Não, Mick Schumacher não demonstra estar ansioso para estrear na Fórmula 1.
O filho do heptacampeão Michael Schumacher parece navegar em mar calmo, com brisa leve.
Não é, nem de longe, aquilo que demonstrava ser o pai.
Um errante em mar revolto em meio a um vendaval.
Mick esteve perto de testar em um fim de semana oficial na F1 pela primeira vez em Nurburgring, no GP de Eifel, mas o treino 1 foi cancelado (assim como o 2), pois os helicópteros de resgate não podiam levantar voo em função do mau tempo, condição sine qua non para os padrões da FIA.
Mas, ele ainda "bateu na trave".
Poderia ter guiado no mesmo fim de semana no último treino livre, na classificação e na corrida, isso porque o titular da Alfa Romeo, o italiano Antonio Giovinazzi, teve seu resultado inconclusivo no teste para covid-19.
Se Giovinazzi estivesse fora do páreo, Mick assumiria o carro branco e vermelho do time ítalo-suíço.
Mas o italiano passou por nova testagem e estava ok, negativado.
Mick, germanicamente, parece ter entendido que ainda não era a hora de estrear na principal categoria do automobilismo.
O pai, Michael Schumacher estreou na F1 por um "acaso".
O belga Betrand Gachot, então titular da Jordan em 1991, envolveu-se em uma confusão com um motorista de táxi em Londres e foi preso.
A equipe de Eddie Jordan precisava de alguém para ocupar o cockpit do carro 32 em Spa-Francorchamps.
E também precisava de dinheiro.
Michael Schumacher, então vinculado à Mercedes, mas como piloto de protótipos, ganhou um aporte financeiro da marca da estrela de três pontas e comprou sua vaga na Jordan para aquele GP, na Bélgica.
Sem nunca ter guiado em Spa-Francorchamps, sem jamais ter contornado de pé cravado a esguia e sensual Eau Rouge, Michael conseguiu um impressionante sétimo lugar no grid, superando o outro titular da equipe, o já veterano Andrea de Cesaris.
Antes de completar um quilômetro, porém, seu carro quebrou. A embreagem moeu.
Mas o "estrago" já estava feito. Na corrida seguinte ele já estava em outro cockpit, bem mais competitivo, o da Benetton.
Deram o bilhete azul para o brasileiro Roberto Pupo Moreno e Schumacher dividiu os boxes com Nelson Piquet, um tricampeão que já atingira seu auge há alguns anos.
Em pouco tempo, bem pouco, Michael ofuscou Nelson, que entendeu o "recado" e se retirou da F1.
Dali em diante, o sucesso de Schumacher é conhecido.
Voltando ao filho do heptacampeão.
Mick Schumacher é muito jovem.
Se eu fosse escrever um bilhetinho para ele diria para ter paciência.
Se estiver ansioso, acalme-se, Mick.
Entoe um mantra e acenda uma vela aromática com essência de lavanda em um difusor.
Diminua a luz da sala, coloque uma música suave.
Seu dia vai chegar.
A vida, caro Mick, dá muitas voltas.
É uma longa viagem, referência àquela velha canção do Roupa Nova.
Sim, você devia estar com seu coração pulsando como nunca para fazer aquilo que seu pai fez por tanto tempo, e tão bem.
Sabe, Mick, às vezes colocamos todo o nosso sentimento em um bilhete.
E no meio da madrugada levamos este bilhete, carregado de esperança, para um portão.
E nada acontece.
E quando vamos ver, já se passou um tempão...
E é preciso que um vendaval leve um poema diretamente para uma varanda.
Com um afago no cabelo e um beijo na testa, que abranda.
Como o de Attilio de Giovanni na sua amada Vittoria, em "O Tigre e a Neve".
Que vale pela vida inteira.
ABAIXO, CLIPE DE "A VIAGEM", CANÇÃO DO GRUPO ROUPA NOVA, COM CENAS DA NOVELA "A VIAGEM", DE 1994 (REDE GLOBO)
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