Márcio Fonseca

Jornalista

por Marcos Júnior Micheletti

O jornalista Márcio Fonseca, uma das maiores referências brasileiras na profissão, morreu em 23 de março de 2024, aos 68 anos, em decorrência de um câncer no fígado, que ele descobriu já em estágio avançado e contra o qual fazia tratamento.

Seu quadro clínico teve um agravante em janeiro de 2023, com um foco de tumor sendo diagnosticado no cérebro. Um ano depois, em janeiro de 2024, sua saúde piorou bastante e ele passou por tratamento paliativo, até vir a óbito. Seu corpo foi velado no dia seguinte à sua morte, no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, mesmo local da cremação.

Divorciado, não teve filhos.

Natural de Santos, onde nasceu no dia 6 de março de 1956, Márcio Reinaldo Augusto Fonseca passou por importantes veículos da imprensa, incluindo jornais e revistas (como a Auto Esporte), e a partir do final da década de 1990 notabilizou-se como um dos mais brilhantes assessores de imprensa no meio do automobilismo, inclusive atendendo Ayrton Senna (1960-1994 )sempre que o piloto estava no Brasil.

Em julho de 1988, ao lado da ex-esposa Leda, fundou a MF2, empresa de jornalismo especializada em assessoria de imprensa, que atendeu a inúmeros clientes, entre eles Pedro Paulo Diniz, Luciano Burti, Felipe Massa e Bruno Senna, além de atender equipes na Stock Car, como a Medley, Prati-Donaduzzi e também na assessoria da Copa Truck.

Sempre elogiado por seus ótimos textos, de gramática irretocável, Márcio Fonseca, embora não tenha tido filhos humanos, derramou amor pelos animais, cães e gatos, e não media esforços para resgatá-los das ruas próximas ou não de sua casa, localizada na rua Gabrielle D´Annunzio, no bairro do Campo Belo, zona sul da capital paulista.

AMOR PELOS ANIMAIS E PELA MÚSICA

Suas redes sociais sempre foram preenchidas por estes queridos animais que ele tanto amou, como a cachorrinha Baunilha, o cachorrinho Fefe e a gatinha Vivi.

Além dos animais, outra paixão de Márcio era a música. Guitarrista dos bons, costumava postar vídeos desta outra atividade que nutria com carinho, fosse tocando sozinho, com os irmãos Marcos, Paulo e Silvio, ou com amigos na Brooklin Fest, no bairro vizinho.

O SANTOS FUTEBOL CLUBE

O pequeno Márcio Fonseca, que concluiu o 2º grau no Colégio Estadual Dr. Ruy Ribeiro Couto, em Santos, testemunhou grandes momentos seu clube de coração. o Santos Futebol Clube, que acompanhava não apenas na Vila Belmiro ou no Pacaembu, mas em muitos estádios pelo interior de São Paulo, ao lado dos irmãos e amigos.

Profundo conhecedor da história do Santos, não deixava de criticar times mais recentes do Peixe.

TESTEMUNHO PESSOAL...

Eu Marcos Micheletti, deixo o meu testemunho pessoal sobre Márcio Fonseca, a quem eu chamava de Marcião.

Como eu cheguei "outro dia" no meio do jornalismo automobilístico, mais precisamente em 2009, conheci o Márcio já como assessor de imprensa, e sou testemunha de sua qualidade na função que exerceu.

Seus textos eram perfeitos, como já mencionado no texto, de gramática irretocável. Isso deveria ser uma prática comum, mas hoje em dia não é bem o que vemos, infelizmente...

Mas o que mais me chamou atenção durante essa convivência de 14 anos que tive com o Márcio foi a generosidade.

Em março de 2010, eu estava há pouco atuando no meio do automobilismo, e o Márcio escolheu poucos jornalistas para uma videoconferência com o Bruno Senna, às vésperas de sua estreia na Fórmula 1, pela modesta Hispania.

O evento aconteceu em um suntuoso conjunto de um prédio imponente na Berrini, do extinto Banco Cruzeiro do Sul, então principal patrocinador do piloto brasileiro.

Lá, encontre com a Viviane Senna, que me atendeu muito bem, e que ficou feliz em saber que eu trabalhava com o Milton Neves. Aproveitei, saquei meu celular e liguei para o Milton, que estava na redação do Portal Terceiro Tempo, na Paulista, e coloquei ele em contato com a Viviane. 

