Um dos grandes atacantes do futebol brasileiro e principalmente do Botafogo, Paulo Valentim, o Paulinho Valentim, morreu pobre no dia 9 de julho de 1984, em Buenos Aires, na Argentina. O Boca Juniors, um dos times que o atacante defendeu, pagou as despesas do enterro.
Nascido na cidade de Barra do Piraí (RJ), em 20 de novembro de 1932, Paulinho Valentim fez fama no futebol brasileiro ao integrar um time imbatível do Botafogo de 1957 e marcar cinco gols contra o Fluminense na final do Campeonato Carioca. O Botafogo goleou o Tricolor das Laranjeiras por 6 a 2. O outro gol do Glorioso foi marcado por Garrincha.
O Glorioso jogou naquele dia com Adalberto, Beto (ex-Vasco, Flamengo e que depois seria campeão pelo Bahia da Taça do Brasil de 1959) e Tomé; Servílio (ex-Flamengo), Pampolini (que depois iria para Portuguesa de Desportos) e Nilton Santos; Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Édson (que depois também iria para a Lusa) e Quarentinha.
Além de Paulo Valentim e o genial Garrincha, o time de General Severiano tinha Quarentinha, Nilton Santos e Pampollini. Era um time imbatível. E olha que não era fácil ser campeão Carioca em 1957. O Flamengo tinha Joel, Moacir, Henrique, Dida e Zagalo. Fluminense: Telê, Léo, Valdo, Robson e Escurinho. Vasco: Sabará, Almir, Vavá, Rubens e Pinga.
Pelo time da Estrela Solitária, Paulo Valentim fez 135 gols em 206 jogos. No mesmo período, nos anos 50, ele realizou cinco jogos com a camisa da seleção brasileira e marcou a cinco gols, isto é, um gol por partida.
O goleador, que começou a carreira no Central de Barra do Piraí (RJ), teve passagens também pelo Guarani de Volta Redonda (RJ), Atlético Mineiro, São Paulo (onde fez 10 jogos e marcou quatro gols, segundo números do "Almanaque do São Paulo", de Alexandre da Costa), Boca Juniors e encerrou a carreira no Monterrey, do México.
Títulos:
Os principais títulos como jogador conquistados por Paulo Valentim foram o carioca de 1957 e os argentinos de 1962 e 1964.
Abaixo, uma entrevista publicada no blog Patadas y Gambetas, do jornalista Tales Torraga, que conversou com o goleiro Amadeo Carrizo sobre Paulo Valentim
Brasileiro, ídolo do Boca morreu na miséria e ajudado por goleiro do River
Tales Torraga 05/03/2016 18:06
Negro, o relógio de ponteiros prateados do Pablo´s crava 11 da manhã de sábado. Estamos na Villa Devoto, bairro de Buenos Aires, onde os dias só começam às 11h. É a hora do café da manhã de Amadeo Carrizo, 89 anos, morando aqui há 70.
Goleiro e mito do River Plate por 24 anos (1944 a 1968), Carrizo está lúcido e cercado pelos amigos de sempre. Senta-se na mesa do fundo, pede o cortado (café com leite), ri, faz questão de pagar a conta, conversa com o blog.
Você foi amigo de Paulo Valentim, não, Amadeo? El Moreno! Sim, amigos. Nossos encontros em campo eram duros. Muito forte, rápido, esperto, o Tim. Fomos bons companheiros.
E fora de campo, qual a onda entre vocês? A melhor possível. Com um bom vinho na mão não importa Boca ou River, ¿viste? Valentim falava que a fama dele aqui era graças a mim, por tantos gols que fez (ri).
Paulo morreu com dificuldades. E você estava por perto. Sim, como não iria estar? Éramos colegas de vida, não de futebol. Muitos outros daquele tempo fizeram o mesmo. A amizade é especial. Dar uma mão, não.
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É uma grande história, esta. O atacante brasileiro, maior artilheiro do Boca Juniors em jogos contra o River Plate, foi ajudado até os seus últimos dias pelo maior goleiro da história rival, aquele que foi vazado e humilhado pelos seus gols.
Fuerte, eh.
De Carrizo já falamos. Agora, Paulo Valentim – "Tim, tim, tim! gol de Valentim!".
Atacante do Atlético-MG e do Botafogo de Didi, Garrincha e Nilton Santos, Pablito chegou ao Boca em 1960. Brilhara pela seleção em Buenos Aires no Sul-Americano de 1959. Brigou com todos os uruguaios e fez todos os gols do 3×1 Brasil.
Era furioso, Valentim. Mandou nada menos que dez gols em sete jogos contra o River em 1961 e 1962. Nada de Tevez, Palermo ou Maradona.
Tim, tim, tim. Ainda hoje, 2016, contra o River ninguém foi mais que Valentim.
Bicampeão argentino (1962 e 1964), fez 71 gols em 115 jogos pelo Boca.
Foi casado com Hilda, que inspirou o romance Hilda Furacão e a minissérie homônima na TV Globo.
Hilda Maia Valentim foi a primeira-dama do Boca Juniors quando o marido lá brilhava. Tinha um palco só seu na Bombonera.
Viviam em Buenos Aires o luxo dos asados, Impalas e da Recoleta. Moravam no apartamento das “paredes de veludo" da Hilda. Tiveram um filho, Ulisses.
Em 1964, a revista El Gráfico mostrou Valentim desnorteado e reclamando da saúde e da falta de dinheiro. Tinha só 29 anos.
Em 1965, deixou o Boca. Já era sombra agridoce do atacante picante que fora. Os excessos fora de campo pesavam suas pernas.
Sua vida claudicante incluiu viagens ao México e ao Brasil. Jogou no São Paulo.
Voltou à Argentina, onde morreu em 1984, aos 50 anos vividos a mil.
Era 9 de julho – data que batiza a mais famosa avenida de Buenos Aires.
No dia seguinte, foi velado no hall principal da Bombonera, estádio onde hoje há busto com seu rosto e nome. Está enterrado na Chacarita, como Carlos Gardel.
Depois da morte de Paulo e do filho Ulisses, Hilda ficou em asilo de Buenos Aires até suspirar, em 2014, pela última vez. Tinha 83.
Em dias como este domingo, com mais um superclássico entre River x Boca, ouvidos mais sensíveis e experientes passam pela calle Brandsen, ali perto das boleterías, e ouvem, bem forte, o “Tim, tim, tim! Gol de Valentim!" de 50 anos atrás.
As maiores lembranças vêm do silêncio. E da amizade.