No vídeo abaixo ouvimos a narração de Ernani Franco na partida em que o Santos goleou a Ferroviária por 6 a 2, com dois gols de Pelé, dois de Pepe, um de Pagão e um de Tite, e conquistou o bicampeonato paulista, no dia 13 de dezembro de 1961. O áudio foi cedido por José Carlos Gomes Valenci e a montagem por Wesley Miranda, da Associação dos Pesquisadores e Historiadores do Santos FC (ASSOPHIS).
Abaixo, confira mais sobre a carreira de Pagão. O texto é de Guilherme Guarche.
Naquele distante sábado, dia 27 de outubro de 1934, um ano antes do Santos FC se sagrar campeão paulista pela primeira vez, nascia na praiana Santos, um garoto que recebeu de seus pais, Benedicto Luiz de Araújo e dona Perpétua Rodrigues, o nome de Paulo César de Araújo, mas que ficaria famoso no mundo do futebol com o peculiar apelido de Pagão, apelido esse que o acompanha desde sua bem vivida infância. A origem do apelido Pagão deve-se ao fato de seu pai não tê-lo batizado nos primeiros meses de vida, como tradicionalmente ocorre, e sim quando ele então já dava os primeiros chutes e participava de peladas com os garotos de mais idade nas ruas perto de sua residência no bairro da Vila Mathias, em Santos.
Pagão em sua mocidade iniciou a carreira jogando em times amadores na Terra da Caridade e da Liberdade, primeiro na AA Americana, clube esse fundado em 1914, por dissidentes do Santos FC e depois no CA Lanus no ano de 1951.
Quem o convenceu a treinar nas equipes amadoras do Jabaquara AC, em 1951, foi Arnaldo de Oliveira, o velho Papa, um descobridor de craques na várzea santista. Porém, o jovem insatisfeito com seu baixo rendimento no “Leão do Macuco” pensou em abandonar as quatro linhas e prosseguir em outra profissão, mas quis o destino que ele fosse dar continuidade a carreira no ano de 1954 jogando na equipe da AA Portuguesa levado por seu tio Osvaldo Rodrigues (Vadico) que era o mentor e também administrador de sua carreira.
Sua chegada ao Santos quando tinha 20 anos de idade foi no ano de 1955, e a primeira participação ocorreu na goleada imposta ao Guarani pelo placar de 5 a 0, na Vila Belmiro, em partida válida pelo campeonato paulista que seria vencido pelo time santista no início do ano seguinte, nessa partida Pagão jogou na ponta-direita do ataque que formou com: Pagão, Negri, Del Vecchio, Vasconcelos e com o ponta-esquerda Pepe, de quem ele se tornou não, só no período em que eles atuaram no Alvinegro, como também fora do futebol um de seus melhores amigos e conselheiro. E do amigo Pepe recebeu o apelido carinhoso de “Velho César”. O técnico que colocou Pagão para atuar no ataque do Alvinegro foi Luiz Alonso Perez, o Lula.
Pagão não era um centroavante típico pelo contrário, se deslocava com muita facilidade por ser rápido e ter uma grande mobilidade dentro do gramado, seu estilo próprio revelava ser um jogador que procurava abrir espaços na defesa adversária. Era um meia-atacante de refinada técnica, de fintas secas e passes milimétricos, uma ameça permanente na área das equipes contrárias.
Conquistou a vaga de titular no ataque do time de Vila Belmiro na campanha do bicampeonato paulista em 1956, quando então foi o artilheiro santista na temporada com 35 gols marcados.
No peixe fez parte de um trio ao lado de Pelé e Pepe, que ficou conhecido como PPP, devido as iniciais dos nomes dos três craques que muitas alegrias deram aos fanáticos torcedores santistas. Alguns saudosistas do futebol romântic jogado pelo Peixe no final dos anos 50 afirmam convictamente que o ataque composto por Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe foi o melhor quinteto dianteiro que o clube já teve, superior até ao que viria na sequência com a entrada de Mengálvio e Coutinho.