Eu já estava bem estabelecido no trabalho, mas aquilo me deu um outro status em relação ao Milton, o que me ajudou bastante.

Graças ao Márcio, portanto...

Na manhã de 4 de novembro de 2016, li em alguma rede social que o Felipe Massa estaria no prédio em que trabalho, onde participaria ao vivo do "Pânico", da Jovem Pan.

Imediatamente liguei para o Márcio Fonseca, o Marcião, tentando um "encaixe", uma breve entrevista comigo no meu Bella Macchina, programa que criei em 2010.

O Márcio disse que o Felipe havia marcado aquele compromisso com o pessoal do "Pânico", mas ele não estava envolvido, basicamente por que o Felipe era amigo do pessoal de lá e ele mesmo, o Márcio, não gostava daquela turma.

Mesmo assim, em cinco minutos, no máximo, o Márcio retornou minha ligação, dizendo que depois do almoço o Massa me daria a entrevista.

Uau!

O Kennedy, companheiro e amigo de trabalho, me ajudou a montar a salinha onde eu sempre gravei o Bella Macchina, montou o tripé com a câmera, preparou os microfones de lapela... Eu peguei as garrafinhas de água, os copos...

O Massa foi de uma gentileza ímpar comigo e a entrevista se prolongou mais do que havíamos combinado.

O Milton "espalhou" em todas as suas redes sociais o fato de um piloto da Fórmula 1 (Massa era da Williams na ocasião), às vésperas do GP do Brasil, ter vindo ao seu "escritorinho". Até hoje repete que o Massa "desceu do avião e veio gravar o Bella Macchina comigo"....

Não foi bem isso, Milton...

Mas isso só aconteceu graças ao Márcio...

Pouco mais de um ano depois, em 21 de dezembro de 2017, sabendo que o Bruno Senna estava no Brasil, mais uma vez fiz um pedido ao Márcio, desta vez sobre o Bruno Senna, para que ele também viesse ao meu Bella Macchina.

Em pouco tempo , mais uma confirmação. Tudo foi agendado, agora com mais antecedência, o que me fez preparar uma mesa com várias miniaturas de carrinhos que eu tinha do Bruno, e outras que o Túlio Nassif, colega que trabalhava na época comigo, me emprestou.

Uma das que eu tinha, era o carro que o Bruno havia usado na Stock Car, da Prati-Donaduzzi, em uma Corrida do Milhão. 

O Bruno adorou a miniatura e disse que não tinha. Eu, então, dei o carrinho de presente ao Bruno, que gostou muito do mimo.

A entrevista, sem exagero algum, foi uma das melhores entre as 149 que fiz no meu Bella Macchina.

O Bruno é uma pessoa extremamente afável e gentil. Chegou com a namorada (hoje esposa, Ludovica) e do Márcio, que acompanharam toda a entrevista.

O Márcio ficou encantado com o espaço, cheio de fotos do Santos, que o Milton chamava de "Salinha do Santos", no escritório que ficava no 22º andar. Hoje estamos no 21º e a salinha do Santos não existe mais.

Mais uma vez ganhei elogios do meu chefe, por conta de ter trazido ao "seu escritorinho" um Senna...

Graças ao Márcio...

Falando em 22º e 21º andar, nesta mudança, em um armário que eu usava para guardar um monte de coisas, encontrei duas revistas do Santos Futebol Clube relativamente raras, com estatísticas, fotos e relatos de jogos antigos.

Conversei com o Márcio em outubro do ano passado, falando sobre as revistas, perguntando se ele tinha interesse nas revistas, que eu daria a ele.

Estávamos de mudança de um andar para o outro, e eu disse que assim que as coisas estivessem em ordem, combinaríamos um dia para ele ir na Paulista para a gente almoçar e ele levar as revistas. Ele respondem afirmativamente.

Muito pouco por tantas coisas que ele havia feito por mim...

Em janeiro deste ano (2024) eu mandei uma mensagem para o Márcio, perguntando quando ele gostaria de vir para o almoço e ficar com as revistas, que estavam reservadas para ele...

Não houve resposta. Ele já não estava bem.

Hoje (25 de março de 2024) eu abri minha gaveta aqui na redação e vi as revistas.

Puxa, Marcião, que pena...

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