Em uma Libertadores perdida no tempo, um time argentino precisava fazer três gols nos últimos dez minutos para se classificar. E fez! Fiquei impressionado com a entrega, a volúpia, qualidades raras nos times brasileiros, que vislumbrei nessa animadora vitória sobre o Corinthians.
Imaginava que um time que se aproximasse da perfeição teria a habilidade e o atrevimento brasileiro somados à garra e à determinação argentina. Recuso-me a análises precipitadas, mas se o Santos mantiver essa alma guerreira o medo do descenso será coisa do passado.
Olho a escalação do aplicado técnico Juan Pablo Vojvoda e constato a significativa presença argentina no Santos:
Gonzalo Escobar, Adonis Frias, Álvaro Barreal, Benjamin Rollheiser e Lautaro Díaz estiveram em ação no clássico.
É evidente que apenas a nacionalidade não garante boas atuações, mas ao menos dos argentinos sempre se pode esperar dedicação do primeiro ao último minuto, e quase sempre essa disposição coletiva já basta para produzir milagres.
Mais do que o ataque, o prazer de se entregar à marcação do adversário, bloqueando-lhe os espaços, é a mais importante característica das grandes equipes do futebol.
Como comprovou um trabalho do professor Saul Galegos, da USP, times de futebol que jogam em casa correm mais, embalados por suas torcidas, e ao dominarem os espaços do campo conquistam também melhores resultados.
Em 2002, após 18 anos sem títulos, aquele time de Meninos comandados pelo técnico Émerson Leão começou a mudar o destino após duas vitórias sobre o favorito Corinthians. Quem sabe não estamos vendo a história se repetir.
Sim, naquela equipe que seria duas vezes campeã brasileira e vice da Libertadores havia o talento criativo de Robinho, Diego, Elano, mas também a abnegação de Paulo Almeida, Renato, Léo, Gustavo Henrique. Enfim, um time que não jogava só com a bola no pé.
Confesso que por muitos anos, influenciado pelas idiossincrasias do futebol, eu olhava os argentinos como rivais. Hoje tenho motivos para mais do que admirá-los. E esses motivos têm nome: meus netinhos amados Pedro e Antonio, meu genro Martin, além de Jorge, Gladys e Normita, uma família realmente notável.
Notável como esperamos que o Santos se torne daqui para a frente, unindo a sua ancestral irreverência ao espírito guerreiro argentino. O desafio está lançado. Vamos!!!