automobilismo.
Só eu sei o que signifcaram aqueles dias para mim — de fã a profissional dessa área —, atravessando um caminho cheio de curvas sinuosas, desfiladeiros e ruas sem saída.
Em que pese meu amor enlutado por uma equipe que não existe mais, a francesa Ligier, impossível olhar para esse túnel vermelho com sua entrada estampando um cavalinho rampante e não sentir um friozinho na barriga...
Já li muito sobre a história de Enzo Ferrari, vi um filme sobre ele e acompanho a saga dos carros escarlates de Maranello desde a primeira temporada da qual me lembro em mais detalhes, a de 1976.
Vi a Ferrari em altos e baixos.
Se eu fosse um piloto, pelo jeito de ser (e não apenas pelo signo igual), acho que eu seria feito da mesma matéria-prima do canceriano Sebastian Vettel, o sujeito mais legal que eu já desconfiava ser daquele grid, o que confirmei naqueles quatro dias esplendorosos em Interlagos.
No sábado, véspera da corrida, depois da classificação, a área atrás dos boxes estava fervilhando de gente.
Uma aglomeração deliciosa, da qual tenho uma saudade enorme.
Eu havia acabado de fazer uma entrevista exclusiva com o Pietro Fittipaldi na sala reservada da Haas e, ao sair de lá, fiquei zanzando de um lado para o outro, atrás de algum assunto, um fio da meada para uma crônica, como sempre faço.
Absorto, como se estivesse pisando em nuvens, em meio a tanta gente, vendo o Daniel Ricciardo rindo como sempre, posando para fotos da maneira mais simpática possível, senti um leve toque no meu ombro esquerdo.
Eu estava no meio do caminho, ao lado do mini estúdio montado pelo pessoal da Sky Sports, onde o Damon Hill fazia comentários ao vivo.
O toque no meu ombro fora dado justamente por Sebastian Vettel, que gentilmente me pedia licença para se encaminhar à salinha da Ferrari, e em um momento raro, sem estar acompanhado de Britta Roeske, seu braço-direito, a alemã que o acompanha profissionalmente desde os tempos da Red Bull, sempre sorridente como ele.
Vettel, que neste ano correrá pela Aston Martin, deixou a Ferrari no final do ano passado.
Foi para lá após quatro títulos consecutivos pela Red Bull, imaginando que conseguiria abocanhar pelo menos mais um pelo time italiano, o que acabou não conseguindo.
Deixar um time vencedor para buscar um novo desafio sempre vale a pena.
Seria impossível dizer não à Ferrari.
A Ferrari é diferente mesmo. E não só a Ferrari na Fórmula 1.
Experimente a sensação de ter uma Ferrari (no caso uma 458) crescendo no seu retrovisor, como eu tive um dia na Rubem Berta, perto de Congonhas...
Carlos Sainz Jr., por exemplo, deixou a McLaren em ascensão, que neste ano terá motor Mercedes, pois não pôde dizer não ao convite que recebeu da Ferrari, que se arrastou na temporada passada e não promete muito neste ano...
Em uma entrevista ao SporTV, Rubens Barrichello disse que a Ferrari é mesmo diferente.
Indagado se achava que Hamilton deveria considerar a possibilidade de pilotar um dia pelo time, Barrichello, que defendeu a Ferrari entre 2000 e 2005, respondeu dizendo que Hamilton sabe o quanto isso significaria.
Acho que a Ferrari é como um velho amor.
Um amor que nunca morreu, um amor de verdade.
Para lhe dizer não é preciso ter muita coragem.
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