Roberto Souza

Jornalista e radialista

História de Roberto Souza, jornalista, radialista, especialista em comunicação corporativa

Texto escrito por ele mesmo.

O Início

Aprendi a falar, quando criança, ouvindo a rádio Nacional do Rio de Janeiro, na cidade paulista de Piracicaba, onde nasci em outubro de 1955. O aparelho, bem grande, era chamado de “caixão de abelha”. Ficava em cima de uma cômoda. Meu pai trabalhava em uma indústria metalúrgica. Minha mãe, ex tecelã da Fábrica Boyes, arrumava a casa e preparava as refeições e eu, ainda sem idade para ir para a escola, ficava ali, ouvindo e imitando os grandes locutores da famosa emissora carioca como Cesar Ladeira e Heron Domingues, que apresentava o Repórter Esso, além das famosas radionovelas.

Gostava de ler os livros que meu avô por parte de mãe, José do Amaral, que frequentava os meios culturais da cidade, me dava com frequência. Lendo bastante, passei a escrever com muita facilidade. Assim, quando cresci, já escrevia para o jornalzinho da Escola Estadual Jeronymo Gallo, na Vila Rezende.

Na década de 1970, a onda era ter formação na área técnica, ou seja, fazer o colegial técnico. Diziam que havia engenheiros demais.

Entrei para a Escola Industrial da cidade, Coronel Febeliano da Costa, hoje uma ETEC. No segundo ano, já trabalhava como revisor de O Diário. Logo em seguida entrei para a Rádio A Voz Agrícola do Brasil, vinculada à Rede Piratininga e percebi que a minha vocação era para a comunicação. Terminei o curso técnico e fiquei um ano esperando uma chance de cursar jornalismo. A chance veio no ano seguinte, com a implantação do curso de Comunicação Social, depois transformado em Jornalismo, na Universidade Metodista de Piracicaba. Consegui estudar, graças a uma bolsa rotativa oferecida pelo diretor proprietário de O Diário, o renomado jornalista e escritor Cecílio Elias Neto.

Sonho

O meu sonho era trabalhar em rádio em uma cidade grande. Fiz testes no Rio de Janeiro e em São Paulo. Vi de perto vários de meus ídolos da época como Alexandre Kadunc, Hélio Ribeiro, Celso Freitas, Luis Aguiar, Silvio Santos, Barros de Alencar, Antonio Celso e Milton Neves, que já era famoso na rádio Jovem Pan, além de outros monstros sagrados do rádio, no Rio, como Adelson Alves, Antonio Carlos, Cidinha Campos, Amaral Neto, Haroldo de Andrade e Waldir Amaral. Ia com a cara e a coragem. Após os testes ouvia a velha desculpa: “infelizmente não temos vaga”.

Um ano depois de formado, já em 1978, trabalhava na Rádio Educadora de Limeira, da família Bortolan, na Difusora de Piracicaba dirigida pelo José Roberto Soave, na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Piracicaba, do saudoso Prefeito João Hermann Neto e à noite dava aula no cursinho supletivo João Wesley dirigido pelo competente professor Moacir Rodrigues. Foi ali, de uma forma inesperada, que surgiu a primeira oportunidade de iniciar a realização de meu sonho. Um dos diretores da Escola, o dedicado Professor Severino Galdi, conhecia um diretor da Rádio Capital, o Professor Arnold Fioravante (ex Deputado Federal) e precisava se encontrar com ele em São Paulo.

