Gonçalo Gonçalves, o Gonçalo, ou ainda Gonçalito, morreu no dia 17 de dezembro de 2016, aos 81 anos, em decorrência de insuficiência renal. Com passagens por Portuguesa Santista, São Paulo, Grêmio, Fluminense e Santos, o ex-meia nasceu no dia 8 de novembro de 1935, em São Vicente-SP, e foi casado por duas vezes.
Do primeiro casamento, com Regina (falecida), Gonçalo teve duas filhas: Paula e Sabrina que já é casada e com uma filha, a Bianca (única neta de Gonçalo). Sabrina também é bailarina do teatro municipal do Rio de Janeiro.
Já do segundo casamento, com Marta, Gonçalo teve dois filhos: Mateus e um outro menino que morreu aos 4 anos. Gonçalito teve três irmãos: Francisco, Maria Rosa e Luci, sendo que os dois primeiros foram seus sócios comerciais.
Mesmo aposentado, o ex-jogador praticava algumas atividades físicas como correr diariamente na praia e jogar futebol de areia todo sábado no período da manhã no clube Milionários (tradicional clube onde jogam alguns ex-profissionais).
Gonçalo começou sua carreira no Beija-Flor S.V. (infantil), Grêmio São Luiz (tradicional colégio Santista) e Portuguesa Santista, profissionalizando-se aos 18 anos. Atuou em equipes como: São Paulo, Fluminense e Santos, encerrando a carreira aos 30 anos de idade.
O ex-meia teve durante sua carreira sérias dificuldades de relacionamento com alguns dirigentes de futebol, o que acrescentou em seu currículo muitos casos interessantes para serem contados. Gonçalo também cursou engenharia até o 8º período, e hoje tem uma boutique em Teresópolis e um bar/restaurante em Santos na rua João Bento, nº 15/17 no Centro, onde trabalha das 17 às 24 horas (tel: 3219-2216).
Quando fala sobre a situação atual do Santos F.C., Gonçalo vê a necessidade do lançamento de jovens e a manutenção da comissão técnica para os resultados positivos aparecerem.
No dia 10 de março de 2013, o Portal Terceiro Tempo recebeu de Sergio Roberto Cesário (srcesario@ibest.com.br), o seguinte e-mail:
Olá Milton! Reportando, ao "Que Fim Levou?", sobre o craque Gonçalo (ex-Santista, São Paulo, Fluminense e Santos), li na Revista de Esporte, quando o mesmo já estava no Fluminense, o seguinte: Quando foi para o Rio de Janeiro, face, ao seu temperamento difícil, a lá Almir Pernambucaninho, desafiou aos seus contumazes críticos cariocas, que lhe apontavam como arruaceiro e, que gostava de uns "goles"! O convocou, nas Laranjeiras, em Álvaro Chaves, bairro nobre e aristocrático, ex-sede do palácio de governo. Muito bem! O mesmo pegou uma bola e disse aos profissionais da imprensa: "Subirei literalmente às arquibancadas do estádio, controlando a bola, sem deixá-la cair ao chão!". Não só subiu como desceu as mesmas! Foi por unanimidade, aplaudido pelos profissionais e com o rótulo de um craque de futebol. Após o Flu, retornou a Santos, defendendo às cores do Peixe. Era franzino, mas jogava e muito! À lá Luizinho Trujillo, à lá Rafael ex-Corinthians (meia-esquerda e craque), Amaro, Rafael e Cássio. Após, Dino e Rivelino! São passagens Milton que marcaram àquela época. Como aconteceu ainda na década de 70, com Nelinho, lateral de então do Cruzeiro. Levou ao Mineirão, toda a imprensa mineira e falou-lhes que o seu chute, era mesmo potente, longo e que chutaria a bola para fora das marquises do Mineirão. Dito e feito. Assim, o fez! A TV Globo, inclusive, fez às filmagens e se não o bastasse, a filmou, caindo no entorno do Mineirão, quicando e quicando, quase pegando a um transeunte, que por ali passava. São fatos inusitados e pitorescos. Lembro-me perfeitamente, de ambos, aos casos. Li e assisti com os meus olhos! Pleonasmo!
No dia 1º de janeiro de 2017, o jornal Folha de S.Paulo publicou a história de Gonçalo na coluna "Obituário". Confira:
Mortes: Meia-armador brioso contra o Apartheid
WILLIAN VIEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem visse o pequeno Gonçalito atrás do balcão do bar Paulista, no centro de Santos, a poucos metros do museu Pelé –com seu cabelo branco, voz macia e olhar no horizonte–, não poderia imaginar que seu futebol tivesse ajudado o Brasil, tão negro e desigual, a se posicionar pela primeira vez contra o apartheid na África do Sul.
Era 1959. Após 13 dias de navio, aceito o convite para um tour na África, a Portuguesa Santista ganhava um jogo após o outro. Até que chegaram à Cidade do Cabo e seus três jogadores negros foram impedidos de desembarcar. Os anfitriões exigiam um time só de brancos. Eles se negaram.
Dias depois, saberiam que o próprio presidente Juscelino Kubitschek os proibia de entrar em campo assim: o racismo era "inadmissível". E assim o Brasil assumia a vanguarda mundial na condenação ao apartheid.
Após 15 vitórias em campo –e o ganho simbólico na diplomacia–, a Briosa desembarcou em Santos ovacionada e levou a Fita Azul pela campanha invicta no exterior, maior glória de sua história.
Gonçalito também atraiu atenção. Meia-armador "impossível de marcar", como diz o irmão, Francisco, que "deu até no rodapé do Pelé", jogou por São Paulo (na inauguração do Morumbi, vitoriosa), Fluminense e Santos. Até desistir de tudo aos 29.
"O Flamengo o queria, mas exigiu que não aprontasse mais." Genioso, mandou tudo pelos ares, como fizera com o curso de engenharia e o judô: era faixa-preta.
Acabou no bar do irmão. Passava o dia na praia, a noite no balcão. Morreu aos 81, de falência renal. Deixou quatro filhos, duas netas e um legado driblado pelo tempo –só lembrado no recorte de jornal de 1959 que guardava.