Javier Castrilli

Ex-árbitro argentino

Por Felipe Alva

Javier Castrilli é um ex-árbitro argentino que nasceu em Buenos Aires, no dia 22 de maio de 1957. O pulso firme, a rigidez e as decisões polêmicas, lhe renderam o apelido de Xerife. Depois de se aventurar na politica, hoje ele é comentarista de arbitragem na Argentina.

No Brasil, Javier Castrilli ficou famoso pela arbitragem polêmica na semifinal do Campeonato Paulista de 1998.


A Portuguesa vencia o Corinthians por 2 a 1 e estava se classificando para a decisão do torneio. Aos 45 minutos do segundo tempo, Fernando Diniz cruzou e zagueiro César, da Lusa, cortou aparentemente com o peito. O árbitro argentino entendeu que o defensor utilizou o braço e marcou o pênalti, para a revolta dos jogadores da Portuguesa. Rincón converteu a cobrança, empatou o jogo que levou o Corinthians à final.


Em seu país, ficou famoso por vários erros contra o Boca Júniors. Uma das arbitragens mais polêmicas de Castrilli, aconteceu em um jogo entre Vélez Sarsfield e Boca Júniors, em 1996.

O Boca vencia o Vélez fora de casa por 1 a 0, gol de Cláudio Caniggia.Os donos da casa empataram com um gol inexistente. Após chute no travessão, o atacante do Vélez cabeceou e o goleiro Navarro Montoya defendeu a bola antes de ultrapassar a linha do gol. Mas a arbitragem entendeu que foi gol.

O time da casa virou com um gol de falta de Chilavert, e o goleiro artilheiro ainda faria o terceiro, após a marcação de um pênalti duvidoso, que deixou os jogadores do Boca revoltados. Maradona se exaltou tanto que acabou expulso. Sem o craque campo, o jogo terminou 5 a 1 para o Vélez Sarsfield.


Em 1998, o argentino apitou na Copa do Mundo da França e, posteriormente, encerrou a carreira. Depois de pendurar o apito, Castrilli se aventurou na política. Chegou a ser Ministro-Adjunto da Segurança no Futebol Argentino e, em 2008, foi diretor de esportes da Cidade de Pinamar, mas deixou o cargo um ano depois.

Abaixo, leia a matéria publicada pelo portal UOL no dia 26 de abril de 2018:

20 anos depois, Castrilli diz que marcaria de novo pênalti contra a Lusa

Napoleão de Almeida
Colaboração para o UOL

Vinte anos depois de apitar um dos jogos mais polêmicos da história do futebol paulista, o ex-árbitro argentino Javier Castrilli ainda demonstra a mesma segurança na marcação do pênalti dado para o Corinthians aos 44 minutos do segundo tempo da semifinal do Paulistão 1998. Um lance discutido até a exaustão à época, que acabou eliminando a Portuguesa daquela competição, e gerou muitas reclamações por tudo o que cercou aquela arbitragem.

Na jogada, o ponta corintiano Fernando Diniz – hoje técnico do Atlético-PR – cruzou na área a bola, que foi interceptada pelo zagueiro César. Em entrevista ao UOL Esporte, Javier Castrilli logo antecipou o assunto, assim que recebeu a mensagem da reportagem. "Obviamente é sobre a jogada do pênalti", comentou.

Castrilli afirmou que reviu o lance recentemente, e o descreveu da seguinte forma: "Eu vi pelo YouTube. Existe uma imagem de trás por onde se observa claramente onde a bola bate ao agachar do zagueiro. Os relatos dizem o contrário do que se vê", contestou sobre as diversas críticas recebidas pela marcação.

Ainda hoje, ele daria o pênalti. "Com certeza", afirmou sem hesitar. "O zagueiro inclina seu corpo e calcula mal o rebote da bola, que bate metade na sua barriga e metade no braço esquerdo". Antes do pênalti de César, ele já havia dado um pênalti polêmico para o Corinthians ao ver um puxão do Evair.

