Willy Gonser, ícone do rádio esportivo do Brasil, morreu em 22 de agosto de 2017, aos 80 anos. Ele estava internado em Belo Horizonte com pneumonia, que foi a causa de sua morte.
Paranaense de Curitiba, nascido em 13 de outubro de 1936, Gonser foi um grande ídolo da torcida do Clube Atlético Mineiro, com a qual se identificou desde que foi para a Rádio Itatiaia, em 1979.
Willy Gonser, com uma trajetória extraordinária no rádio esportivo - cobriu onze Copas do Mundo -, deixou a Itatiaia em setembro de 2009, mas continuou até dezembro na ativa, no programa esportivo "Jogada de Classe", da TV Horizonte, de Minas Gerais. Com a iminente chegada de 2010, o aposentado Willy partiu para uma "nova e difícil empreitada": morar no litoral da Bahia curtindo sombra e água fresca!
Texto de Edemar Annuseck
Quem foi Willy Gonser
Willy Fritz Gonser seu nome de batismo, paranaense de Curitiba, começou cedo na "latinha". Já aos 13 anos trabalhava em carros de alto-falantes em festas, quermesses e até em estádios de futebol lendo os comerciais, narrando o "footing" dos jovens nos estádios de futebol. Ingressou no rádio em Curitiba onde atuou nas rádios Marumby, Curitibana, Clube e Independência, Paiquerê de Londrina, Nereu Ramos de Blumenau, Gaúcha (Porto Alegre), Continental e Nacional (Rio), Jovem Pan (São Paulo) e desde 1979 está na Rádio Itatiaia de Belo Horizonte. Também trabalhou nas TVs Paraná, Paranaense, Gaúcha de Porto Alegre e Horizonte em Belo Horizonte. Um dia Flávio Araújo grande locutor do Escrete do Rádio desembarcou em Curitiba e levou Willy Gonser para a Rádio Bandeirantes. Na estréia A Gazeta Esportiva estampou um anuncio de duas páginas centrais. Depois da estréia a tudo mudou. Retornando à Curitiba para providenciar sua mudança Willy foi impedido pelo Diretor-Presidente da Rádio Independência de deixar a emissora. Na época a emissora não aceitou o rompimento de contrato que estava em vigor e Willy acabou permanecendo na Rádio Independência. A Independência inclusive acabou aumentando seu salário.
As andanças
Antes da Independência, Willy tinha atuado na Rádio Gaúcha de Porto Alegre estando presente em 1962 na Copa do Mundo do Chile. Depois passou pela Rádio Clube Paranaense e de lá retornou para a Gaúcha. Em 1970 foi ao Mundial do México empunhando o microfone da Gaúcha. Após a Copa transferiu-se para o Rio de Janeiro onde atuou na Rádio Continental. Em 1971 acabou sendo contratado pela Jovem Pan para assumir o lugar de Joseval Peixoto que havia se transferido para a Rádio Bandeirantes. Em Setembro de 1973 voltou para a Gaúcha e em 1978 estava na Rádio Nacional do Rio de Janeiro de onde saiu para a Rádio Itatiaia e lá ficou até o final de 2009, quando se aposentou e foi morar no litoral baiano.
Onze Mundiais
Willy Gonser é o narrador brasileiro em atividade, que mais Copas do Mundo transmitiu. Cobriu os Mundiais de 1962/70/74 pela Rádio Gaúcha. Em 1978 na Copa da Argentina pela Rádio Nacional do Rio. Nas Copas de 82/86/90/94/98/2002 e 2006 foi narrador da Rádio Itatiaia. Na rádio mineira acabou se transformado na referência da narração esportiva dos jogos do Clube Atlético Mineiro. É chamado de locutor oficial do Clube Atlético Mineiro. Willy Gonser vai completar 30 anos de Rádio Itatiaia em 2009.
Passagens curiosas
Willy Fritz Gonser também ficou conhecido como "Alemão" e "Fritz" pelos amigos. Quando se transferiu da Rádio Gaúcha para a Rádio Nacional do Rio, Willy teve um problema muito sério na viagem de Porto Alegre ao Rio. Ao volante do possante Volkswagen CL notou uma luz piscando no painel do carro. Parando num posto na rodovia foi informado que precisava trocar o óleo do motor. Descobriu então que embora seu carro já tenha 60 mil km rodados, nunca havia sido feita a troca de óleo. Com a maior cara de pau saíu-se com esta: "Ué, mas eu não sabia que este carro tinha óleo?.
