Lara

O maior goleiro da história do Grêmio

por Rogério Micheletti

Ele está presente no hino do Grêmio: "Lara, o craque imortal, soube seu nome elevar..." Lupicínio Rodrigues não exagerou. Lara foi realmente um dos maiores jogadores da história do clube gaúcho.

Lara, o Eurico Lara, morreu cedo, com apenas 38 anos, em Porto Alegre, dia 6 de novembro de 1935. Ele foi vítima de problemas cardíacos. O falecimento do goleiro ocorreu 40 dias depois dele ter disputado sua última partida: Grêmio 2x0 Internacional.

A vitória garantiu ao Tricolor o título do Campeonato Farroupilha (nome do Gauchão daquele ano, em homenagem ao centenário da revolução de mesmo nome).

Foram 15 anos defendendo o Grêmio. O goleiro, que era natural de Uruguaiana (nasceu no dia 24 de janeiro de 1897), conseguiu corrigir suas falhas ao longo da carreira.

Tornou-se perfeito nas saídas de gol e se destacava por seus munhecaços, afastando longe a bola de sua área.

Além de ser homenageado por Lupícinio Rodrigues no hino do Grêmio, Eurico Lara virou nome de rua em Porto Alegre, informação que está no "Guia dos Craques", de Marcelo Duarte.

Lara está na galeria dos heróis gremistas. Tanto que tem uma página dedicada a ele no site oficial do clube. Leia abaixo o perfil do ex-goleiro publicado no endereço gremio.net.

Talvez não haja, no país, a história de um atleta tão identificado com o clube que seu nome tenha ido parar na letra do hino oficial da instituição. Esse é o caso de Eurico Lara, um goleiro natural de Uruguaiana que, na época do amadorismo, defendeu as cores do Grêmio em 16 temporadas (de 1920 a 1935). Graças aos seus elevados dotes morais e técnicos, Lara, ainda hoje, é tido como símbolo do jogador gaúcho e uma verdadeira lenda dentro destes mais de 100 anos de história do Grêmio.

Nascido em 1898, começou a jogar futebol no time do Exército de Uruguaiana. Dizia-se, na época, que na cidade fronteiriça existia um arqueiro que, quando jogava, o time não perdia. Não demorou muito para que as informações sobre o atleta chegassem aos ouvidos dos dirigentes gremistas, os quais imediatamente deslocaram olheiros para a região. Sem demonstrar interesse em atuar como jogador de futebol em Porto Alegre, Eurico Lara acabou sendo transferido de sua terra natal para uma corporação da capital graças a pessoas influentes dentro do Grêmio. Chegando a tenente do Exército, Lara acompanhou as forças revolucionárias que, em 1930, escreveram uma página importante para a história do país.

Sem abandonar a farda, chegou ao Grêmio em 1920 culminando com a conquista do Campeonato da Cidade de Porto Alegre. Dois anos depois, além de defender a seleção do Exército que venceu o campeonato entre as classes armadas, começou a construir sua reputação como goleiro no centro do país, depois de defender, com destaque, a esquadra gaúcha no Torneio Preparatório visando a escolha da seleção brasileira que disputaria o Sul-Americano.

Lara fechou o gol em uma partida realizada no estádio Parque Antártica entre gaúchos e paulistas. Os donos da casa venceram por 4 a 2 mas, no final, o goleiro do Sul foi ovacionado por uma multidão que invadiu o gramado para cumprimentá-lo. Afinal, não era qualquer um que conseguia defender mais de 20 chutes desferidos pelo atacante Friendereich, o maior nome do futebol brasileiro naquela época. Apesar de tudo, e para surpresa de todos, o gremista não foi chamado para a seleção.

Em setembro de 1935, já doente do coração e com ordem dos médicos para não mais atuar, Lara decidiu entrar em campo para a decisão do Campeonato Farroupilha onde o Grêmio precisava vencer o Internacional para levar o troféu. Foi uma de suas maiores atuações com a camisa do Grêmio perante uma torcida maravilhada e sabedora do esforço realizado pelo atleta para poder participar da partida. Vitória do Grêmio por 2 a 0 e, como de costume, Eurico Lara carregado nos braços do povo.

Esse mesmo povo que lotava as dependências do Estádio da Baixada saiu às ruas, no dia 6 de novembro de 1935, dois meses depois do Gre-Nal Farroupilha, para chorar a perda de um dos maiores desportistas do país. O enterro de Lara parou Porto Alegre e o atleta entrou para sempre na história do Grêmio e no coração de quem teve o prazer de vê-lo atuar.

