Chico SanTTo, Santiago do Chile 10 de setembro de 2008 ? 21h32 O clima de patriotismo toma conta das ruas de Santiago, capital do Chile, nesta quarta-feira, véspera de 11 de setembro. Nesta mesma data, há 35 anos, Salvador Allende foi deposto do poder. Hoje, bandeiras do país foram espalhadas por todos os lados. Os estudantes festejam a data e o comércio aproveita o momento para faturar. Uma jovem de 16 anos pára na Praça Itália, ponto de encontro em dias de alegria e tristeza. Em 10 minutos vende 15 bandeiras a aproximadamente US$ 1 cada. Dinheiro que pretende guardar para a compra de livros. "Todos querem bandeira. Você não vê a cidade? Estamos entrando na semana da pátria e essa é uma ocasião muito especial para nós", diz Marinia Carreño. Um ato de nacionalismo que se repete pelo menos uma vez por ano, quando a nação andina relembra o dia em que Salvador Allende foi deposto do poder, em 11 de setembro de 1973, deixando o país mergulhado em uma ditadura de opressão e violência. "Estou no Chile há dois anos. É um dia em que os chilenos comemoram e protestam. Na verdade, a data se prolonga até o dia 18, quando é celebrada a Independência do país, uma espécie de Carnaval daqui. O que vejo, especificamente em 11 de setembro, é uma ação de revolta contra o governo, de anarquia, que está muito além do que retrata a história", conta o brasileiro Silvio Henrique Geraldo, dono de uma padaria no centro de Santiago. O brasileiro afirma que o Partido Comunista não está diretamente ligado à ação. "São jovens baderneiros que fazem isso sem a consciência do que representa a morte de Salvador Allende. Eu penso que a maioria deles nem sabe porque estão brigando. E o curioso é que eles destroem exatamente o local em que moram". Para muitos chilenos, o motivo da rebeldia está ligado às condições econômicas vividas pela sociedade, em que duas classes prevalecem. A classe média quase não existe. O que se vê, sobretudo em Santiago, são dois grupos distintos, com maior e menor poder aquisitivo. "O ciclo é fechado. Quem tem dinheiro anda com quem tem dinheiro. Quem não tem, não se mistura. Não é como no Rio ou em São Paulo, que todos caminham juntos na calçada. Em São Paulo temos favelas no Morumbi. No Rio, também. Aqui, os bairros de classe nobre não possuem pessoas de baixa renda. O mesmo pode ser dito em relação ao contexto político do país. Ou é da esquerda ou da direita. Quando Pinochet morreu, vi muitas pessoas chorando em frente ao Hospital Militar. Da mesma forma, muitos comemoraram pelados na Praça Itália", diz Geraldo. Em 2008, o país entra mais uma vez dividido na semana da pátria. Parte da população goza de sustentabilidade econômica. Parte reclama da inflação e dos baixos salários. É o que acontece, por exemplo, com os funcionários da Clínica Médica Universidade Católica. Há uma semana, as atividades foram suspensas. Cento e onze pessoas estão em greve. "Os salários são ruins. Ganhamos 270 mil pesos por mês. Não se pode viver com isso. Queremos que as autoridades percebam que estamos insatisfeitos. Não vamos voltar ao trabalho enquanto não nos chamarem para uma conversa. Essa é a nossa decisão", afirma Ana Maria Cid, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Clínica no Chile. O reflexo do problema econômico traz preocupação às autoridades chilenas. Um grupo de jovens manifestantes foi encontrado na periferia de Santiago distribuindo panfletos que ensinavam, passo a passo, os procedimentos para a montagem de bombas caseiras. Já no Palácio do Governo, sede da Presidência da República, o alerta é geral. Quatrocentos policiais foram chamados para reforçar a segurança do local em que Salvador Allende foi encontrado morto. "Não há como negar que estamos preocupados. O dia (11 de Setembro) sempre é muito agitado. Esperamos que as manifestações sejam pacíficas, mas é difícil crer que tudo será tranqüilo", diz Luiz Lote, um dos soldados responsáveis pela segurança de Michele Bachelet.