Imagine a situação: você é santista roxo e, desde pequeno, costumava - acompanhado de seu pai - frequentar a Vila Belmiro para assistir aos jogos do Peixe. No momento, você é jogador profissional de futebol e defende as cores do Guarani. Eis que surge uma proposta oficial do clube que sempre foi o principal `inimigo´ do seu time do coração. O que você faz? Aconteceu com Renato Abreu e, em um primeiro momento, ele optou por recusar a oferta. Aposentado desde 2013, quando encerrou a carreira após passagem justamente pelo Santos, ele conta ao UOL Esporte o que o fez mudar de ideia e topar jogar pelo Corinthians.
"Antes eu era muito fanático pelo Santos. Eu ia para estádio junto com o meu pai e torcia para o Santos como louco, e eu nunca imaginei jogar no Corinthians, tanto que a primeira proposta para jogar no Corinthians eu recusei. Eu falei: `eu não vou´. Sem dúvida, o sonho do meu pai era que eu jogasse no Santos. Era um sonho meu também, a gente era fanático pelo Santos, só que surgiu a proposta do Corinthians e eu recusei. Eu me sentia tão bem no Guarani e eu não tinha essa visão toda de que o Corinthians seria o melhor para mim. E como eu gosto sempre de cumprir os meus contratos eu falei: `Pô, eu não vou sair do Guarani agora, eu vou cumprir o meu contrato´. Aí entrou o empresário [Cláudio Guadagno], de saber visualizar o mercado e falar o que era bom e o que era ruim, e era Corinthians. `Não é só você que estará lá, tem outros jogadores que vão chegar junto com você´, tanto que naquela época chegou eu, Doni, Fabricio, Fabinho, Leandro Guerreiro, Luciano Ratinho, uma galera nova que se enturmou, então eu fiquei à vontade, e também com jogadores experientes que tinham conquistado o Mundial. Então, para mim, foi uma maravilha. Quando comecei a visualizar a minha profissão, eu não pensava em Corinthians, nada. O negócio era seguir a profissão sem pensar no clube que eu ia vestir a camisa, e o Corinthians foi uma maravilha para mim", conta Renato, indicado ao Corinthians pelo técnico Vanderlei Luxemburgo.
Torcia para o Santos como louco, e eu nunca imaginei jogar no Corinthians"
Fanático pelo Santos, o pai de Renato Abreu, Seu Júlio, hoje com 81 anos, precisou se `adaptar´ e passou a torcer pelo filho e, consequentemente, pelo Corinthians. Porém, não deu o braço a torcer, e continuou sem vestir uma camisa do arquirrival.
"Ele torcia muito pelo Corinthians, pelos resultados que melhoravam a nossa situação dentro do Corinthians, o que era melhor para mim, mas eu falava: `Pai, coloca uma camisa do Corinthians´? Ele respondia: `Não, meu filho, eu não coloco. Eu vou torcer para você, mas eu não coloco a camisa´. Às vezes eu dava camisa para ele e ele falava: `Eu vou dar a camisa para um amigo´. Então é assim: meu pai não tem camisa minha do Corinthians, agora camisa do Santos ele já tem uma porrada", conta o ex-jogador, hoje ainda com 39 anos.
Eu falava: `Pai, coloca uma camisa do Corinthians´? Ele respondia: `Não, meu filho, eu não coloco
SANTOS NÃO ACREDITOU EM RENATO ABREU?
Em 2013, chegou o momento de Renato finalmente realizar o sonho seu e de seu pai. A passagem pelo Santos, porém, durou pouco e resultou no fim da carreira do jogador, que atuou apenas em algumas partidas e não teve o contrato renovado para a temporada seguinte.
Faltou o Santos acreditar um pouco em mim, no meu talento"
"O Santos não foi uma decepção. Eu não tive tempo de me decepcionar com o Santos. O Santos não me deu tempo para eu poder mostrar o que eu podia mostrar. Faltou o Santos acreditar um pouco em mim, no meu talento. O Santos me deu a chance de disputar um campeonato de três meses, ou seja, eu fui contratado pelo Santos, treinei um mês para fazer a parte física - e o Santos naquela época estava com o time bom, não tinha como mudar, tirar alguém -, então eu joguei dois jogos como titular. Foi muito pouco. Eu não posso falar em decepção, mas o Santos foi um clube em que eu sei que eu poderia agregar muita coisa, poderia ser campeão de alguma coisa ainda se tivesse a oportunidade de mais um ano, tenho certeza que poderia ter feito alguma coisa para entrar para a história do clube também".
A APOSENTADORIA PRECOCE E A DESILUSÃO COM O FUTEBOL
Renato Abreu encerrou a carreira com 35 anos e acredita que poderia ter chegado mais longe. "Dava um caldo até os 41, 42 anos, mas eu tive algumas decepções no futebol e eu acabei optando por parar", revela o ex-jogador. Uma destas decepções diz respeito à fama que ganhou após a sua saída do Flamengo, clube que defendeu em duas oportunidades: de 2005 a 2007 e de 2010 a 2013, esta após uma passagem pelo futebol dos Emirados Árabes.
