Sérgio Barbalho

Experiente jornalista esportivo
Em 2008, Sérgio Barbalho completou 45 anos de profissão no jornalismo, a maioria deles no esporte.
 
Hoje, porém, é editor de revistas de associações, conselhos profissionais e empresas, desenvolvendo projetos de conteúdo nos setores da Saúde e do Direito. Por isso, lançou em 2008 o livro "Biomedicina ? um painel sobre o profissional e a profissão?, publicação dirigida aos profissionais e acadêmicos biomédicos e secretários estaduais e municipais de Saúde. Residente na capital paulista, também está concluindo um livro de personagens e fatos do jornalismo brasileiro.

Começou como foca, "com carteira assinada? em 1º de março de 1963, em um tablóide especializado chamado O Esporte. Tinha 18 anos, era estudante. Sempre quis ser jornalista.

Sérgio Barbalho dedica sua vida ao jornalismo e já trabalhou em praticamente todas as mídias, com destaque para os jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, A Gazeta Esportiva e Diário de S. Paulo, as emissoras de rádio Jovem Pan e Bandeirantes, as agências noticiosas Estado e Ansa, o portal Estadão e as TVs Cultura e Tupi. Atuou como assessor de comunicação em várias empresas e entidades e hoje é editor de revistas de associações, conselhos profissionais e empresas, desenvolvendo projetos de conteúdo nos setores da Saúde e do Direito.

Sua primeira experiência foi em 1962, com 17 anos: trabalhou no plantão esportivo da TV Tupi, ganhando um pequeno cachê para colher informações no rádio e passá-las ao apresentador Lucas Neto. Este tinha a missão de dar as notícias durante as transmissões de futebol do narrador Walter Abrahão.

A redação de O Esporte vivia lotada de jornalistas famosos. O jornal concorria com A Gazeta Esportiva, de grande penetração na Capital. Lá, deu os primeiros passos na profissão. A experiência, porém, só durou um ano, pois o jornal fechou. Mas logo foi chamado para trabalhar em outro jornal: Última Hora. Seu editor era um grande jornalista: Álvaro Paes Leme. Porém, Barbalho também ficou pouco tempo na UH: em 1º de abril de 1964 estava novamente desempregado. Os militares da Ditadura iniciada no dia anterior fecharam o jornal. Sérgio deu sorte de novo: o jornalista Walter Lacerda, que o conhecera na redação de O Esporte, chamou-o para trabalhar no Diário Popular.
Se antes Barbalho só cuidava de esportes amadores, no Diário passou a cobrir o futebol. Sua primeira missão: entrevistar o grande Nilton Santos, jogador do Botafogo do Rio, que treinava no estádio do Pacaembu para o jogo do dia seguinte, contra o Corinthians, pelo Torneio Rio-São Paulo.

O repórter aprendeu muito nesse jornal. Fez várias viagens pelo Brasil. E iniciou as coberturas internacionais: foi à Espanha com o Corinthians. Em Cádiz, acompanhou o time paulista que participava do Troféu Ramón de Carranza. Também esteve em vários países da África com uma seleção de novos da Federação Paulista de Futebol.

Convidado pelo jornalista Aroldo Chiorino, em 1972 foi trabalhar na Folha de S. Paulo. Depois, já sob a chefia de Dante Mattiussi, foi escalado para acompanhar a seleção brasileira em uma excursão por vários países ? Argélia, Tunísia, Itália, Áustria, Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, União Soviética, Suécia, Inglaterra, Escócia, Irlanda. No ano seguinte, novamente na Alemanha, cobriu a Copa do Mundo.

Além de Chiorino e Dante, Sérgio Barbalho contou com o apoio de outros jornalistas muito importantes para o crescimento de sua carreira. Entre eles, Boris Casoy e Cláudio Abramo. Na Folha, à época em que Sérgio Barbalho já era editor de esportes, a equipe comemorou a conquista de dois ?Prêmios Esso?, ambos do repórter Flávio Adauto, seu amigo e companheiro de várias missões profissionais.