Willy teve uma passagem na Rádio Paiquerê de Londrina, na época em que a região era a maior produtora de café do Brasil. O futebol da região também estava em alta. Grandes jogadores de outros países da América do Sul chegaram a ser contratados. O Torneio reuniu Londrina, Guarany de Cambé, Comercial de Cornélio Procópio, Nacional de Rolândia, Mandaguari, Arapongas e Maringá. O torneio foi o precursor do Campeonato Norte-Paranaense. Na decisão em campo neutro (Mandaguari) havia somente uma linha de transmissão para as rádios. A emissora local acabou levando a melhor e transmitindo o jogo. A Rádio Paiquerê resolveu "dublar? a transmissão da rádio de Mandaguari.
Sintonizada a emissora no alto do prédio da Paiquerê em Londrina, Willy Gonser narrou a partida. No segundo tempo o sinal da emissora de Mandaguari começou a apresentar problemas e ficou na base do entra e sai. O Londrina vencia o jogo por um a zero até que num determinado momento ocorreu uma penalidade máxima contra o Tubarão. Com dificuldades na escuta Willy foi "enchendo lingüiça?. De repente surge um barulho de torcida. Willy Gonser não teve dúvidas; narrou a cobrança da penalidade máxima gritando o gol para o Nacional de Rolândia. Em seguida não se ouviu mais a Rádio de Mandaguari. Olhando para o relógio (o jogo já deveria estar encerrado), Willy Gonser resolveu terminar a transmissão confirmando o placar de um a um que dava o título ao Nacional de Rolândia.
À noite a torcida do Londrina retornou de Mandaguari muita festa e os jogadores em carros abertos. O pênalti havia sido desperdiçado e o jogo terminou com a vitória do Londrina por um a zero, conquistando o título. Na segunda-feira a Folha de Londrina estampou manchete na primeira página: "Londrina campeão, apesar do um a um da Paquere?. Willy e os demais integrantes da equipe esportiva da Paquere sumiram de Londrina por algum tempo.
Reconhecimento
Willy Fritz Gonser teve seu nome inserido no Guinness World Records, antigo Guinness Book o livro dos recordes. Ele é o narrador esportivo transmitiu mais campeonatos. Que venha logo esse registro em homenagem ao maior narrador de futebol do Paraná e um dos maiores da história do rádio esportivo brasileiro de todos os tempos.
Ainda sobre Willy Gonser, o Portal UAI, publicou em 11 de dezembro de 2012 POR ONDE ANDA?
"Voz" do Atlético por 30 anos, narrador Willy Gonser curte aposentadoria na Bahia
Locutor esportivo começou a carreira em 1953 e está aposentado há três anos Luiz Martini - Superesportes
É gol! É do Galo! Com essa frase, Willy Gonser emocionava os torcedores do Atlético ao narrar os gols do clube. Depois de 30 anos de transmissão das partidas do Alvinegro, o locutor se aposentou há três anos e leva uma vida tranquila longe de Belo Horizonte. Assim que encerrou a carreira, Willy se mudou para Alcobaça, na Bahia, e garante que, apesar dos mais de 800 quilômetros de distância, ele não abandonou o time.
"Estou em Alcobaça, no extremo Sul do Bahia, e a minha atividade é ler muito e fazer exercícios junto ao mar. Eu acompanho tudo daqui. Não só de esportes, mas de outras áreas. Posso dizer que hoje a gente fica por dentro dos detalhes do Atlético porque tem mais tempo. Continuo sendo um torcedor à distância?, conta ao Superesportes.
A ligação do locutor com o Galo começou em 1979, quando ele iniciou sua trajetória na Rádio Itatiaia. A princípio, Willy narrou partidas dos grandes clubes da capital, mas a proximidade com o Atlético o tornou torcedor do clube.
"Cubro o Atlético desde que cheguei a Belo Horizonte. Fiz muitas viagens para a Europa para acompanhar o Atlético, principalmente na década de 1980. Aí a gente fica próximo e não pode deixar de ser torcedor. Defendo a tese que o narrador pode torcer, se souber respeitar o torcedor. A torcida é genuína. Cobri o Cruzeiro também em alguns jogos, até ficar exclusivo no Galo?, disse.
No período em que esteve narrando partidas do Galo, Willy elege o gol de Negrini, na final da Copa Conmebol de 1992 como um dos mais importantes. "Naquela conquista, o gol do Negrini foi excepcional?, frisou.
