Ferrari está tão mal que perde até no 'tapetão'. Por@marcosjuniormicheletti

Carlos Sainz durante o GP da Austrália deste ano, em Melbourne. Foto: Scuderia Ferrari

O ano, 1985.

Eu fazia cursinho no Anglo Vestibulares da Rua Tamandaré, e a John Player Special, marca de cigarros que estava em alta no Brasil por conta da contratação de Senna pela Lotus, então patrocinada pela empresa fumacenta, não media esforços para fazer publicidade.

Lembro de ter chegado no saguão, antes da passagem fiscalizada em que um funcionário verificava se estávamos com nossas mensalidades pagas, e um batalhão de meninas vestidas de preto e dourado distribuíam folhetos e maços de cigarros para os alunos e alunas.

Outros tempos, fora do politicamente e saudavelmente corretos...

As meninas também distribuíram cupons para um sorteio, que premiaria alguns sortudos com ingressos para a abertura do Mundial de Fórmula 1 daquele ano, em Jacarepeguá.

Somente os ingressos, diga-se.

Nada de transporte ou hospedagem.

Não ganhei, mas meu amigo Alexandre Pinheiro foi contemplado e, generoso, sabendo da minha paixão por Fórmula 1, me deu o ingresso para os três dias do evento.

Acertei um pacote turístico com direito a ônibus até o Rio, traslados por lá e volta para São Paulo, além de hospedagem e refeições.

Mordomia que rendeu até um jantar caprichado no imponente Hotel Glória em uma das noites cariocas.

O hotel em que ficamos, na Barra da Tijuca, tinha sido um motel, que fora adaptado para servir de hotel e atendia pelo sensual nome de "La Cache", com um instigante letreiro piscante de neon magenta.

Embaixo do nome, arrematava com uma frase que tentava ser convincente: "Apartamentos confortáveis".

Um bom ar-condicionado excomungou o calor senegalês daquele quarto que era equipado com cama redonda e espelho no teto...

Som FM com controles embutidos na cabeceira da alcova.

Teria sido bom se a menina do Colegial estivesse ali comigo...

Entre os malucos por Fórmula 1 que estavam comigo, todos até então desconhecidos, havia um sujeito divertido, com um bigode ao estilo do Nigel Mansell que parecia um funcionário da Ferrari.

Vestia camisas vermelhas com o Cavallino Rampante, boné igualmente estampado com a marca icônica do time de Maranello e, nas conversas, só elogios à equipe italiana e seus pilotos, no caso, Michele Alboreto e René Arnoux.

Mas a Ferrari amargava um jejum de títulos desde 1979, quando o sul-africano Jody Scheckter levantou o caneco.

Por isso, no meio de uma turma de tiradores de sarro, o fã da Ferrari ganhou o apelido de "Bella Macchina".

— E aí, cadê a Bella Macchinna?, dizíamos para ele, porque Senna surgia como um dos favoritos e a McLaren era forte demais com Prost e Lauda.

Esse apelido "Bella Macchina" era sugestivo, e acabei adotando-o para o meu canal de automobilismo no Portal Terceiro Tempo mais de 20 anos depois, vejam só...

E, apesar de tudo, não é que a Ferrari, que andava meio mal das pernas, com quebras constantes em seu V6 turbo, acabou fazendo bonito naquele final de semana do GP do Brasil de 1985?

Alboreto cravou a pole, terminou no pódio, em terceiro, e Arnoux foi o quarto. Prost foi o vencedor, Senna e Piquet abandonaram.

Nesta semana, a "Bella Macchina" da Ferrari levou uma negativa da FIA, tendo seu pedido de revisão da punição a Carlos Sainz desconsiderado, por batida em Alonso no GP da Austrália.

Relembrei dessa história marcante para mim apenas para dizer que hoje em dia a Ferrari não está conseguindo ganhar nem no "tapetão".

Até aquela Ferrari bem mais ou menos de 1985 passava menos vexame que a atual.

Esta de 2023 não anda bem nas pistas e nem nos bastidores...