Duas frases, entre muitas que ouvi na infância: "Cavalo arriado só passa uma vez", e que "Maio é o mês das noivas".
A primeira é um alerta, de que não se deve perder uma chance de ouro na vida.
Pode ser uma oferta de trabalho (mesmo estando empregado), e até o "sim" a um pedido de casamento, (mesmo estando casado)...
Sobre maio ser tradicionalmente o "mês das noivas", fui pesquisar...
Não há um total consenso, mas o mais plausível é o fato de que no hemisfério norte, onde surgiu a tradição com maior peso, maio coincida com o início da primavera.
Depois de muito frio, com dias mais ensolarados e o desabrochar das flores, os banhos ficavam mais convidativos e perfumados.
Além disso, era possível celebrar em reuniões públicas, facilitando a logística dos casamentos...
Deixando a seara matrimonial de lado, maio é para mim o mês mais importante do ano em termos de automobilismo.
A explicação é fácil, pelas duas corridas que mais gosto, uma na Fórmula 1 e outra na IndyCar: o GP de Mônaco e as 500 Milhas de Indianápolis.
Ambas, em muitas edições, tiveram resultados surpreendentes e emocionantes.
Para não me alongar, citarei uma de cada.
Em 1996, o francês Olivier Panis triunfou com a também francesa Ligier, que amargava um jejum de vitórias desde o GP do Canadá de 1981, com o igualmente francês Jacques Laffite.
A Ligier sempre foi, até hoje é, a minha equipe favorita na Fórmula 1, mesmo que extinta.
Não é pelo fato de algo não existir mais que não possamos mais amar...
Amo os chocolates da Sönksen até hoje, especialmente o "Urso Branco*", assim como o desodorante Italian Pine, marcas que não mais existem...
Tenho algumas miniaturas da Ligier. A maior, escala 1/12, da JS 11 do Jacques Laffite que montei, um kit da Revell, uma outra, a JS37 do Thierry Boutsen, que ganhei da minha saudosa Márcia e a JS21 do Raul Boesel, que comprei em uma banca de jornal mais recentemente.
O GP de Mônaco de 1996, vencido por Olivier Panis com sua Ligier Mugen-Honda, foi caótico e emocionante.
Choveu, muita gente graúda ficou pelo caminho, escorregando e batendo nos guard-rails do traçado do Principado, como Michael Schumacher e Mika Hakkinen. E Damon Hill foi lamentavelmente traído pelo forte motor Renault. Justamente ele, que buscava vencer no circuito onde seu pai, Graham Hill, com cinco conquistas, somente foi superado por Ayrton Senna.
A dramaticidade da corrida pode ser constatada pelo número de carros que recebeu a bandeira quadriculada: apenas três...
Panis, que largou em 14º, David Couthard (McLaren) e Johnny Herbert (Sauber). O quarto colocado, Heinz-Harald Frentzen (Sauber) terminou com uma volta a menos, sequer cruzando a linha de chegada, finalizando a prova no pit-lane...
Festa francesa no sul da França para Panis e minha querida Ligier em 19 de maio de 1996.
A única de Panis na Fórmula 1 e a última das nove da Ligier...
Sobre as 500 Milhas de Indianápolis, corrida mais que centenária, não consigo esquecer a edição de 2011.
O norte-americano JR Hildebrand, assim como Olivier Panis em Mônaco/96, pintava como zebra das maiores, liderando a corrida na última volta, após largar em 12º.
Adotara uma estratégia arriscada ao extremo, conduzindo um dos carros da modesta equipe Panther, retardando ao máximo suas paradas para reabastecimento, único meio que encontrou para derrotar cobras criadas das estirpes de Helio Castroneves, Scott Dixon, Dario Franchitti e Tony Kanaan, entre outros.
Hildebrand tomou a liderança quando restavam sete voltas para a 200ª, última. Assumiu a ponta assim que outra zebra robusta, Bertrand Baguette rumou ao pit para um rápido reabastecimento, pois já estava andando apenas no "cheirinho" do etanol.
Porém, na última curva da última volta, ansioso, escolheu a parte suja da pista para ultrapassar o retardatário Charlie Kimball e bateu no muro com a lateral de seu carro, ainda tendo velocidade para cruzar a linha de chegada, mas em segundo lugar...
Dan Wheldon, que viria a morrer cinco meses depois na etapa disputada no oval de Las Vegas, acabou vencendo, liderando apenas os metros finais das 500 Milhas de Indianápolis.
JR Hildebrand, em sua estreia nas 500 Milhas de Indianápolis, amargou o segundo lugar mais doloroso de todos os tempos na tradicional prova...
Chorou ao deixar o carro, à beira da pista.
Olivier Panis, por sua vez, 15 anos antes, aproveitou sua mais clara chance de vitória na Fórmula 1, a única, conseguindo vencer o GP de Mônaco de 1996.
Hildebrand desperdiçou o "cavalo arriado" que passou por ele...
Há, porém, uma esperança, pois Hildebrand segue na ativa e vai disputar as 500 Milhas de Indianápolis deste ano, no próximo dia 30 de maio.
Minha torcida sempre será por ele, para que pulverize o dito popular de que "cavalo arriado só passa uma vez"...
Quem sabe, neste mês de maio, Hildebrand consiga se casar com a bela Indianápolis, após deixá-la no altar...
* "Urso Branco" era o chocolate mais vendido da Sönksen, extinta fábrica de chocolates que rivalizava com a Kopenhagen nos anos 70. A Sönksen ficava no bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo, próxima de onde hoje está o Centro Cultural São Paulo. A título de curiosidade, há um chocolate que "lembra" razoavelmente o "Urso Branco": é o "Opereta", da Garoto, hoje disponível como bombom e também em tabletes.
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