Sérgio jamais poderia imaginar que um dia iria trabalhar em uma emissora de rádio. Mas isso aconteceu em 1978. Indicado por Cândido Garcia, apoiado por Orlando Duarte, foi contratado pelo jornalista Fernando Vieira de Mello para coordenar o departamento de esportes da Jovem Pan, exatamente no momento em que a emissora perdia o narrador Osmar Santos, grande revelação do rádio esportivo, para a Globo/Nacional. Surpreendida, a Pan apostou em José Silvério, até então terceiro narrador da equipe, como titular da equipe. Este foi um período revolucionário do rádio esportivo. Inteligente, versátil, excelente narrador, Osmar Santos montou sua equipe na rádio Nacional preocupado com o conteúdo jornalístico das transmissões de futebol. Contratou para organizar o esquema o jornalista Edison Scatamachia, do Jornal da Tarde. Paralelamente, a Pan promoveu Silvério e chamou Barbalho para desenvolver um projeto puramente jornalístico nas transmissões, dentro da filosofia imprimida ao veículo pelo diretor Fernando Vieira de Mello, reconhecidamente um mestre em comunicação.

Assim, Sérgio e Edison, antigos companheiros de Folha de S. Paulo, passaram a comandar equipes de rádio sem jamais terem trabalhado em emissoras. Ao contrário, só atuavam nas redações dos grandes jornais. Ambos aceitaram o desafio e passaram a ser rivais, em uma grande luta ética por audiência. Amigos fora do ambiente jornalístico, se transformaram em adversários na batalha por pontos no Ibope.

A revolução deu resultados, o rádio esportivo passou a ter maior qualidade jornalística. Osmar Santos explodiu na comunicação nacional, Silvério foi descoberto e transformou-se em sinônimo de excelência em transmissões de futebol. E o ambiente radiofônico tornou-se propício à abertura de espaço aos jornalistas da grande imprensa. A partir desse movimento passaram a ganhar lugar na produção de abertura de transmissões de jogos e programas de rádio profissionais de expressão dos grandes jornais, como Paulo Mattiussi, Michel Laurence, Tim Teixeira, Castilio de Andrade, Narciso James, José Eduardo Savóia, José Carlos Carbone e vários outros destacados profissionais. Na Pan, Sérgio estruturou as coberturas das Copas de 78 e 82 e conquistou prêmios. O mais importante deles: Troféu APCA, da Associação Paulista dos Críticos de Arte, como melhor programa de esportes ? Jornal de Esportes, que ele produzia em dupla com Cândido Garcia. Barbalho também foi responsável pelo projeto de criação do Terceiro Tempo, em 82, programa comandado por Milton Neves, idealizado para substituir o Show de Rádio de Stevam Sangirardi ? que trocou a Pan pela Bandeirantes.

Barbalho também trocou de emissora em 1983: convidado pelo narrador e chefe de equipe Darcy Reis, e indicado por Sangirardi, foi para a Rádio Bandeirantes para ser coordenador de esportes e produtor de programas. Lá Darcy e ele organizaram o esquema de cobertura da Copa do México, em 86. Por iniciativa de Sérgio, a Band contratou José Silvério em 1985. Mas Fernando Vieira de Mello, diretor da Jovem Pan, contra-atacou e levou Silvério de volta à Pan, pouco tempo depois. Em 2001 a Band recuperou Silvério, que lá se encontra até hoje, eleito há anos como o melhor narrador esportivo.

Na Bandeirantes, Barbalho também conquistou prêmios (novamente o Troféu APCA de melhor programa, Esporte Emoção, e o Troféu Ford Aceesp de melhor equipe). Sérgio foi receber o prêmio da Associação dos Cronistas Esportivos com Flávio Adauto (seu velho companheiro de Folha de S. Paulo e Jovem Pan). Ambos representaram Darcy Reis, já afastado da direção devido a uma doença que provocou sua morte em 89.

Desde 1980 Sérgio Barbalho também trabalhava no jornal O Estado de S. Paulo, para onde foi levado por Fausto Silva (o mesmo do Domingão do Faustão, da Globo), então repórter esportivo e seu colega na Jovem Pan. Sérgio foi contratado pelo editor Luís Carlos Ramos. Foi copy-desk, subeditor e editor. Deixou o Estadão em 89 e foi novamente para o Diário Popular, onde trabalhou como subeditor.

De 90 a 2000, Barbalho esteve na Agência Estado e no portal Estadão, retornando ao Diário Popular/Diário de S. Paulo para ser editor-assistente durante três anos. Em 2005, convidado por Flávio Adauto, chefiou a redação da equipe responsável pelo retorno da TV Cultura às transmissões esportivas. Comandou as jornadas esportivas da Cultura juntamente com Paulo Cezar Correa. Em 2006, novamente a convite de Flávio Adauto, então vice-presidente de Comunicações do Corinthians, Sérgio reestruturou o website social do clube.


