Nico Hulkenberg na noite de premiação do Capacete de Ouro, em 2018. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Nico Hulkenberg na noite de premiação do Capacete de Ouro, em 2018. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Quando estudei Geografia na USP, fiz várias matérias em outros departamentos.

Biogeografia na Biologia.

Geologia e Mineralogia na Geologia.

E Estatística, dois semestres, na Matemática.

Fuji como vampiro do crucifixo desta maldita matéria com a qual convivi intensamente durante o Colegial.

Fiz a bobagem de, no 2º ano (o 1º era básico para todos), optar pelo curso de Exatas, achando que aprenderia matemática de uma vez por todas nos dois derradeiros anos do segundo grau.

Como as matérias de Humanas eu "tirava de letra", meu raciocínio tinha lá a sua lógica...

O problema é que eu tinha Matemática e Matemática Aplicada, Física e Física Aplicada, Química e Química Aplicada e Desenho Técnico.

Pela ordem, com a Mércia, o Nilton, a Flora e a Satiko.

Quase nunca via meus professores de Língua Portuguesa, Geografia e História, respectivamente o Prado, a Salete e a Ivone.

Assim, só havia duas saídas para que eu não fosse reprovado, experiência pela qual eu não havia passado nem de longe em nenhum ano estudantil.

E essas duas saídas eram: colar e/ou contar com a complacência dos professores.

Confesso, colei.

Descaradamente, nas provas de Exatas.

Na época a minha miopia não tinha avançado tanto e eu usava óculos, ao invés das lentes de contato atuais.

Por isso, mesmo distante, eu ficava de olho na menina de blusa de nylon lilás, a mais inteligente da classe.

Nunca a perdi de vista, afinal ela era (sempre foi), a menina mais bonita.

Não apenas da sala do 3ºB do Gonçalves Dias, mas de todo o Gonçalves Dias, da Rua Água Turva inteirinha, da Vila Gustavo, da Zona Norte, da Capital, do Estado, do País e do mundo.

Ela não sabia que eu olhava para ela.

E muito menos que a levava todos os dias para casa em meu coração, depois das aulas.

E, como eu era discreto, também não percebia que eu, malandramente, olhava para o que ela escrevia nas provas.

Sorte que sua letra era tão linda quanto ela.

Números bem feitos, contornos suaves.

Dava para enxergar direitinho as equações do 2º Grau e os catetos opostos sobre as hipotenusas...

E também os senos e cossenos, afinal eu precisava encontrar um meio de sair pela tangente...

Ela me salvou, mesmo sem saber.

Sempre salvou.

Quando terminei o Colegial, e a perdi das minhas retinas, toquei minha vida do jeito que deu.

Acabei por passar na USP, e quando fui buscar a papelada no Gonçalves Dias para fazer minha matrícula, encontrei a Mércia, minha professora de matemática, que estava na secretaria.

Como eu era um zero à esquerda em sua matéria, ela se espantou quando soube da minha aprovação, mas me parabenizou.

A cada aula de Estatística na USP eu lembrava da Mércia e também da menina da blusa de nylon lilás, que agora não estaria lá, para, involuntariamente me ajudar.

É óbvio que eu não lembrava dela por causa do meu desespero com os números...

Então, precisei, desta vez, contar com a complacência dos professores.

Na verdade eles foram complacentes com todos nós da Geografia, pois éramos quase todos péssimos em matemática...

Fui aprovado sem sustos em Estatística I e II.

Estou falando tudo isso, que aliás é o mais importante, mas preciso fazer esta coluna ornar minimamente com automobilismo...

Então, vamos lá...

Hoje, pela manhã, fiquei sabendo que Lance Stroll não poderia correr o GP de Eifel, na Alemanha. 

O jovem canadense da Racing Point teve um mal-estar e chamaram para o seu lugar o alemão Nico Hulkenberg, que estava distante 66 quilômetros de Nurburgring, preparando-se para trabalhar como comentarista dos treinos e da corrida por uma emissora de seu país.

Hulkenberg, que fora mandado embora da Renault no final do ano passado, virou um regra três de luxo.

Já subsitituiu Sergio Pérez em duas provas na Racing Point nesta temporada, quando o mexicano testou positivamente para o novo coronavírus.

Como precisava chegar "a toque de caixa" ao autódromo, fazer o teste para covid-19 e receber a liberação, sequer participou do treino livre e foi direto para a classificação.

Na correria, Hulkenberg nem encontrou seu capacete atual, e precisou pegar um "velho", da época da Renault.

A cor do capacete de Hulkenberg?

Puxa, se fosse lilás, seria perfeito, casaria com toda a minha história!

Mas seu capacete é preto...

Porém, lembrei de uma foto que fiz dele em 2018, que ilustra a crônica.

O fundo do palco onde ele subiu para ser homenageado no "Capacete de Ouro", é em um tom bem parecido com o da blusa de nylon da menina que sempre me salvou...

Se antes ela me salvava dos números, hoje salvou minha croniquinha, o que mais gosto de fazer.

Boa sorte, Hulkenberg!

 

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