Em 2 de outubro do ano passado, com a temporada da Fórmula 1 em curso, a Honda anunciou sua retirada da categoria.
A Red Bull, impulsionada pelo propulsor da Honda, duelando palmo a palmo com a Mercedes pelo título de pilotos, acabou vencendo o campeonato com Max Verstappen.
O time austríaco até pensou que o caneco do holandês pudesse fazer com que os japoneses reconsiderassem a saída.
Ledo engano.
A decisão já estava tomada e, "sair por cima" talvez tenha sido mesmo a melhor solução para a fabricante nipônica.
Assim, a Red Bull precisaria garantir um fornecedor para 2022, e as opções no mercado eram escassas.
Na verdade, somente uma: a Renault.
Mercedes e Ferrari jamais pensariam em abastecer a rival.
E, no caso da Renault, ex-parceira da Red Bull, fornecedora de motores por 12 temporadas, nos quatro campeonatos consecutivos de Sebastian Vettel, a situação era diferente.
A relação ficou estremecida, porque a "cúpula" da Red Bull resolveu disparar contra a montadora francesa quando as vitórias começaram a rarear.
No popular, cuspiram no prato em que comeram.
Defenestraram uma fabricante de motores que contabiliza respeitabilíssimas 169 vitórias na Fórmula 1 e ocupa o quarto lugar neste ranking, atrás apenas de Ferrari, Mercedes e Ford-Cosworth.
A Red Bull é uma fabricante de energéticos e entrou na Fórmula 1 primeiro como patrocinadora (da Sauber) até um dia comprar a Jaguar (ex-Stewart) e se estabelecer como time forte da categoria.
Pegou uma estrutura (muito boa) pronta, mas sempre precisando de um fornecedor de motor, claro.
Primeiro a Cosworh, depois a Ferrari, em seguida a Renault e, por último, a Honda.
Fez uma aposta arriscada, montando uma fábrica para seguir com o motor Honda, com uma equipe de engenheiros que pudesse fazer o propulsor se manter bem e, ainda, ser atualizado.
Nas vezes em que uma montadora deixou a categoria e alguma outra empresa assumiu a encrenca, os resultados não se mantiveram tão bons, caos da própria Honda (quando os motores foram adotados pela Mugen) e da Renault (cujos motores passaram a ser desenvolvidos pela Mecachome e rebatizados de Play Life).
A Red Bull anda sofrendo neste começo de temporada com seu motor, que é um Honda, mas que passou a receber a alcunha de Red Bull Powertrains.
Pode ter sido uma infeliz coincidência, mas desconfio que não.
Construir um carro, com um projetista espetacular (caso de Adrian Newey) é difícil, mas é bem mais fácil do que lidar com um motor, ainda que ele esteja "pronto".
Desconfio que a Red Bull, tão capacitada em fazer carros muito bons, tenha dado um passo maior que a perna.
Esta aventura de "construtora de motor" provavelmente terá vida curta.
Ela já deve estar de olho na entrada do grupo Volkswagen na F1, via Audi e ou Porsche.
Mas neste momento de debandada oficial da Honda, deveria ter sido humilde, pedido desculpas à Renault e não ter embarcado nesta aventura.
Claro, seria preciso que os franceses aceitassem o arrependimento oportunista da fabricante de bebidas.
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