Galdi me convidou e aceitei na hora. Para minha alegria e surpresa, meu teste foi entrevistar o diretor de jornalismo da emissora, Alexandre Kadunc. Levei o maior susto quando entrei na sala. Ele estava com os dois pés sobre a mesa, fumando um enorme charuto, envolto em fumaça. Parecia um Pai de Santo. O tema da entrevista ,ele deixou para minha livre escolha. Optei por perguntar sobre a cobertura da guerra do Vietnã, que ele havia feito alguns anos antes, com muito sucesso para a Rádio Bandeirantes. No final, a mesma resposta: no momento não temos vaga. Algumas semanas depois, recebi, na Difusora, um telefonema da secretária do Kadunc, informando que a vaga tinha surgido e que eu era o primeiro de uma lista de dez candidatos a serem contatados. Teria que começar já na segunda-feira, da semana seguinte, às 7 horas da manhã. Era pegar ou largar. Larguei tudo em Piracicaba e fui para São Paulo. A Rádio Capital iniciava uma disputa de audiência com jornalismo ao vivo, 24 horas em Rede Nacional, na frequência 1040 Kilohertz, com sintonia em todo o País. Sua principal concorrente era a Rádio Jovem Pan.


Na Capital


Pronto: estava na maior vitrine do Brasil. Comecei na reportagem, acumulei apresentação de programas musicais e de jornalismo. Alguns meses depois entrei para a Rádio Bandeirantes FM, no Morumbi, onde o locutor também operava a mesa de som. Conheci grandes nomes como José Paulo de Andrade, Vicente Leporace, Henrique Martins, Muibo Cesar Cury, Darcio Arruda, Darcio Santos e Fiori Giglioti. Fazia o horário das 6 às 9 da manhã. Passei à entrar às 9h30 da manhã na Capital, que ficava na Av. 9 de julho. Descia do Morumbi para os Jardins, “voando” com minha Brasília de cor vinho para chegar a tempo. Era uma época de muita camaradagem.

Assim que estacionava o carro, ia correndo para a viatura e o motorista já estava com a pauta nas mãos, para que eu pudesse dar a manchete ao vivo no programa apresentado pelos queridos João Leite Neto e Walker Blaz. Na Capital, estavam Sargenteli, Rodolfo Gamberini, Ramos Calhelha que acabava de chegar de A Voz da América, entre outros. A maré estava boa para mim. Menos de seis meses depois já estreiava em um veículo que para mim era muito novo: a televisão. Passei a apresentar o Jornal da TV Gazeta, da Fundação Cásper Líbero, no período da noite. Em um ano de São Paulo, já trabalhava, ao mesmo tempo, em três empresas de comunicação e acumulava o que seria hoje, pouco mais de 40 salários mínimos mensais.

Era uma época com poucos recursos técnicos, em que era preciso usar muita criatividade. Para entrevistar a tripulação do navio Besnard, da USP, que estava em expedição pela Antártida, contei com a ajuda de um radioamador, faixa cidadão, de Piracicaba. Foi um furo de reportagem. Também fui escalado para a primeira grande viagem internacional: a visita da comitiva do presidente Figueiredo à Alemanha e a inauguração da primeira turbina de Itaipú, na tríplice fronteira. Guardo ainda o primeiro, de um total de 4 passaportes que registram minha passagem por 65 países e mais de 200 cidades pelo mundo. Pela Capital, ganhei o cobiçado Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog, pelas extensas reportagens sobre as invasões de terrenos e de prédios e reintegração de posse em São Paulo, muito comuns na época.

Lembro-me muito bem, com tristeza, de uma das desocupações ocorrida em um terreno da Fundação Getúlio Vargas, na Zona Oeste de São Paulo, onde consegui ajudar uma família a retornar para Pernambuco. A família toda estava chorando na calçada, enquanto a PM destruía os barracos, com ordem judicial. Fui conversar com o pai da família Senhor Antonio. Ele disse que tinha sido enganado por um sujeito falador, que garantiu que, se vendessem o que tinham no nordeste, e pagassem uma determinada quantia, teriam de graça um terreno em São Paulo, terra das oportunidades. Claro, era um golpe e o homem desapareceu com o suado dinheiro de todo mundo, prejudicando um grande número de famílias, como a do “Seu” Antonio.

Camaradagem

Sempre gostei de conversar com todos os funcionários por onde andei. Reconhecia que um motorista, um operador de som, um simples auxiliar, pode fazer diferença na hora da correria, ou seja, pode te ajudar muito no dia a dia, quando se sente valorizado. Eu vivia quebrando o galho deles, passando no Mappin, com o carro da reportagem, para que eles pudessem pagar seus carnês ou parando em padarias para tomar um cafezinho. Tudo sem prejudicar o trabalho. Durante as longas esperas para entrevistas com ministros, em visita à São Paulo, ou esperando o inicio de uma entrevista coletiva na Fiesp, aproveitava para conversar com outros colegas e auxiliares destes sobre a rotina em suas respectivas emissoras.