A emoção sempre foi marca do narrador nos jogos do Atlético. Mas o Galo não é o único clube de Willy. Ainda nos tempos de criança, no Paraná, ele revela como se tornou gremista.
"Gostava do Ferroviário, da minha cidade, que não existe mais, mas que ganhou sete títulos paranaenses. Porém, me lembro de uma visita do Grêmio que me fez virar torcedor do clube. Eu era garotão, de calças curtas, e vi o time gaúcho ganhar por 3 a 1 do meu Ferroviário?, afirma, antes de comentar o motivo que o fez gostar do Tricolor.
"Depois da derrota do Ferroviário, meus amigos curtiram com a minha cara. Mas no dia seguinte, o Grêmio pegou o Coritiba, time deles, e aplicou 5 a 0 no Coxa. Aí assumi a função de torcedor. Mais tarde, trabalhei em Porto Alegre por alguns anos. Lá, escolhi o Grêmio para torcer. Esse ano eu posso dizer que se não fosse o Fluminense, eu seria campeão e vice?, brinca Willy Gonser.
Willy Gonser começou a carreira no rádio de forma inusitada. Depois de ganhar um concurso para trabalhar na área, em 1953, pela Rádio Marumby, em sua terra natal, ele atuou com noticiários, chamadas musicais e comerciais. A primeira chance no esporte veio depois de dois anos, mas o locutor precisou mostrar jogo de cintura para o dono da emissora.
"Eu comecei ganhando um concurso para fazer rádio em 1953, em Curitiba. Eu era garoto e tinha 17 anos. Durante quase dois anos fiquei fora do esporte. Em 1955, fiz um teste na área. Fui para comentar uma partida preliminar, de aspirantes, e o narrador foi ao banheiro durante o intervalo, mas ele não voltou para o segundo tempo. Então, tive que começar a narrar o jogo a partir dali. Descobri depois que isso foi de propósito, pois o dono da rádio queria ver o que eu faria. Isso durou até 2009?, ressalta Willy (aos risos).
Sem se preocupar com quantos jogos e gols narrou nos tempos de locutor, Willy diz que tem números pareados com o colega de profissão Alberto Rodrigues, que faz questão de anotar. Mas como não são oficiais, ele prefere não revelar.
"Nunca tive a preocupação de anotar esses dados. Sei pelo Alberto, mas não tenho certeza. Fiz alguns jogos no início do Mineirão. Mas ainda não estava em Belo Horizonte na época da reinauguração?, disse Willy, que guarda com carinho as transmissões no Gigante da Pampulha.
"Tenho aquelas mesmas emoções que tanta gente já relatou em dias de grandes torcidas, quando o Mineirão tremia. Foi uma série de vezes que isso aconteceu e depois os técnicos (engenheiros) comprovaram que ele tremia mesmo".
Copas do Mundo
O narrador que é filho de pai alemão e mãe paranaense teve o privilégio de participar de 11 coberturas de Copa do Mundo. O início foi em 1962, no Chile. A primeira transmissão de Mundial foi pela Rádio Gaúcha. Pela emissora, ele também trabalhou em 1970 (México) e 1974 (Alemanha).
"Estive em 11 copas do mundo. Só com exceção da Copa da Inglaterra, que não fui. Comecei em 1962 e fui até a Copa de 2006?. Em 1976, Willy foi à Rádio Nacional e presenciou a Copa da Argentina, em 1978. Ele teve a companhia de José Carlos Araújo, o Garotinho.
Pela Rádio Itatiaia, o locutor trabalhou nos Mundiais de 1982 até 2006. Ele destaca qual o maior momento vivido em uma Copa do Mundo.
"A maior emoção foi a vitória sobre a Alemanha, em 2002. Principalmente, por causa da recuperação dele (Ronaldo). Vibrei demais com aquela vitória brasileira e a volta por cima que ele deu. Foi emocionante a superação dele?, completou.
Adeus aos microfones
A saída de Willy Gonser do futebol mineiro deixou saudade em muitos torcedores do Atlético, acostumados com a narração do paranaense. Ele conta o motivo que o fez largar as transmissões esportivas.
"Minha aposentadoria foi uma decisão da empresa, mas que eu já tinha previsto. A idade pesa nesse ponto de vista. Estou hoje com 76 anos, parei com 73. Isso diminui as condições de competição de trabalho. A ideia foi parar para abrir caminho aos mais novos. Mas estou bem aqui no Sul da Bahia. Sempre passei férias aqui e quis comprar uma casa e morar definitivamente agora?, finaliza Willy Gonser.