Títulos conquistados

Campeão da Cidade: 1920, 21, 22, 23, 25, 26, 30, 31, 32, 33 e 35.
Campeão Gaúcho: 1921, 22, 26, 31 e 32

Letra do Hino
"Lara, o Craque Imortal
Soube o seu nome elevar
Hoje, com o mesmo ideal
Nós saberemos te honrar?
Fonte: gremio.net

AINDA SOBRE LARA, ABAIXO, TEXTO ESCRITO PELO JORNALISTA AIRTON GONTOW, PUBLICADO NO PORTAL TERCEIRO TEMPO EM 2015

A INCRÍVEL HISTÓRIA DE EURICO LARA

Faz 80 anos que morreu o goleiro Eurico Lara, grande nome da história do Grêmio, ao lado de Airton Pavilhão e Renato Portaluppi. 

Aprendi a história de Lara ao lado de seu túmulo, no cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre, segurando na mão de meu pai, como acontece com muitos e muitos gremistas. Era um goleiro fantástico e gremista apaixonado (como todos os gremistas devem ser). É o único jogador da centenária história gremista citado por Lupicínio Rodrigues. Sim, o autor de "Nervos de Aço" e "Felicidade foi se embora" fez o belo o hino do Grêmio - "Até a pé nós iremos, para o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos com o Grêmio onde o Grêmio estiver".

Mas eu falava sobre Eurico Lara, que era apaixonado e gremista e, veja só, estava no quarto de um hospital, com tuberculose e doente do coração, no dia da final do campeonato gaúcho, contra o inimigo Internacional, no chamado clássico Gre-Nal. Lara fugiu do hospital para assistir ao jogo. Um empate daria o título ao Grêmio, que estava com um ponto a mais na competição. Mas, faltando três minutos, o juiz marcou um pênalti para o Inter. A torcida gremista, em grande maioria, ficou em silêncio, com medo da catástrofe próxima. Foi neste momento que Lara disse para o homem que cuidava do portão junto ao gramado: "abre". E quando entrou em campo foi tirando a camisa, as calças...estava de uniforme por baixo e, pasme, de chuteiras. O estádio explodiu de espanto e alegria, mas logo depois, aconteceu um silêncio absoluto, que até hoje impressiona a todos os que assistiram à cena. Era como se não houvesse vozes, pássaros...vento no mundo

O atacante do Inter ajeitou a bola. Parecia um touro, enquanto se preparava para iniciar a curta corrida em direção à bola. O chute saiu forte, alto, no canto esquerdo. Mas Lara, meu herói Eurico Lara (cantado por Lupicínio como "o craque imortal") saltou como um gato e encaixou a bola no peito e com ela continuou agarrado quando caiu no chão. A torcida entrou em delírio. Os jogadores se aproximaram para reverenciar aquela lenda do futebol. No estádio, uma chuva de chapéus, como nunca mais foi vista, nem mesmo nas comemorações pela vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Lara continuava agarrado com a bola no chão. Sim, era sua, não queria soltá-la. Os jogadores foram se afastando. A torcida de pé, em silêncio, compreendeu o que acabara de acontecer. Lara estava morto. Com a bola grudada naquele imenso peito gremista. No gramado, milhares e milhares de chapéus eram como flores homenageando aquele deus do futebol.

Na verdade, a história não aconteceu exatamente assim. No dia 22 de setembro de 1935, contrariando as recomendações médicas para que não atuasse mais, Lara entrou em campo para o jogo decisivo – um Gre-Nal! -  do campeonato da cidade, naquele ano chamado de “Campeonato Farroupilha”, por ser o período das comemorações do centenário da Revolução dos gaúchos. O Grêmio precisava vencer para conquistar o título. Foi uma das maiores atuações de sua vida, decisiva para a vitória gremista por 2 a 0. Nunca mais atuou. Faleceu em 6 de novembro, 45 dias após o Gre-Nal - e dizem os médicos que a morte foi apressada pelos meses em que, mesmo doente, jogou pelo Grêmio.

Mas vou contar ao meu filho exatamente como o meu pai me contou: segurando em sua mãozinha de gremista, ao lado do túmulo do inesquecível Eurico Lara, aquele que morreu defendendo um pênalti, com tuberculose e doente do coração, dando o título de campeão ao Grêmio....

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