Foi num desses bate papos, que o câmera apelidado de “Chileno”, do SBT, me disse que a emissora estava fazendo testes com repórteres para a cobertura do Carnaval de 1984 e que os dois melhores seriam contratados para a equipe de jornalismo. No mesmo dia, liguei para o Diretor de Jornalismo Arlindo Silva, fui escalado para a cobertura no sambódromo que ainda era na Avenida Tiradentes e, de quebra, ainda consegui levar minha cunhada, na época, a criativa jornalista Margarida Knaster. No final da cobertura, eu e ela fomos contratados.

Lá no SBT, nos anos 1980, fiz uma longa carreira. De repórter iniciante, fui subindo, até chegar a repórter especial. Já não participava mais do Aqui Agora e dos jornais locais, só dos jornais de Rede. As promoções nunca foram espontâneas, sempre ocorreram com minha solicitação em momentos estratégicos. Fui acumulando as funções de apresentador do jornal local, o Cidade 4 e do jornal de Rede, o Noticentro, ao lado de grandes nomes como Antonio Casale, Fausto Rocha e Beth Russo. Algum tempo depois, Silvio Santos precisava fazer um approuch com os ministros do governo do Presidente João Figueiredo e criou um programa de entrevistas chamado “Ideia Nova”.

Lá fui eu como âncora, desempenhar a minha quarta função na emissora. A melhor parte acontecia depois do programa. Todos, íamos para a torre que ficava no Sumaré. No anel da torre havia uma instalação com mesas e cadeiras e uma sala reservada. A comida vinha de fora, dos melhores restaurantes de São Paulo. Ali, durante o jantar, Silvio conversava em particular com a autoridade convidada. A comida e a bebida eram de primeiríssima qualidade. O Diretor Arlindo gostava de tomar licor de “poire”, licor de pera, mesmo costume do famoso Constituinte, Ulisses Guimarães, que também passou pelo “Ideia Nova”. Ainda no SBT, participei de grandes coberturas como a Campanha das Diretas, a Constituinte, em Brasília, a agonia e morte do Presidente Tancredo Neves. Arlindo, autor do livro “A fantástica história de Silvio Santos”, foi muito gentil, citando meu nome como um dos profissionais que se destacaram naquela Casa. Todos os departamentos estavam concentrados na Vila Guilherme, o que dava a oportunidade de cruzar pelos corredores e, às vezes, até conversar, com grandes astros como Flávio Cavalcanti, Moacir Franco, Jacinto Figueira Junior, Gugu Liberato e estrelas como Hebe Camargo. Pena que na época não tinha celular para registrar esses momentos.

Ancoragem

Simultaneamente ao trabalho no SBT também trabalhei na rádio Excelsior, que depois virou CBN, onde fiz parte da primeira leva de âncoras da Rede, apresentando o “Show da Notícia”. Tive a oportunidade de realizar outro sonho: apresentar “O Globo no Ar”, famoso noticiário de hora em hora na Rádio Globo, que atingia picos de mais de um milhão de ouvintes por hora, em todo o Brasil, além de “Os debates do Show do Paulo Lopes”. Um corredor dividia as duas emissoras de rádio. Aprendi muito com a genialidade do jornalista Heródoto Barbeiro, Diretor de jornalismo. Ainda não existia telefone celular e as reportagens eram feitas todas ao vivo, pelo microfone com enorme extensão em cabo, do sistema Motorola, conectado ao painel dos carros de reportagens. Também entrava no ar pelo telefone ou gravava as entrevistas e enviava rapidamente para a central técnica para ir ao ar, como se fosse ao vivo. Lembro-me de duas façanhas do Heródoto: durante um assalto a um banco em uma capital do nordeste, ele ligou para a agência. Um dos assaltantes atendeu o telefone e passou a falar no ar.

