Armando Nogueira nasceu no dia 14 de janeiro de 1927, em Xapuri no Acre. Um dos mairoes jornalistas do país faleceu no Rio de Janeiro, no dia 29 de março de 2010, aos 83 anos, vítima de câncer.
Quem neste país cobriu 15 Copas do Mundo, sete Jogos Olímpicos e escreveu 10 livros sobre esportes? Quem é apontado como dono do melhor texto esportivo do Brasil pela imensa maioria dos próprios jornalistas? Falamos, naturalmente, do acreano e botafoguense Armando Nogueira.
Seu estilo poético e romântico fez parte da história da imprensa. Armando começou a carreira aos 23 anos, no Diário Carioca.
Passou depois pelas revistas Manchete e O Cruzeiro, Jornal do Brasil, TV Rio, Rede Bandeirantes, além de ter sido diretor do departamento de Jornalismo da Rede Globo de televisão de 1966 a 1990. Formado em Direito, Armando residia no Rio de Janeiro. Sem condições de trabalhar devido ao câncer, precisou se afastar de suas ocupações profissionais em 2008, quando trabalhava no canal SporTVe escrevia a coluna "Na Grande Área", distribuída para mais de 60 jornais brasileiros.
Entre os livros que publicou, destaque para "Drama e glória dos bicampeões" (em parceria com Araújo Neto), "O vôo das gazelas", "A copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar" (em parceria com Jô Soares e Roberto Muylaert), "O canto dos meus amores" e "A chama que não se apaga". Armando foi testemunha ocular do atentado ao jornalista Carlos Lacerda. Por ter presenciado o fato, escreveu o relato em primeira pessoa, até então um fato inédito no jornalismo brasileiro.
Na Globo, ao lado de Alice Maria, ajudou na criação do departamento de jornalismo. Durante os 25 anos que esteve na emissora carioca, Armando também foi importante na implantação do jornalismo em rede nacional, com a criação do Jornal Nacional e do Globo Repórter. Desligou-se da empresa após a eleição presidencial de 1989. Descontente com a edição de um debate que envolveu os então candidatos Fernando Collor e Lula, nitidamente favorável ao primeiro, contestou veementemente Roberto Marinho, dono das Organizações Globo.
Abaixo, a crônica de Armando Nogueira, uma linda homenagem à genial Rainha Hortência, comparada a outro gênio: Garrincha:
Veja também o maravilhoso texto sobre Armando Nogueira enviado por Júnior para o blog do Milton Neves:
ARMANDO NOGUEIRA, Filho de cearenses que emigraram para o Acre, nascido na mesma cidade onde também nasceu o seringueiro e líder sindical Chico Mendes, mudou-se para o Rio de Janeiro com apenas 17 anos de idade. Entrou para a Faculdade de Direito e conseguiu um emprego de ensacador, mas desde então pensava em ser jornalista.
Em 1950, foi trabalhar na seção de esportes no Diário Carioca. Esse jornal reunia, na época, os mais expressivos jornalistas do Rio de Janeiro como Prudente de Moraes Neto, Carlos Castello Branco, Otto Lara Resende, Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Pompeu de Souza, e foi uma verdadeira escola de jornalismo para Armando, que lá permaneceu por 13 anos.
Foi testemunha ocular do atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, na Rua Toneleros, em Copacabana. Ao escrever sobre o espisódio, fez história no jornalismo brasileiro: pela primeira vez numa reportagem um fato era narrado na primeira pessoa.
Além do Diário Carioca, passou a colaborar também com o Diário da Noite. Depois de uma passagem pela revista Manchete, em 1957, foi para a revista O Cruzeiro, dos Diários Associados, propriedade de Assis Chateaubriand e, em 1959, para o Jornal do Brasil.
Armando foi pioneiro na televisão brasileira, ao trabalhar, a partir de 1959, na primeira produtora independente do país, dirigida por Fernando Barbosa Lima, onde escrevia textos para os locutores Cid Moreira e Heron Domingues lerem na antiga TV-Rio.
Convidado por Walter Clark, foi para a Rede Globo em 1966 onde implantou, com Alice Maria, o telejornalismo da emissora. Graças ao trabalho de Armando e Alice Maria, o telejornalismo, que antes era visto como uma coisa menor, passou a atrair o interesse dos profissionais e do público.
Nos 25 anos que passou na Globo foi responsável ainda pela implantação do jornalismo em rede nacional e pela criação dos noticiosos Jornal Nacional e Globo Repórter.
Mas sua paixão sempre foi o esporte, em especial o futebol. A partir de 1954, esteve presente na cobertura todas as Copas do Mundo e, desde 1980, de todos os Jogos Olímpicos.
Mesmo com todos esses serviços prestados, envolveu-se em uma rumorosa polêmica em 1989, dentro da própria Globo. No segundo turno das eleições presidenciais daquele ano, a emissora promoveu um debate entre os candidatos Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva. No compacto do evento, que foi exibido no dia seguinte de sua transmissão no Jornal Nacional, houve uma edição que favoreceu claramente o candidato Collor, que desde o início foi apoiado ? direta ou indiretamente ? pelas empresas de Roberto Marinho. Na qualidade de diretor de jornalismo, Armando foi pessoalmente a Roberto e fez duras críticas à sua postura e a dos funcionários que realizaram aquela edição, dizendo que não compactuava com aquilo. Por causa disso, acabou aposentado pela alta cúpula e desligou-se da emissora definitivamente no ano seguinte. Passou, então, a se dedicar integralmente ao jornalismo esportivo.
Mantinha uma coluna reproduzida em 62 jornais brasileiros, um programa no canal por assinatura SporTV, um programa de rádio e um sítio na Internet. Era também proprietário da Xapuri Produções, que faz vídeos institucionais para empresas, para as quais também profere palestras motivacionais. Escreveu dez livros, todos sobre esportes.
Foi praticante de vôos em ultraleves, tendo sido fundador do clube carioca da modalidade. No futebol, foi torcedor apaixonado do Botafogo.
Em consequência de um câncer Armando Nogueira, então com 83 anos, faleceu no dia 29 de março de 2010 em sua casa no Rio de Janeiro.
Estilo de escrita
Armando Nogueira é dono de um estilo original e elegante, que foge dos lugares comuns que proliferam na crônica esportiva. Pode-se dizer que fez escola, pois vários repórteres esportivos tentam imitá-lo.
Não raro, Armando extravasa sua veia poética para demonstrar sua admiração pelo esporte e por seus ídolos. Algumas de suas frases inspiradas se tornaram antológicas. A seguir, alguns exemplos.
Sobre futebol e caráter: O futebol não aprimora os caracteres do homem, mas sim os revela.
Sobre a vitória na Copa de 1970: Choremos a alegria de uma campanha admirável em que o Brasil fez futebol de fantasia, fazendo amigos. Fazendo irmãos em todos os continentes.
Sobre Garrincha e sua habilidade para driblar: Para Garrincha, a superfície de um lenço era um latifundio.
Bibliografia Drama e Glória dos Bicampeões (em parceria com Araújo Neto) Na Grande Área Bola na Rede O Homem e a Bola Bola de Cristal O Vôo das Gazelas A Copa que Ninguém Viu e a que Não Queremos Lembrar (em parceria com Jô Soares e Roberto Muylaert) O Canto dos Meus Amores A Chama que não se Apaga A Ginga e o Jogo.