No dia 06 de maio de 2011, o jornalista Sérgio Barbalho publicou em em blog (clique aqui e conheça) um texto sobre o único dia, em que José Silvério viajou mas não transmitiu uma partida de futebol.
Quando a transmissão improvisada de um incêndio toma o lugar do futebol

Recentemente, em seu programa das manhãs de domingo na rádio Bandeirantes, Milton Neves recordou-se de quando, na base do improviso, teve de narrar um incêndio que tomou conta de um edifício na Avenida Paulista.

Foi, provavelmente, a única vez que José Silvério viajou ao exterior, esteve em um estádio, viu a seleção brasileira jogar, mas não pôde transmitir a partida. Essa história tem 30 anos. E dela participaram Milton Neves, José Silvério, eu, e vários profissionais que trabalhavam na rádio Jovem Pan.

Era uma tranquila e ensolarada tarde de sábado, 14 de fevereiro de 1981. Avenida Paulista, esquina com a alameda Joaquim Eugênio de Lima. Edifício Sir Winston Churchill, 24º andar, sede da rádio Jovem Pan. A seleção brasileira estava pronta para enfrentar a Colômbia, nos preparativos para a Copa da Espanha, que seria disputada no ano seguinte. A emissora havia programado a transmissão do jogo com o narrador José Silvério, o comentarista Orlando Duarte e o repórter Wanderley Nogueira, diretamente de Bogotá.

Enquanto a transmissão não começava, Milton Neves, do plantão esportivo, levantava informações que seriam utilizadas a seguir. Na central técnica, o chefe Paulo Freire começava a manter contato com a Embratel para a abertura de linha internacional de áudio. Como coordenador do departamento de esportes, eu acompanhava tudo, aguardando o contato para combinar detalhes com a equipe que estava na Colômbia, tão logo a linha fosse liberada.
 
Havia pouquíssimas pessoas na emissora. A maioria estava de folga. Em uma viatura de FM, o repórter Chico Verani, único da equipe de jornalismo de plantão naquela tarde, circulava pelas ruas da cidade em busca de informação.

Foi quando todo o panorama mudou. Um incêndio irrompeu no Edifício Grande Avenida, na Paulista, provocado por um curto-circuito. As chamas começaram a tomar conta dos andares superiores do prédio. Notícia confirmada, Chico Verani passou a informar. Os poucos profissionais que estavam na emissora começaram a tomar providências visando uma melhor cobertura jornalística.

Paulo Freire, o chefe da central técnica, armado de cabos, microfones e fones, subiu para o último andar do prédio da Jovem Pan, uma sacada ao ar livre, e improvisou um local que permitisse a visão do edifício em chamas. Providência tomada, testou o equipamento e me avisou. E eu chamei o Milton Neves, que instantes após deixaria de ser o responsável pelo plantão de esportes para ancorar a cobertura de emergência daquele incêndio.

Milton subiu correndo os últimos lances de escadas até o 25º andar e colocou-se a postos. Instantes após, passou a comandar a transmissão naquele estúdio improvisado ao ar livre. Enquanto isso, repórteres que estavam de folga eram contatados por telefone para reforçar a cobertura. Outros, ouvindo a rádio, correram para o local mesmo sem convocação. Minutos após já estavam no local os repórteres Milton Parrom e José Nello Marques.

Enquanto isso, a Embratel abria a linha internacional. Avisei Silvério, Orlando e Wanderley sobre o incêndio. Eles se prepararam para o início da transmissão internacional diretamente de Bogotá que, obviamente, foi sendo retardada na medida em que as labaredas iam tomando conta da construção e se multiplicavam as viaturas do Corpo de Bombeiros de fronte ao edifício.

No fim, a jornada esportiva internacional deu lugar ao fato jornalístico mais importante daquele momento na capital paulista. Silvério não narrou o jogo, apenas informou sobre o seu andamento. Às vezes, Orlando Duarte dava uma idéia de como estava a partida. E o repórter Wanderley Nogueira divulgava alguma informação. A prioridade era outra, deixara de ser o futebol.

Milton Neves foi comandando o programa jornalístico, contando cada vez mais com um número maior de repórteres. Passava confiança como "âncora?, revelando que poderia se transformar em um bom apresentador, fato que se confirmou com o passar dos anos, a ponto de hoje Milton acumular vários prêmios e ser um profissional de sucesso no rádio e na TV.

