Em um prédio, números capazes de transformações pessoais. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Em um prédio, números capazes de transformações pessoais. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Nunca fui muito amigo dos números, sobretudo no calvário do colegial, em que fiz a tremenda burrada de, mesmo sendo afeito às humanidades, ter optado por estudar na turma de exatas, porque diziam que o curso era mais forte.

Só não fui reprovado nos dois últimos anos do curso porque tive colegas e professores generosos. Os primeiros, por valiosas contribuições durante provas escabrosas; os segundos, por arredondamentos de notas absolutamente inimagináveis.

O preâmbulo é para justificar o título da croniquinha, só de números, meus algozes de outrora, que preciso explicar.

807 é o número do prédio onde trabalho, na Paulista. 2210, o número do conjunto, a redação do Portal Terceiro Tempo. E, por fim, 802 o local onde funcionou até recentemente, a redação do "Grande Prêmio", fundamental referência que tive antes de chegar aqui no site de Milton Neves. Referência atual, ainda, diga-se.

Em 2009 (mais um número!), aportei por aqui, sob olhares de desconfiança, a convite do meu irmão Rogério Micheletti, tão generoso quanto meus colegas e professores do colegial.

Sem experiência em uma redação, mas com uma trajetória de amor sincero e conteúdo honesto no automobilismo - e também ao futebol -, aos poucos fui ganhando a confiança da pessoa mais importante da redação: Milton Neves.

Ao longo destes sete anos de trabalho, onde inicialmente fui responsável por mais de 80% das migrações da seção "Que Fim Levou?" em uma atualização do site, criei um programa de entrevistas, o "Bella Macchina", que hoje é o "braço" de automobilismo do Portal Terceiro Tempo.

A primeira entrevista que fiz em vídeo, com Bia Figueiredo, foi tensa, eu bem nervoso, mas fluiu. A segunda, com Christian Fittipaldi, um papo delicioso, mais solta.

E tantas outras. A emoção com Bird Clemente e Ingo Hoffmann, as audiências arrebatadoras com as vindas de Roberto Pupo Moreno e Alex Dias Ribeiro, os jovens kartistas, a turma da Stock, do rali, da F3 e tantas outras categorias.

Em 2015 trouxe Claudio Carsughi para ser meu entrevistado.

Milton Neves costuma lembrar da emoção que teve quando viu Pelé pela primeira vez, em um jogo do Santos contra o Comercial em Ribeirão Preto, ocasião em que o Rei, por um rápido instante, trocou olhares com o menino de Muzambinho, junto ao alambrado.

Não posso precisar se a emoção que tive ao lado de Carsughi foi igual a de Milton com Pelé. Sentimentos são difíceis de serem mensurados. Mas, certamente, foi intensa.

Hoje faço "tabelinha" com Claudio em outro programa que criei, o "Notas do Carsughi" e, apesar de estar me acostumando (já estamos na 20ª edição), o frio na barriga ainda é inevitável quando lembro de tantas coisas que li de Claudio na "Quatro Rodas", e ouvi, nos comentários da F1 pela Jovem Pan.

O curioso, mais curioso para mim, é que um episódio de 2001, quando eu já havia praticamente desistido de ser feliz nesta vida, tenha tido um papel tão decisivo para aquilo que faço hoje.

Por e-mail, encaminhei uma crônica ao meu irmão Rogério, à época redator do Portal Terceiro Tempo, sobre a ultrapassagem de Montoya em Schumacher no GP do Brasil de 2001. Chamava-se "Montoya e a bicicleta" o texto onde eu comparava a ultrapassagem do colombiano sobre o alemão ao gol de um jogador do Juventus, Silva, de bicicleta, sobre o Corinthians no Pacaembu.

Meu irmão publicou a crônica no site. Eu, por e-mail, passei o link a Flavio Gomes.

"Quem sabe ele lê, fala alguma coisa", devo ter pensado.

Em poucos minutos Flavio me respondeu, de forma curta e direta:

"Gostei, você leva jeito para escrever", comentou Flavio.

Contei essa história ao Flavio em 2014, em um "Troféu Ford Aceesp". Estávamos na "fila" para o jantar. Flavio, que hoje trabalha com meu irmão Rogério na Fox, ficou com os olhos marejados com o que lhe resumi, assim como eu fiquei, ao lhe dizer que aquelas palavras dele em 2001 me tiraram do fundo de um poço de onde eu jamais achei que sairia.

Rogério, Milton, Carsughi e todos os Neves, Fábio Lucas, Netto Neves e Rafael Neves, foram fundamentais para que eu esteja fazendo isso que tanto amo hoje. Assim como o amigo querido Raul Drewnick, escritor dos mais talentosos, que sempre levantou minha bola.

Mas aquelas poucas palavras do Flavio, quem sabe escritas no conjunto 802 da Paulista, foram salvadoras, redentoras.

Nunca trabalhei no conjunto 802.

Estive lá algumas vezes, visitando Renan do Couto, Evelyn Guimarães, Victor Martins, Flavio Gomes e toda sua afinada trupe.

Mas, ao 802, devo muito do que sou hoje.

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Flavio Gomes, em 8 e junho de 2016,  publicou este texto em seu blog. Está aqui.


     

 

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