Na época, a Federação Paulista buscou Castrilli para apitar o jogo, uma inovação que também gerou críticas e suspeição. O ex-árbitro relembrou como se deu a negociação. "Me informaram na Associação de Futebol da Argentina (AFA) que haviam me solicitado para uma partida no Brasil. Tudo foi oficial, me procuraram pela AFA".

Defensor do árbitro de vídeo, Castrilli chamou toda a responsabilidade no lance

Javier Castrilli hoje é um empresário do ramo de artigos esportivos em Buenos Aires e irá comentar a Copa do Mundo da Rússia por uma rádio norte-americana. Ele se aposentou em 1998 mesmo, após apitar jogos da Copa do Mundo da França. É um defensor do uso da arbitragem de vídeo, implementada recentemente pela Fifa.

"É indispensável. Principalmente para esses casos, deixa tudo transparente. É necessário para que não sobre nenhuma dúvida. Se tivéssemos o VAR naquele jogo, teríamos tirado a dúvida com as câmeras adequadas", comentou. Castrilli ainda afirmou que, naquele lance, tomou toda a decisão, sem interferência dos auxiliares. "Não tiveram nada a ver com o lance. Eu estava de frente para a jogada."

Castrilli já voltou ao Brasil depois daquele jogo. Afirma que nunca foi importunado por nenhum dirigente ou torcedor da Portuguesa. Se recorda de ter apitado jogos de Vasco e Grêmio pela Libertadores antes de encerrar a carreira. Ao parar, ingressou na política, chegou a ser candidato ao governo de Buenos Aires – a província, algo como o Governo do Estado – então apoiado pelo atual presidente argentino Maurício Macri, que também foi presidente do Boca Juniors. Deixou a política "já faz um tempo".

O ex-arbitro diz: "não torço para nenhum time, mas escolho os jogos para assistir conforme a importância da partida e a qualidade dos jogadores". Conversou com a reportagem minutos antes de Bayern x Real Madrid, pela Liga dos Campeões. Não assiste a jogos do futebol brasileiro e, ao saber do ocaso da Portuguesa após seguidos rebaixamentos, lamentou."Que pena. Não sabia... tomara que se recuperem. Que facilitem até via Estado para uma colaboração, para tirar da crise um clube que deve desempenhar um papel fundamental na formação de crianças e jovens através do futebol", comentou.

 

Na mesma data, o jornalista Julio Gomes escreveu o seguinte texto: 

Lá se foram 20 anos. E eu te odeio, senhor Castrilli

Do Blog do Julio Gomes

Caro Senhor Javier Castrilli,

você não me conhece. Eu te conheço por um momento que compartilhamos 20 anos atrás.

Naquele dia 26 de abril de 1998, eu ainda não era jornalista. Era apenas um projeto de jornalista, em meu segundo ano de faculdade. Você participou da minha despedida. Aquele jogo entre Portuguesa e Corinthians, no estádio do Morumbi, em São Paulo, foi meu último evento como um amador. Como um puro torcedor.

Nunca mais voltei a ser. Um pedaço de mim foi arrancado por uma decisão sua. Talvez tenha até de lhe agradecer. O senhor me mostrou que era inútil tentar chegar onde nunca me deixariam chegar.

Alguns dias depois, comecei a trabalhar no jornalismo esportivo. No UOL, que se transformaria no maior portal de notícias da América Latina. E, acredite se quiser, senhor Castrilli, porque muitos não acreditam, tudo muda quando começamos a trabalhar. O coração não deixa de sentir amor pelo clube ou pela seleção nacional. Mas ele fica guardadinho, engavetado.

Se naqueles tempos tivéssemos redes sociais, talvez eu tivesse comprometido minha carreira. Teria certamente perdido a linha. Inclusive com colegas de imprensa.

