O ano era 1966 e o campeonato carioca estava dominado pelo Bangu, que passou fácil por quase todos os rivais, tendo apenas uma derrota para o Flamengo e dois empates sem gol com Botafogo e Vasco no primeiro turno. O time da fábrica era uma máquina.
Foi um ano em que a torcida do Flamengo aderiu em massa aos jogos do campeonato juvenil, onde um garoto de 20 anos, oriundo de Corumbá-MT, fazia gols em série sobrevoando a área inimiga como se fosse um bombardeiro B-29 sobre o Japão.
Com o time titular humilhado na final contra o Bangu por 3 x 0, num jogo que entrou para a história pela explosão violenta do atacante Almir Pernambuquinho, querendo evitar a volta olímpica do clube alvirrubro, a massa rubro-negra plantou esperança.
E a esperança para o ano vindouro estava ali, no time juvenil, na cabeça de soldado raso do artilheiro isolado da temporada com 26 gols, a maioria absoluta em bolas aéreas. O “enfant terrible”, que embriagara a grande torcida tinha o nome do deus grego do vinho.
Dionísio fez mais com a cabeça o que o artilheiro do campeonato principal, Paulo Borges, do Bangu, fez com os pés. Virou o xodó na Gávea e atraiu a atenção da imprensa, provocando de imediato sua ascensão ao time de cima no ano seguinte.
Na edição de maio de 1967 da Revista do Esporte, numa matéria sobre as perspectivas de recuperação do futebol brasileiro, naufragado na Copa da Inglaterra, Dionísio era uma das fotografias de jogadores em que a mídia depositava esperanças para 1970.
Estavam ali, estampados em quatro páginas, nomes como Rivelino, Wilson Piazza, Dirceu Lopes, Paulo Cesar (ainda sem Z e sem o Caju), Edu (irmão de um menino que se tornaria rei no Flamengo), Edu, Everaldo, Leivinha, Cesar, Raul e Afonsinho.
No ano de estreia no time titular, Dionísio comprovou a força letal com uma média estupenda de cabeçadas e marcando 8 gols, sempre saindo do banco de reservas no segundo tempo. Com 1,73 metro, tinha uma impulsão no mesmo nível do rei Pelé.
Os exercícios no quartel do Exército só reforçavam os treinos físicos no Flamengo, fazendo dele um atacante ágil e vigoroso. Zagueiros bons de bola aérea, como Chiquinho (Botafogo), Brito (Vasco) e Mário Tito (Bangu), eram abatidos no ar.
Sua presença ao lado de Rivelino (então uma revelação no Corinthians) na lista de prováveis craques na Copa de 70 provocou uma coincidência histórica envolvendo ambos, que seriam tratados pela torcida e pela imprensa com apelidos semelhantes.
Mais famoso e consagrado, Rivelino receberia o epíteto de “Patada Atômica” por jornalistas mexicanos durante a Copa do tri, mas o termo que remete às bombas sobre o Japão foi colocado antes em Dionísio por seus bombardeios aéreos nos estádios do RJ.
O “Bode Atômico” fez estragos nos rivais do Flamengo de 1967 até 1972 e foi um atacante que apesar de não se comparar com Dida, Almir e Silva – da geração anterior – no talento com os pés, supriu a deficiência com 62 gols marcados, a maioria pelo alto.
Em agosto de 1967, ano da estreia nos titulares, a Revista do Esporte novamente destacava o jovem mato-grossense numa matéria sobre os juvenis ocupando espaço na Gávea, cujo título foi “A juventude sacode o Flamengo”. Ele sacudiria ainda mais.
Nos anos de 1968 e 1969, que não podem ser considerados bons para o time rubro-negro (Botafogo e Fluminense eram dois timaços), coube a Dionísio alimentar as ilusões das arquibancadas do Mengão, voando sobre o gramado e somando 39 gols.
Nos jogos de futebol com tampinhas de garrafa sobre a mesa da minha mãe e de caixa de fósforos nas calçadas das Quintas, meu fanatismo pelo Botafogo não impedia uma admiração especial pelo bode voador. Eu dava um jeito dos gols dele se materializarem.
Dionísio morreu ontem, 24/9, aos 66 anos, num dia em que o Flamengo jogou no Morumbi e sua torcida festejou um gol de cabeça de Alecsandro, vencendo dois zagueiros no ar, como ele fazia no passado. Coisa dos deuses numa alusão convertida em despedida.
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