Francisco Rodrigues, o Rodrigues Tatu, ex-ponta-esquerda do Palmeiras nos anos 1950, morreu em São Paulo (SP), no dia 30 de outubro de 1988.
Apelidado de "Tatu" pela semelhança física com o animal, Rodrigues começou a carreira no Ypiranga, em 1942, passou pelo Fluminense do Rio e foi para o Palmeiras.
Ficou no alviverde de 1950 a 1955, onde formou uma inesquecível dupla pelo lado esquerdo com Jair Rosa Pinto, craque que indicou a contratação de Tatu ao Verdão. E pouco antes de chegar a equipe paulista, suas boas atuações lhe renderam a participação na Copa de 1950, aqui no Brasil, e na Copa de 1954, na Suíça.
Ele fez parte do time palmeirense vencedor da Copa Rio de 1951, que era o Mundial de Clubes da época.
O time palmeirense, que empatou em 2 a 2 com a Juventus de Turim na final e levou o caneco, tinha a seguinte formação: Fábio; Salvador e Juvenal; Túlio, Luís Villa e Dema; Lima, Ponce De Leon (depois Canhotinho), Liminha, Jair e Rodrigues. Técnico: Cambom.
Pelo Palmeiras atuou em 232 jogos (135 vitórias, 38 empates, 59 derrotas) e marcou 127 gols. Além da Copa-Rio de 1951, conseguiu os títulos do Rio-São Paulo de 1951 e do Paulistão de 1950.
Ele ainda teve passagem pelo Juventus da Mooca e pelo Botafogo do Rio, onde atuou ao lado de craques como Nilton Santos, Bauer e Didi.
No dia 12 de janeiro de 2007 recebemos de Pedro Luiz Boscato o texto abaixo sobre Rodrigues Tatu:
"Em 1956 o Tatu deixou o Parque Antártica. O Palmeiras perdeu, com aquele esquadrão que tinha, dois títulos seguidos, 1954 e 1955, em 1954 por políticas de Aymoré Moreira (isto me dito pelo saudoso Waldemar Fiúme), em 1955 vinha bem mas após perder para o Santos, num sábado a tarde, no Pacaembu, por 3x1, aí começou a desmantelar. Meio mundo foi embora, Humberto Tozzi foi vendido para o futebol italiano, aquela famosa linha atacante: Liminha, Humberto, Ney, Jair e Rodrigues Tatu foi desfeita.
Em 1957, porém, Tatu retornou ao Parque Antártica e disputou o Campeonato Paulista. Num célebre jogo com o Corinthians, o lateral Múcio foi expulso, meteram a mão no Palmeiras naquela noite no Pacaembu. O Palmeiras era dirigido por Mário Vianna, outro que para armar confusão não custava nada. Nesse jogo, o Palmeiras ficou nos vestiários, no intervalo do primeiro para o segundo tempo, cerca de quase 45 minutos, Mario Vianna não queria que o time retornasse, Mario Vianna e alguns cartolas.
Tatu, no segundo período, foi obrigado a recuar, jogar de lateral, ajudar a defesa, marcando o famoso Professor de Futebol, Cláudio Christóvam de Pinho. Não era fácil marcar o Professor, embora, na ocasião, já tinha uns 37 anos. Após a partida, nos vestiários, um dirigente palmeirense disse: "Ou acabam essas safadezas ou o Parque Antártica vai virar piscinas. O Palmeiras pára com o futebol".
Esse jogo terminou 3 a 1 para o Corinthians.
Nos vestiários corintianos, nas entrevistas após as partidas, o saudoso Rafael Chiarella, outro que jogou aqui no Maria Zélia, que foi lançado pelo saudoso Dante Pietrobon, disse: "Vencemos contra tudo e contra todos". Muitos palmeirenses no pedaço não se conformavam com essa declaração dele.
Miltão, grande abraço, muita saúde, muito sucesso.
Pedro Luiz Boscato - Vila Maria Zélia (a Vila mais linda do mundo - celeiro de grandes craques)"
Fonte de consulta: Almanaque do Palmeiras - Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti
Ainda sobre Rodrigues Tatu, confira o texto de Mário Lopomo, que recebemos no dia 3 de junho de 2007:
"Francisco Rodrigues, também conhecido como Tatu, veio do Rio de janeiro. Chegou ao Palmeiras em 1950, ao lado de Jair Rosa Pinto. Ambos vieram do Fluminense. O Palmeiras tinha uma ala esquerda de fazer inveja a qualquer clube. Jair fazia lançamentos de 40 jardas e tinha um chute potente, apesar de suas canelas finas. Rodrigues também chutava forte e, quando fazia seu chute, curvava-se, o que lhe rendeu o apelido de Tatu. Além do Palmeiras jogava também na seleção paulista e brasileira. Foi o ponta-esquerda da seleção brasileira na Copa de 54, na Suíça. Ganhou muito dinheiro. Além do ordenado, ganhava também o "bicho" pela vitória ou empate. Era pago em dinheiro vivo no vestiário logo após o jogo. Era uma exigência dos jogadores de todos os clubes. Às segundas-feiras Rodrigues era visto na mesa de um bar da Rua da Mooca, contando dinheiro com ajuda de amigos. Tinha também algumas propriedades por ali. Era um boêmio inveterado. Fazia o que praticamente todos faziam. Gastava muito dinheiro com a mulherada. Jogava nos cavalos. Um sábado à tarde, no Pacaembu, foi até o alambrado perguntar a um amigo seu, ali postado a seu pedido, se sua barbada havia ganhado o páreo. As pernas começaram a fraquejar. Naquele ano de 1955, ele já não era mais aquele jogador maravilhoso de anos anteriores. Estava praticamente fora do futebol. Não era qualquer clube que se arriscaria contratá-lo, a não ser por empréstimo com o compromisso de voltar, devido sua fama de boêmio. Ainda tentou de novo jogar pelo Palmeiras em 1957. Mas não tinha mais condição de jogo. Para ter algum ganho foi trabalhar nas indústrias Francisco Matarazzo, como representante comercial. Um dia o encontrei na Avenida São João. Conversei um pouco com ele, que se portou muito educado. Vi que ele estava pouco falante, triste. Já não tinha mais família, estava à mercê da sorte. Os amigos de fastígio viraram-lhe as costas. A doença veio e o caos estava estabelecido. A diabetes o pegou em cheio. Uma perna foi amputada. Tempos depois a outra. Estava sobre os cuidados do INPS. Naquele triste estado. Um dia entrevistado pelo jornal, A Gazeta Esportiva, disse: - "Se tivesse que começar de novo, faria tudo igual. Fui feliz. Fiz tudo o que quis." Não demorou muito veio a morte. Pelo que foi, no futebol, ele morreu praticamente como indigente. Seu filho, que tinha um pouco de semelhança fisionômica, mas fisicamente mais alto e forte, jogava de meia-esquerda no clube do Mé, no Itaim Bibi (São Paulo), onde se situa hoje o ´Parque do Povo´. Um dia fui dizer a ele que tinha conhecido seu pai e que ele era um grande jogador. Percebi uma réstia de vergonha por ser reconhecido como filho do ponta esquerda Rodrigues. Disse em poucas palavras que soube que seu pai tinha sido um bom jogador e só, saindo fora da conversa. Rodrigues veio a falecer em São Paulo, no dia 30 de outubro de 1988. Mário Lopomo"