Naquela tarde de sábado, eu, que iria coordenar uma transmissão de futebol, cuidei de uma cobertura jornalística especial da emissora, sobre um incêndio em São Paulo. Mais tarde, já sob supervisão do diretor de jornalismo da Joven Pan, Fernando Vieira de Mello, que chegou correndo à rádio para assumir o comando de tudo, tendo ao seu lado o chefe de reportagem José Carlos Pereira, a transmissão teve sequência.

Enfim, era para ser uma jornada de futebol. Virou uma cobertura de incêndio que entrou pela noite e só se encerrou quando as chamas já estavam dominadas e os bombeiros faziam o rescaldo.

Essa tragédia provocou 17 mortes e 53 feridos e revelou um herói: Cosme Barreiro, que havia resolvido adiantar seu trabalho em uma empresa instalada no edifício levando junto um casal de filhos pequenos naquele que era o seu dia de folga. As chamas o surpreenderam em pleno trabalho.

Isolado no andar de frente para a avenida Paulista, ele ergueu seus filhos, um a um, dependurou-os na janela do segundo andar, esticou o braço para baixo o máximo possível e largou-os em uma marquise. E, momentos antes de uma explosão, também se atirou ao solo pela janela. Todos se machucaram, mas se salvaram. O acontecimento ficou marcado na história da Avenida Paulista.

Quanto aos profissionais de rádio que atuaram naquele dia, onde estão hoje, após 30 anos da tragédia? Milton Neves, José Silvério e Milton Parrom trabalham na rádio Bandeirantes; Wanderley Nogueira, Chico Verani e José Carlos Pereira continuam na Jovem Pan; José Nello Marques atua na rádio Tupi; Orlando Duarte é escritor; eu, Sérgio Barbalho, produzo conteúdo e edito revistas. Fernando Vieira de Mello e Paulo Freire faleceram.
 
ABAIXO, TEXTO DE SÉRGIO BARBALLHO SOBRE A COPA DE 1974, NA ALEMANHA
 
Copa do Mundo. Como estará o clima na Rússia durante os jogos?
 
Em Moscou, palco maior da Copa dentro de quatro meses, a temperatura dá provas da proporção do inverno soviético. Nos últimos dias os termômetros oscilaram entre 11 e 21 graus negativos. Nem tão frio para os russos, mas muito frio para os brasileiros. E como será em julho, durante o Mundial?

Se as previsões se confirmarem, o verão não será quente nas três cidades em que o Brasil jogará na primeira fase: Rostov, São Petersburgo e Moscou. No sul do país, Roscov é fria e chuvosa, com temperatura média anual de 10 graus. Em julho pode atingir 23 graus. Em São Petersburgo chove bastante e a temperatura no meio do ano é de 17 graus. E a capital russa também tem clima frio e chuvoso, com média de 18 graus em julho.

Mas as previsões não impedem que surjam surpresas, como aconteceu na Floresta Negra, antes da Copa da Alemanha.

DRAMA DE NEVE E FRIO EM SCHWARTZWALD

Faltava um mês para o início da Copa do Mundo na Alemanha. Os jogadores da seleção brasileira ainda estavam no Rio. No domingo seria disputado o último amistoso, no Maracanã. À noite o grupo viajaria para a Europa, com desembarque na Basiléia (Suíça) e ida para a Floresta Negra, na Alemanha, de ônibus. Do programa constava um período final de preparação para o Mundial de 74 na concentração de Herzogenhorn, em Feldberg, Alpes alemães, na região conhecida como Schwartzwald (Floresta Negra). Depois, os brasileiros iriam para Frankfurt, local do jogo de abertura da Copa, dia 13 de junho, contra a Iugoslávia.

Repórter escalado pelo editor Dante Mattiussi para a cobertura da Copa para a Folha de S. Paulo, eu, Sérgio Barbalho, viajei para a Europa no inicio de maio, juntamente com o companheiro Flávio Adauto e o fotógrafo Fernando dos Santos, dias antes do embarque da seleção. Chegamos à Basiléia numa sexta-feira.

No dia seguinte, em carro alugado, seguimos para a Floresta Negra, em uma viagem de apenas 50 quilômetros, mas difícil por ser em região montanhosa, com pista estreita e muitas curvas. Bem perto do hotel escolhido pela Comissão Técnica para concentração da seleção, em Feldberg, fomos surpreendidos pela neve.

