A surpreendente goleada sofrida diante de 50 mil santistas proporcionou a muitos a oportunidade de exercer uma de suas atividades preferidas: a de atacar, ironizar e desmerecer aquele que, por méritos próprios, se colocou acima da mediocridade democrática que aflige ricos e pobres, leigos e “especialistas” em futebol.
Li o começo da matéria de alguém que se regojizava com o resultado, pois este impediria Neymar de ser convocado para a Seleção; li a legenda de outro que dizia não se sensibilizar com as lágrimas do ídolo solitário, como se o atacante santista tivesse de fingir tristeza por resultado tão catastrófico. Medem-no com sua própria régua, sem dúvida.
Aqui é oportuno lembrar o que ocorreu com Pelé antes da Copa de 70. Com quase dois quilos acima do peso, um tanto fora de forma, o Rei não estava jogando tudo o que se esperava dele. Foi aí que o técnico João Saldanha o acusou de míope e boa parte da imprensa pôde destilar a sua má vontade contra o homem nascido negro e pobre que dominou a atividade mais concorrida do planeta e colocou o Brasil no mapa.
Uma enquete da revista Placar ouviu torcedores de São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre, e nada menos do que 40% dos entrevistados, influenciados pelas notícias, disseram ser contra a ida de Pelé para a Copa, pois ele “atrapalharia” a Seleção. O técnico Otto Glória, que dirigiu Portugal na Copa de 1966, sugeriu que Arilson (?!) fosse convocado no seu lugar.
Sem responder com palavras, Pelé usou o pouco mais de um mês até a Copa para puxar a fila dos treinos, concentrou-se totalmente naquela que seria a sua última grande competição e não só voltou ao peso ideal, como, aos 29 anos e oito meses, após quatro gols, seis assistências e uma presença magnetizante nos seis jogos, foi escolhido como o melhor jogador do Mundial e terminou nos braços do povo mexicano, rompendo o limiar que separa o ídolo do mito.
Neymar não é Pelé, ninguém é Pelé, mas quiseram os deuses do futebol colocar o último dos grandes Meninos da Vila na mesma situação vivida por Pelé há 55 anos. Por tudo que já fez pelo futebol, pela inédita medalha de ouro olímpica que ajudou a ganhar, o eterno Menino da Vila não merece a derradeira oportunidade? Claro que sim.
É evidente que o futebol brasileiro, nesses tempos áridos que vive, não pode se dar ao luxo de ir a uma Copa sem Neymar. Mas alguém já disse, com aguda propriedade, que no Brasil fazer sucesso é pior do que xingar a mãe. É como se o Menino da Vila, que se tornou um ídolo na Europa, onde muitos jogadores afamados fracassaram, tivesse dito que as progenitoras de seus desafetos não são mulheres sérias.
Andrés diz que tentou levar Neymar ao Corinthians por R$ 120 mi no passado
16/07/2019Neymar se reapresenta ao PSG para definir seu futuro no clube
15/07/2019Imprensa francesa critica Neymar e vê declaração de guerra ao PSG
14/07/2019Com pressa para definir futuro, Neymar vai a Paris reforçar desejo de sair
14/07/2019Neymar avisou PSG que quer sair e que não fará pré-temporada
08/07/2019