Colegas que caíram no conto do técnico do Corinthians, falando de dois supostos gols irregulares no jogo para o meu time. No primeiro, houve um impedimento não marcado uns 5 minutos antes do gol. No segundo, não havia impedimento algum, em bola tocada para trás pelo jogador Sylvinho, do Corinthians. Talvez estes colegas não soubessem separar amor de profissão. Talvez ainda não saibam. Alguns. Outros tantos, sim.

Mas eu evoluí. Procuro não perder a linha em redes sociais. Aliás, não perco mais a linha com futebol faz tempo.

O senhor já havia inventado um pênalti para os adversários quando ganhávamos por 1 a 0. Mas o que definiu aquele jogo foi um outro pênalti que o senhor inventou aos 48 minutos do segundo tempo. Um lance em que o zagueiro César ajeita a bola na barriga, ela toca em sua coxa na sequência. A imagem é clara. Mesmo que tivesse encostado no braço após o toque na barriga, não seria uma ação faltosa.

O senhor inventou um pênalti no último lance do jogo. O senhor definiu que o Corinthians passaria para a final do campeonato. Os dois pênaltis foram tão absurdos (do primeiro ninguém se lembra, dado o escândalo maior que foi o segundo) que é difícil não imaginar que o senhor tinha uma missão a cumprir naquela tarde.

Vou te contar uma coisa que me espantou, para logo depois te contar uma que vai te espantar.

Me espantou quando meu colega jornalista de UOL e Bandsports, Napoleão de Almeida, disse que te entrevistou ontem e que o senhor insistiu que o lance foi de pênalti. Aí precisamos ou de óculos com um grau maior ou de um livro de regras. Ou as duas coisas. Quem sabe eu lhe mande por correio, basta me dar o endereço.

Agora vou lhe contar algo que talvez lhe espante. A Portuguesa nunca mais chegou a uma final depois daquele jogo.

Não que chegasse com frequência. A Portuguesa foi grande nos anos 50. Teve alguns momentos importantes na história. Revelou jogadores importantes para o futebol brasileiro. Mas nunca tivemos como competir seriamente com os maiores. Aquele era um desses momentos raros. Foram nossos melhores anos. Mas eles se foram sem um título.

Nossa torcida é pequena, senhor Castrilli. E já era pequena em 26 de abril de 1998. Tão pequena que talvez o senhor não tenha nos notado ali no Morumbi. Eu me lembro que deveríamos ter ocupado uma das quatro partes do anel superior do estádio. Duas horas antes do jogo, a polícia gentilmente nos pediu para nos juntarmos um pouco mais, e abriu uma parte do nosso quadrante para os torcedores rivais. Uma hora antes do jogo, um pouco mais. Meia hora antes do jogo, um pouco mais. 10 minutos antes do jogo, um pouco mais.

A esta altura, já estávamos dividindo o mesmo degrau de arquibancada com o patrício. No máximo uns 20 metros havia entre um alambrado e a cordinha que a polícia esticou para nos separar da massa rival. Poderíamos ter sido massacrados ali.

Mas, quando o jogo começou, o medo virou segurança. Porque nosso time era bom, senhor Castrilli. Mas como era! O senhor se lembra? Deve ter percebido que o time era bom e dificultaria sua missão. Jogavam nele o Evair, o Leandro, o César, o Evandro, o Alexandre, o Carlinhos. Nosso time era bom de verdade. Tão bom que três meses depois ganhou de 7 a 2 do São Paulo – que seria o nosso adversário naquela final que o senhor não nos deixou jogar. Tão bom que sete meses depois estava jogando a semifinal do Campeonato Brasileiro.

Foi nosso último suspiro, senhor Castrilli. Desde então, tivemos dezenas de presidentes, dezenas de técnicos, dezenas de rebaixamentos, centenas de tristezas. Hoje, não temos nem mais divisão para jogar, senhor Castrilli. Nosso clube acabou.

O senhor não tem culpa disso, não senhor. Sua culpa foi ter nos impedido de ter uma rara felicidade. Teria sido uma felicidade imensa, sem dúvida. Ganhar do grande rival diante de 80 mil torcedores deles.