"Depois do Santos veio uma grande preocupação na minha cabeça porque, da maneira que eu tinha saído do Flamengo, as coisas ficaram contorcidas e alguns clubes grandes não acharam viável fazer a minha contratação. Eu recebi esse baque e para mim foi ruim, da maneira que foi, sem explicação. Explicações que não condizem com o meu caráter, com a minha conduta. Disseram que eu era um jogador problemático, que ninguém do clube gostava de mim e que eu era paneleiro, então foram algumas notícias que fizeram, de uma certa forma, com que alguns clubes ficassem com medo de fazer a minha contratação", recorda.
Disseram que eu era um jogador problemático, que ninguém do clube gostava de mim"
"E aí você começa a imaginar que o futebol não é de honestidade, e isso não vai mudar para mim, por mais que eu ame isso aí - quero trabalhar com futebol. Porém o futebol está precisando de mudanças, de pessoas que realmente brigam pela causa justa, pessoas que querem ver o futebol crescer. No futebol não adianta você fazer o certo, o errado é que vai prevalecer. A gente foi criado para vencer. Vai levar um bom tempo para mudar isso, para as pessoas entenderem o que é honestidade", analisa Renato Abreu, que apesar da desilusão com o mundo do futebol, já fez alguns cursos e sonha em trabalhar com categorias de base.
A IMPORTÂNCIA DO PAI EM SUA CARREIRA
O meu pai foi assim, sempre me ajudando, sempre me levando para os campos, ajudando a comprar chuteiras, a comprar as coisas, e eu sempre levantando cedo demais para poder jogar futebol. Essa era a vontade do meu pai: ter um filho jogador de futebol. Meu pai é um apaixonado por futebol. Se passar o mesmo jogo três vezes na televisão ele vai assistir. Ele foi a minha força máxima como incentivo, o tempo todo querendo levar a gente para os campos. Teve um período que eu fiquei muito triste, estava desistindo porque o futebol é muito ingrato às vezes. Você faz teste, faz tudo certinho e, por você ser igual àquele que tem no clube, você era dispensado. Eu passei na base do Palmeiras, na base do São Paulo, na base do Corinthians, na base do Juventus, na base do Santos, mas era sempre a mesma história: ´a gente tem jogadores parecidos com você, hoje não dá para você, volta outra época´, e aí para gente era frustrante. Em 95 eu fui para Caxias (RS) disputar o Campeonato Gaúcho, com 15 anos, cidade fria, e eu fiquei sozinho, morava na concentração debaixo da arquibancada. E o meu pai, quando eu ia de férias para São Paulo, já comprava a passagem de volta para eu poder voltar, para nem dar tempo de eu pensar em desistir. Ele comprava a passagem e dizia: ´o dia que você tem que voltar é esse´. Meu pai é determinado, eu não tenho o que reclamar nem do meu pai, nem da minha mãe, e dos meus irmãos também.
A CHEGADA DA MSI E A SAÍDA DO CORINTHIANS
Nem foi vontade minha ter saído do Corinthians, mas foi justamente para buscar espaço. Foi bem na época que chegou a MSI, o Kia... Chegaram com alguns jogadores que eram para jogar, e eu entendo o mercado, futebol é assim, pagam mais para jogar, então foi a visão que teve o Corinthians. E na época rotularam alguns jogadores como banco de luxo, ou seja, para mim banco de luxo quer dizer que eu não vou atuar, e isso a gente foi vendo aos poucos.
GRATIDÃO AO CORINTHIANS
Independente de não ter conseguido alguns resultados, todos os títulos possíveis, foi uma história linda que eu construí dentro do Corinthians e, até hoje, eu tenho contato com o pessoal. Até esses dias eu estava falando com o cara que cuida do campo do Corinthians, o Alemão, falo com o massagista, o Alex, que é desde a minha época, estava falando com o meu parceiro, meu compadre, o Fabinho, com o Jô, que iniciou com a gente, então tudo que eu tenho do Corinthians é gratidão, por tudo que aconteceu. Não tem nada que falar de coisas ruins.
DONO DE PIZZARIA NO RIO DE JANEIRO
Eu abri um restaurante aqui no Rio, é temático, e pizzaria porque é uma coisa que eu gosto. Eu sou paulistano, sempre gostei de pizza, e não tem um dia da semana que eu não como pizza. Pode ser segunda-feira, domingo, não interessa. É uma pizzaria bar, não é estilo restaurante imenso, nem chega a ser um bistrô, mas é um mini restaurante, e tem almoço também, chopp... Fica na Barra da Tijuca, chama Elleven Pizza Bar. Eu coloquei os dois L´s, porém os dois L´s são substituídos pelo número 11, camisa que eu jogava, fica uma brincadeira legal. É bem aconchegante, tem as camisas dos clubes, e a ideia é doar as camisas que eu tenho. Recebo jogadores, deputados, vereadores. Eu tenho a casa há um ano e dois meses, é nova ainda.
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