Durante um bom período muitos apaixonados por futebol se deixavam levar por comentários maledicentes, os quais diziam que a amizade entre Pagão e Pelé não era das melhores e que os dois atletas não mantinham um relacionamento cordial tanto dentro como fora de campo e insinuavam até que Pelé boicotava Pagão porque não o apreciava, preferindo jogar ao lado de Coutinho. “Nunca houve nada disso, os dois são amigos e profissionais! Afirmou seu tio Vadico, que foi quem intermediou sua venda para o São Paulo em 1963, pela quantia de 15 milhões de cruzeiros, no clube da capital ele jogou até 1965, onde foi um dos artilheiros do Tricolor do Morumbi, e com sua saída repentina do Santos, os centroavantes principais que permaneceram no clube foram justamente os dois grandes artilheiros, Coutinho e Toninho Guerreiro. Ainda em meados de 1965, Pagão tentou voltar ao time santista, mas sem condições físicas ideais apenas realizou treinamentos não participando de nenhuma partida pelo seu clube de coração.
Pagão jogou no Alvinegro Praiano 340 partidas e marcou 157 gols é o nono artilheiro do Peixe.
Conquistando os seguintes títulos: Campeão Paulista nos anos de 1955/56/58/60/61/62, Campeão do Torneio Rio-São Paulo nos anos de 1959/63, Campeão Brasileiro nos anos de 1961/62, Campeão da Taça Libertadores e Mundial em 1962.
Ele foi eleito por Coutinho, que por ele nutria uma respeitada admiração como sendo o melhor centroavante que ele, Coutinho viu jogar.
Outro grande admirador confesso da genialidade do craque, que por sua fragilidade física era chamado de “canela de vidro” é o escritor, cantor e compositor Chico Buarque de Holanda que no ano de 1985 organizou uma partida na qual atuou ao lado do ídolo, no campo de Ulrico Mursa em um time chamado de Pindorama e que além dos dois tinha também os artistas Fágner, Carlinhos Vergueiro e João Nogueira. Chico Buarque falou que: “Ele era demais em campo. Era um jogador de uma leveza admirável. Adorava quando ele pegava a bola no ar e com a parte de fora do pé, vindo de trás, chapelava o adversário. Quando morei em São Paulo, só ia ver futebol por causa do Pagão, para mim mais elegante e mais técnico que o Pelé.”
Frases ditas por quem viu o craque em ação dentro das quatro linhas:
“Para mim, claro que excluindo Pelé, o maior futebolista é Pagão, ou, se o quiserem, foi Pagão. Classe como a dele, sutileza como a dele, leveza e graciosidade como a dele, nem Pelé.” (Walter Dias).
“O mais leve e insinuante jogador que já vi. Ele foi o melhor companheiro de Pelé” (Melão). “Suas jogadas ajudaram muito o Pelé no início da carreira. Era um fora de série” (Dorval). “Foi o melhor centroavante que eu tive a oportunidade de jogar” (Tite). “Seus passes eram calculados, muito veloz. Foi o maior centroavante do Brasil, depois de Friedenreich” (Athié Jorge Coury”.
“Como todo fora de série, tinha um gênio muito forte. Era tinhoso, mas muito honesto e correto” (Carlos Pierin, o Lalá). “Foi o maior centroavante de todos. O Pelé era craque e tinha físico. O Pagão era só bola” (Julião, ex-zagueiro e companheiro de Pagão no Lanus e no Jabaquara). “Bom profissional. Não criava problemas para renovar contrato. Tecnicamente era perfeito” (Augusto da Silva Saraiva). “Ele era muito visado. Só paravam o Pagão na porrada”. (dr. Daló Salerno). “Foi um nota dez. Um QI muito alto. Não é qualquer jogador que tinha essa facilidade com a bola” (Mengálvio).
“Eu o considerava um gênio da bola. Nos últimos anos de vida estava desmotivado com o futebol” (José Macia, o Pepe).
O adeus final:
Paulo César de Araújo adoeceu quando ainda exercia as funções de Escriturário na Cia. Docas do Estado de São Paulo – Codesp – ficando internado na UTI da Santa Casa de Santos, durante 15 dias, vindo a falecer em uma quinta-feira, dia 04 de abril de 1991, aos 56 anos de idade, tendo como “causa mortis” falência múltiplas de órgãos, seu corpo foi velado no Salão Nobre da Santa Casa que ficou pequeno devido a grande quantidade de amigos e admiradores que lá estiveram dando o adeus final ao craque genial e de temperamento forte que foi enterrado no Cemitério da Filosofia, no bairro do Saboó. Ele era casado com dona Irene Ogea de Araújo e com ela teve os filhos Paulo César e Luiz Antônio além de sobrinhos e netos.
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