Foi um grande furo de reportagem. Em outro momento, o Diretor entrou em cadeia com a Rádio Bandeirantes para uma entrevista conjunta com dois personagens do governo. Parte da minha história no rádio, está descrita no importante e histórico livro “100 anos de rádio no Brasil”, de autoria de três grandes nomes do jornalismo brasileiro: Heródoto, Nilo Frateschi e Fernando Vitolo. O livro tem QR code para acesso aos depoimentos. Está na página 116.

Do SBT passei para a estreante Rede Manchete de Televisão, que tinha a melhor imagem do Brasil com os equipamentos Ikegami, importados do Japão. Participei da campanha do candidato Paulo Maluf à Presidência da República, em suas várias viagens dentro e fora do Brasil e, também da campanha de Fernando Collor de Mello. Fui levado para lá pelo grande jornalista e líder, James Rúbio, que era locutor oficial de “O Globo no Ar”. Foi ele quem descobriu minha habilidade nas transmissões ao vivo, por meio dos links que entravam diretamente nos jornais locais e de rede, via terreste ou via satélite. Era muito exigente, perfeccionista, mas muito justo. “Se precisar faltar, não precisa inventar que nenhum parente morreu.

É só contar a verdade e falar comigo”, dizia James. Outra frase famosa dele: “Matéria boa é matéria que vai para o ar”. Explico: às vezes os repórteres queriam gravar mais uma entrevista ou mais imagens para completar a reportagem. Mas isso atrasava a edição e havia o risco de a matéria não ir ao ar naquele dia, daí a verdade na frase dele. Em TV normalmente se grava 30 ou 40 minutos de entrevistas e imagens, que nas mãos do editor de texto (jornalista) e do editor de imagem (radialista), se transformavam em menos de dois minutos de matéria completa, editada e às vezes sonorizada com alguma trilha. Na Manchete, que funcionou num sobrado no bairro do Sumaré e, depois, em um belo edifício, projetado por Oscar Niemayer na Casa Verde, tive a oportunidade de, além de atuar como repórter, também de apresentar os jornais locais, sob as orientações do grande gênio da TV, Newton Travesso.

Novela

A Rede Manchete entrou para a história com a produção de grandes novelas como Pantanal. Participei desta novela histórica. Mas não como ator. Fiz uma reportagem que foi ao ar no Jornal da Manchete, sobre o aparecimento de um filhote de jacaré nas águas do Rio Tietê, em São Paulo. E o inteligente e hábil autor Benedito Rui Barbosa incluiu a reportagem em um diálogo entre os personagens Juma e Tadeu, sobre a fuga dos animais do Pantanal para outras regiões. Um dos slogans que marcaram a Manchete era: “Aconteceu, virou manchete”. O problema lá era de gestão, sob o comando de um parente do empreendedor Adolpho Bloch. O império Manchete foi construído a partir do mandato do Presidente JK. Adolpho e JK eram muito amigos. Foram décadas de muito trabalho e um rápido desmoronamento. A Manchete faliu. Deu calote em meio mundo e virou Rede TV pelas mãos de novos proprietários que nem eram do ramo.

A Manchete atrasava os salários. Para pagar o que seriam meus “boletos” da época, fui em busca de novos desafios. Fui contratado como repórter de A Voz do Brasil em São Paulo e como âncora de um programa segmentado, em horário comprado na Rádio Imprensa e totalmente patrocinado pela Blue Life, dos saudosos jornalista José Roberto Rocha e do médico, Dr. Ayres da Cunha, proprietário do Plano de Saúde. Durante 4 anos entrevistei médicos de todas as especialidades da época, além de profissionais de todas as áreas da saúde. Amigos médicos, costumam dizer para meu orgulho, que eu fiz pós-graduação na área, só falta a graduação. Sem dúvida é uma grande homenagem. O famoso e competente repórter Edvaldo Tietz que tem um belo currículo em emissoras por todo o Brasil, me entrevistou recentemente e fez uma pergunta, como sempre muito inteligente:”Você faria igual, tudo de novo?” Olhei par ele e para o criativo câmera Elvecio Rui e respondi sim, só acrescentaria a faculdade de medicina. Meu sonho era ser médico de família ou hematologista. Mas esse sonho fica para a próxima encarnação kkk.

