Me poupei de dissabores e não mergulhei a fundo nas redes sociais após o anúncio da Aston Martin, dando conta de que o titular Lance Stroll disputaria o GP do Bahrein de Fórmula 1, etapa de abertura do campeonato.
É que tenho certa dificuldade em entender o pachequismo reinante por essas bandas, uma sanha desmedida para que um brasileiro esteja presente no grid da Fórmula 1, a qualquer custo, mesmo que seja por alguma equipe nanica, no fundo do pelotão.
Vale lembrar que já tivemos "brazuca" batendo quando levava o carro para o grid da F1, na volta de instalação...
Nada contra o bom Felipe Drugovich, um dos reservas da Aston Martin, pelo contrário, afinal o campeão da Fórmula 2 no ano passado fez um trabalho bastante louvável na pré-tempoada, no mesmo Bahrein, substituindo o então lesionado Stroll.
Tranquilo em suas declarações, Drugovich não caiu na torcida insana de parte da imprensa verde e amarela, nem dos entusiastas que mantém páginas no Instagram, Twitter e no moribundo Facebook.
Demonstrou serenidade e bom senso.
Inclusive acompanhando Stroll dos boxes.
Aliás, se fosse o contrário, Drugovich titular e conundido, e Stroll reserva, certamente se ouviria comentários do tipo "Drugo é brasileiro e brasileiro não desiste nunca", "guia até com um só braço", e por aí vai...
Claro, Drugovich ainda precisará lidar com o desapontamento de repórteres com os olhos marejados, lamentando sua não estreia na Fórmula 1...
Ao término de seu trabalho na pré-temporada, ao lado de Alonso, se disse preparado para disputar o GP, mas salientando que sua função principal era mesmo ajudar o time, e este, ao que parece, fez um bom carro para 2023, bem melhor que o do ano passado.
Aliás, um carro bom da Aston Martin, não favorece o futuro de Drugovich na equipe.
Explico.
Lance Stroll é um piloto "vitalício", digamos. Filho do dono, só não corre até o final da carreira por lá se não quiser.
Como é mediano, o canadense não deve ser cobiçado por nenhuma outra equipe.
Fernando Alonso está "babando" para voltar a andar no pelotão da frente, - e se o carro efetivamente for competitivo como está demonstrando ser -, seguirá na Aston Martin em 2024, 2025...
Além disso, não devemos esquecer que o outro reserva da equipe verde, o belga Stoffel Vandoorne, contabiliza 41 largadas na Fórmula 1, fruto de duas temporadas completas pela McLaren, em 2017 e 2018, fora um GP que fez pelo mesmo time em 2016.
Assim, pela lógica, se a Aston Martin precisar emergencialmente substituir um de seus titulares em um futuro próximo, o escolhido deverá ser Vandoorne. E só não foi assim na pré-temporada porque o belga estava comprometido com a Fórmula E.
Drugovich tem uma outra porta entreaberta na categoria, na McLaren, onde também é reserva.
Lá, a parada é um pouco menos indigesta.
Lando Norris deve permanecer no time de Woking por um bom tempo, salvo alguma proposta robusta de um time vencedor.
Tipo a Mercedes, caso Hamilton resolva pendurar o capacete a curto prazo.
Não, o reserva Mick Schumacher não deve voltar a ser titular na categoria.
Mas Oscar Piastri precisará provar que de fato é bom mesmo.
A Fórmula 1 é um tanto cruel (ou realista, como queiram), afinal são apenas 20 vagas, e o fato de Drugovich só ter sido soberano em sua terceira temporada na Fórmula 2, com uma bagagem incomparávelmente mais robusta que seus pares, estabeleceu uma certa dúvida sobre seu real talento.
A seu favor, sem dúvida, a performance consistente na pré-temporada.
É isso que poderá credenciá-lo a um dia ser titular na Fórmula 1.
Do contrário, corre o risco de tornar-se um reserva profissional, como Pietro Fittipaldi.
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