Na subida em direção ao hotel Herzogenhorn, a situação ia se complicando, com mais neve, queda de temperatura e muita cerração. No cume era quase impossível enxergar as construções e o campo de treinamento. Péssima notícia para a seleção, que em 48 horas estaria no local e antes, em 24 horas, disputaria um jogo no Maracanã sob uma temperatura em torno de 30 graus.

Em dezembro de 1973, quando o técnico Mário Lobo Zagallo e o médico Lídio Toledo estiveram na Floresta Negra para escolher um local de concentração para o grupo, não foram informados que em maio ainda poderia haver neve e baixas temperaturas na região. Se soubessem, escolheriam outro local. E evitariam os muitos problemas que ocorreram e prejudicaram a participação do Brasil na Copa.

Quando nos refizemos da surpresa em plena Floresta Negra, reunimos todas as informações disponíveis ouvindo administradores do hotel, funcionários e seguranças enquanto o fotógrafo Fernando registrava as imagens do local. E retornamos a Basel.

No hotel, o fotógrafo improvisou um local para revelar os filmes e preparar as fotos. Era 1974, não havia internet, computador, celular. Desmontou o telefone, instalou o aparelho de transmissão de telefotos na linha telefônica e transmitiu as imagens para a sede da Folha de São Paulo, na alameda Barão de Limeira, nos Campos Elíseos, em São Paulo. Todo esse processo demorou um bom tempo.

Enquanto isso, Flávio e eu trocamos ideias, estabelecemos quais matérias que faríamos e começamos a datilografar em máquinas de escrever portáteis que carregávamos para todos os cantos.

Em 1974 também não existia o fax. Teríamos de utilizar máquinas de teletipo para a transmissão por linha telefônica. Antes de deixarmos o Brasil havíamos pedido a instalação de um telex no nosso apartamento. Mas como havíamos chegado à Suíça na véspera, sexta-feira, o equipamento não estava instalado. Também não podíamos nos socorrer de teletipos do correio suíço porque tudo estava fechado na tranquila Basiléia no início da noite de sábado. E o telex do hotel estava em reparos.

A alternativa que restou foi telefonar para o Brasil e ditar as matérias para um profissional do setor de comunicações da Agência Folhas digitar o texto. Trabalhamos muito e por longo tempo. Mas o material completo foi entregue à redação pouco antes das 19 horas, com tempo de ser aproveitado na edição de domingo do Caderno de Esportes da Folha.

Fomos beneficiados pela diferença de fuso horário entre o Brasil e a Suíça, que era de quatro horas. Em Basel estávamos perto das 23 horas. Cansados, mas satisfeitos, fomos para a estação ferroviária, único local possível naquela hora para fazer um lanche.

O importante de todo esse esforço: a Folha de S. Paulo foi o único jornal brasileiro a mostrar no domingo, dia do tal jogo de despedida da seleção no Maracanã, que os jogadores e a Comissão Técnica encontrariam no dia seguinte, em Feldberg, na Alemanha, uma concentração cercada pela neve e pelo frio. Não poderia ser pior a recepção para a Copa do Mundo.

Até arriscamos algumas previsões: de que seria muito difícil a preparação em gramado molhado e pesado, com vento e cerração. E que o clima poderia ser o responsável por contusões musculares pouco antes da estreia no Mundial.

Não deu outra: durante a fase final de preparação, na Floresta Negra, vários treinos foram adiados devido ao mau tempo, outros foram realizados dentro da concentração pelo mesmo motivo. E vários jogadores sofreram contusões. A maior baixa foi Clodoaldo. Titular absoluto, integrante da seleção tricampeã em 1970, na Copa do México, ele foi vítima de uma contusão muscular, não conseguiu se recuperar e acabou sendo “cortado” da Copa pelo médico Lídio Toledo.

Mas as péssimas condições climáticas não atingiram só os jogadores. Vários jornalistas tiveram de procurar o auxílio médico. Como também foram obrigados a comprar roupas de inverno e botas contra a umidade.

Um repórter de São Paulo, inclusive, teve de ficar acamado, em tratamento: Elói Gertel, vítima de uma pneumonia, desfalcando a equipe do Jornal da Tarde. Foi substituído por um bom tempo pelo repórter Cândido Garcia, que estava trabalhando pela rádio Jovem Pan e acumulou funções para ajudar o companheiro de profissão.

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