Na Voz do Brasil produzia texto e áudio. Inovei ao passar os textos de um rascunho, diretamente para o telex, adiantando em mais de uma hora o envio do material para Brasília, de onde eram revisados e distribuídos para jornais e emissoras de todo o Brasil. O sistema convencional era gravar, ouvir (decupar), datilografar na máquina de escrever portátil, revisar, passar para o operador de telex que enviava para Brasília para nova revisão, em um ritmo nem sempre rápido.

Flecha ligeira

A experiência da velocidade no rádio e nos programas ao vivo na TV, me ajudaram muito no desempenho em “A Voz do Brasil”. O diretor nacional, Marco Antonio Kramer, me apelidou de “Flecha Ligeira” e me convidou para ir trabalhar em Brasília. Mas preferi ficar em São Paulo. Cobri todos os planos econômicos que eram lançados, verdadeiras aventuras, para tentar conter o monstro da inflação.

Também transmiti ao vivo, tragédias como acidentes aéreos em São Paulo, sofrendo junto com familiares e amigos, que buscavam por informações que as autoridades e as companhias aéreas demoravam para liberar.

Por volta de 1996, já cansado de ter os salários atrasados na Manchete e de trabalhar em um ritmo maluco, falei com o competente jornalista Vinicius Dônola, que tinha me contado, com entusiasmo, sobre o sucesso que os radialistas e jornalistas brasileiros faziam em emissoras de rádio da cidade do Porto, em Portugal, e quase fui para lá. Quando ainda estava avaliando as possibilidades, novamente me ligou o James Rúbio, me oferecendo reportagem nos links ao vivo no Programa Cidade Alerta, da Rede Record, para onde ele estava se transferindo como Diretor de Jornalismo. Aceitei na hora.

Aprendi muito com James e com os apresentadores, principalmente com o Milton Neves, que respeitava muito os repórteres e os personagens envolvidos. Os comentários do Milton Neves eram precisos e cheios de humanidade. Ele deixava o repórter reportar, diferentemente de outros âncoras, que tentavam substituí-los, narrando do estúdio, sobre as imagens geradas pelos cinegrafistas, escanteando o profissional que estava lá justamente para esta função.

Fiquei aproximadamente 6 anos no Programa Cidade Alerta e, no total, 13 anos na emissora. Era uma época de muitas chacinas em São Paulo. Não aguentava mais ver tanta desgraça. Sai do programa sanguinolento e fui para o Fala Brasil. Ajudava a produzir as reportagens, sempre ao vivo. Foi uma época muito boa. Até quando fui eleito para a diretoria do Sindicato dos Radialistas. Também atuava junto ao Sindicato dos Jornalistas, que me orientou para fazer parte da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), na sede, já na Barra Funda. Fui o mais votado entre os candidatos da emissora.

Perseguição

Defendia o diálogo com todos, para conseguir avançar em algumas conquistas, principalmente em relação à melhoria das condições de segurança e de trabalho. Alguém, na emissora, não deve ter gostado muito da ideia e fui colocado na “geladeira”, algo que hoje seria facilmente classificado como assédio moral. James Rúbio, já não estava mais na direção de jornalismo e os dois outros diretores que o sucederam, disseram que estavam recebendo ordens de cima. Executaram a suposta e eventual ordem com bastante crueldade, atuando como capatazes. Nem vou citar os nomes deles aqui para não dar “Ibope” para ambos, que desapareceram do cenário jornalístico. Ambos tinham duas subalternas, chefes de redação que foram suas aliadas na missão desumana. Eles foram bastante criativos: me escalavam para ir para as sucursais da Record em São José do Rio Preto, em Salvador, na Bahia e até em Belém do Pará. Chegava lá, o hotel era uma espelunca, a verba para comer mal dava para comprar um sanduiche de mortadela. E na redação local meu nome não estava na escala, não tinha trabalho para fazer, provocando constrangimentos nos jornalistas locais que se solidarizavam comigo.