Eu nunca senti tanta raiva de uma pessoa na vida, senhor Castrilli. E imagino que não deva ser agradável ouvir isso. Mas infelizmente, preciso lhe dizer, não estou aqui para lhe agradar.

Talvez se tivéssemos nos encontrado no restaurante Jardim di Napoli naquela noite, onde me contaram que o senhor jantou, aliás, ótima escolha, o polpettone deles é o melhor do mundo, talvez eu tivesse acabado preso naquela noite. Mas eu tinha outro compromisso. Era aniversário da minha namorada. Hoje, ela é minha esposa. Portanto, senhor Castrilli, eu lembro do senhor todos os anos. O senhor nunca falta. Não é apenas uma memória distante. É uma memória anual.

Nós nunca nos encontraremos. Mesmo com o telefone em mãos, não tenho coragem de te ligar. Por isso, resolvi escrever, que é o que eu sempre fiz melhor. É como eu consigo organizar melhor meus sentimentos.

O mundo é incrível, senhor Castrilli. Porque a tecnologia nos dá a chance de nos conhecermos 20 anos depois. Basta eu clicar "enviar". E pronto. estou falando com o senhor. A pessoa que mais odiei e xinguei em toda a minha vida, mesmo sem saber se o senhor é um bom filho, um bom pai, um bom marido. Talvez seja, talvez não.

Eu te odeio mesmo assim, preciso lhe dizer.

Outros juízes erraram. O futebol é cheio disso. Mas os times prejudicados sempre têm uma segunda chance. Nós não tivemos, senhor Castrilli. Faz 20 anos. E nós nunca mais teremos, senhor Castrilli. Tente conviver com isso. Pare agora. Repire. Tire o olho desta tela. E pense nisso. Nós nunca mais teremos uma chance, senhor Castrilli. Eu gostaria muito que o senhor levasse consigo esta culpa até o fim dos teus dias.

Nós. Nunca. Mais. Tivemos. Uma. Chance. Nós. Nunca. Mais. Teremos.

O senhor nos fez muito mal, senhor Castrilli. A mim, a meu velho pai, que jogou na Portuguesa, a meu irmão, meu inspirador irmão, que me levava a jogos desde os meus 3 ou 4 anos, que trouxe o futebol e o jornalismo até mim, mas que não pôde estar comigo aquele dia, pois estava em alguma corrida de Fórmula 1 em algum lugar do mundo ouvindo o jogo por um telefone.

Se conversássemos um dia, talvez a única pergunta que eu poderia lhe fazer seria "por que?". Por que decidiu nos eliminar, senhor Castrilli. Por que me fez chorar tanto de raiva naquele 26 de abril, senhor Castrilli. Por que impediu que tantas almas que ouvem a vida inteira sobre o fracasso de sua escolha clubística pudessem ter alguns poucos dias de plenitude, senhor Castrilli. Por que tantas pessoas, que já eram velhinhas, morreram sem saber o porquê, senhor Castrilli.

Porque há um porquê. Eu sei que há. Você sabe que há. E você sabe que eu sei que o senhor nunca irá contar. Talvez já tenha até apagado da memória, tanto tempo se passou, eu também tento apagar da minha memória besteiras que fiz, frases que não queria ter falado, ofensas que não teria ter proferido. É uma proteção. Eu entendo.

Ao mesmo tempo, seria digno confessar, senhor Castrilli. Confessar que errou. Confessar por que errou. Lavaria a sua alma. Seria libertador, acho eu. Veja como evoluí. Já sou até capaz de desejar teu bem.

Mas eu te odeio, Castrilli. E esta verdade não vai mudar.

Por fim, acabo esta carta com meus mais sinceros votos. Vá para o inferno.

Saludos, Julio.

Este texto foi traduzido para o espanhol e enviado por WhatsApp para o celular do ex-árbitro, o argentino Javier Alberto Castrilli

 

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