Quando retornava dessas cidades, depois de algumas semanas, continuava sem função na redação em São Paulo.

Certa vez, o assistente de estúdio, apelidado de “Argentino”, muito próximo do Bispo Honorilton Gonçalves, líder da Igreja Universal, proprietária da emissora, me deu uma sugestão: “fale com o Bispo que você quer trabalhar para ver se ele resolve esse problema”.

Na verdade, não conseguia descobrir de onde tinha vindo a estranha e misteriosa ordem para me perseguir. Poderia até ter partido dele. Mas pensei: perdido por cem, perdido por mil. Montei uma estratégia e organizei uma fala curta, de 30 segundos. Na época, o Bispo reunia muitos funcionários no auditório para uma oração ao meio dia. No final, ele se dirigia aos elevadores para retornar para sua sala. Foi nesse trajeto que o abordei de forma muito tranquila. Os seguranças que o acompanhavam já me conheciam e deixaram eu me aproximar. Disse: ”boa tarde Senhor Bispo, não sei se o senhor sabe mas eu sou o funcionário mais caro da Record. Isso porque recebo o salário, mas não me deixam produzir mais nada na reportagem para justificar o que eu ganho. Não me deixam trabalhar. O sr. poderia verificar o que está acontecendo e pedir para a direção de jornalismo me escalar novamente para as reportagens?” Ele me olhou por alguns segundos e disse de forma muito cordial, sem fazer nenhuma pergunta: “Vou ver o que eu posso fazer”.

Uma semana depois, o Diretor de jornalismo de plantão me chamou, tendo como testemunha a tal chefe de redação. O Diretor, mostrando muita irritação ainda tentou me dar uma lição de moral dizendo: “você passou por cima da Direção de jornalismo e foi falar direto com o Bispo, mas não vai adiantar muito não. Ele autorizou a sua volta para a reportagem, mas não temos equipe de externa para você”. Eu não aceitei a provocação e apenas respondi: “Ótimo, não se preocupe, vou falar novamente com ele, para arrumar equipe para eu poder trabalhar”. O Diretor parecia querer me fuzilar com seu olhar perdido, escondido atrás de grossas lentes. Mal dava para ver o rosto dele, também escondido por espessa e mal cuidado barba negra. O fato é que, na semana seguinte, já estava retornando ao meu ofício de repórter. Mas já não era como antes.

Ora era escalado para trabalhar nas madrugadas, ora nos horários noturnos, ora para cobrir vários plantões seguidos de fim de semana.

Mas não imagine que o assédio imoral parou. Quando a fita com as gravações, imagens, entrevistas e a minha “passagem” com o microfone nas mãos, chegava na redação, o editor era orientado para eliminar minha imagem. Assim, só aparecia a minha voz, em off, constrangendo os editores. Esses sim, viviam perguntando e questionando a direção sobre o porque de tamanha monstruosidade.

Só pra se ter uma ideia do descalabro, a perseguição não respeitava nem o telespectador. Em vez de me chamar pelo nome, o apresentador Datena, por exemplo, dizia somente, veja agora a reportagem e entrava só a minha narração em off. Era retirada também a identificação do nome, em caracteres, que normalmente aparecem no rodapé da tela. A estratégia era me vencer pelo cansaço para que eu pedisse demissão. Eles não queriam me demitir e pagar o tempo de estabilidade proporcionado pela atuação sindical e por ser da CIPA. Apostavam que eu não aguentaria tamanha pressão. Foi o que me confidenciaram algumas pessoas do Departamento Jurídico e do RH da própria emissora, que gostavam do meu trabalho e da minha pessoa. Mas administrei tudo isso, utilizando os valiosos recursos que aprendi durante um curso fantástico sobre Programação Neurolinguística, que frequentei durante dois anos, em uma mansão no Ibirapuera.

Assim, consegui evitar que essa onda do mal me abatesse moral e fisicamente. Esse assunto foi publicado pela Folha de São Paulo, em uma coluna sobre os bastidores da TV. O barbudo saiu da Record. Veio outro, que mal tinha aprendido a fazer reportagem com câmera escondida e por ter bom Q.I. (quem indicou) ocupou aquele cargo. Mesmo se dedicando pouco à rotina da redação, por ter outros interesses, o novo Diretor, continuou me sacaneando, até chegar o vencimento de minha estabilidade, que coincidiu com minha aposentadoria, em 2009, 13 anos depois de minha estreia na emissora. O Sindicato dos Jornalistas havia conseguido, em Convenção Coletiva, um acordo pelo qual nenhum jornalista poderia ser demitido, dois anos antes de se aposentar. E o mistério sobre quem teria ordenado a perseguição persiste até hoje!!!

Assessoria

Sempre atuando em TV e Rádio ao mesmo tempo, passei a produzir boletins para rádios do interior, no formato que hoje chamam de “podcast”.

Voltando no túnel do tempo, por volta do ano 2000, com 4 anos de TV Record e atuando também na rádio Record, como convidado de programas de variedades e jornalísticos, percebi que muitas empresas e instituições procuravam jornalistas para atuarem como assessores de imprensa, ou seja, profissionais que transformam conteúdos de interesse comercial ou de marketing em notícias de interesse público, claro, com muita sutiliza e com roupagem jornalística. Foi aí que eu e minha esposa e sócia, a economista Sonia Regina Martins de Souza, criamos a Agência de Comunicação RS. Quando me aposentei na TV Record em 2009, já estava com a Agência bem consolidada, por meio da experiência da Sônia, que havia treinado anteriormente equipes de vendas para várias empresas e demonstrou ter grande talento, também, para a área de comunicação corporativa, tanto na gestão como na formatação e condução de projetos.

Neste meio tempo, também fizemos produção e veiculação de vários programas corporativos no Canal Comunitário de São Paulo, atual TV Aberta.

Na RS, atualmente, atuo em projetos especiais e em coberturas de Congressos Médicos nacionais e internacionais, além dos Jobs, como mestre de cerimônias e consultoria na elaboração de roteiros para esses eventos. De agência de assessoria de imprensa, expandimos para a atuação de uma agência de comunicação 360. Para atender as demandas, criamos a RS Editora, especializada em boletins, jornais e revistas online e off-line.

Lições

Durante o período em que fui professor no Colégio João Wesley, nas Faculdades Metropolitanas Unidas- FMU e na Faculdade Anhembi Morumbi, sempre transmiti para os alunos, as principais lições que aprendi durante a minha jornada: valorizar todos os que fazem parte da cadeia produtiva onde atuamos; estar atendo às novas oportunidades na carreira; ampliar o network; inovar; estar sempre atualizado (além de vários cursos fiz duas pós: uma sobre comunicação corporativa na Anhembi-Morumbi e outra na USP) e; ter uma atuação responsável e ética. Foi tudo isso que me manteve contratado e, no ar, ininterruptamente durante quase 40 anos, sem ficar um mês desempregado e o que me mantem até hoje como diretor da Agência RS, atuando em um mercado cada vez mais desafiador.

Essa experiência, também transmito para minha filha única, Vitória Adelaide, que resolveu seguir por uma área tão envolvente e extraordinária como o jornalismo e a comunicação corporativa: o curso de Relações Internacionais. Agradeço sempre ao Grande Arquiteto do Universo por me proporcionar esta grande viagem, de um mundo analógico para um mundo cada vez mais digital e veloz. Em poucas décadas, saí de um mundo que se comunicava via telex, bip, radiofotos, radio AM e impressão em preto e branco, para me conectar com as novas tecnologias, que a todo o momento são reinventadas. Agora sim, consegui viver plenamente na Aldeia Global, conceito criado na década de 1960 pelo filósofo canadense Marshall Mcluhan, nome parcialmente odiado, inexplicavelmente, por alguns professores antigos da USP!!

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