Daniel González

Ex-zagueiro da Portuguesa, Corinthians e Vasco da Gama

por Rogério Micheletti

Nascido em Montevidéu, Daniel Ángel González Puga, ex-zagueiro do Corinthians em 1982, e do Vasco da Gama, de 1982 a 1984, morreu de desastre automobílistico em 1985 ao lado de sua esposa (ela, Mabel, sobreviveu).

Daniel Gonzáles não era apenas um beque raçudo. Tinha estilo e não costuma ser desleal. Sua primeira equipe no futebol brasileiro foi a Portuguesa.

Em 1982, ele foi contratado pelo Corinthians para jogar no time da Democracia Corintiana, que tinha como principais jogadores Sócrates, Wladimir, Zenon e Casagrande.

Logo, Daniel Gonzalez caiu nas graças da Fiel torcida e foi peça importante na conquista do Campeonato Paulista de 1982, formando dupla de zaga com Mauro.

Em 1983, ele foi negociado com o Vasco da Gama, onde manteve sua regularidade. Em São Januário, ele esteve perto de conquistar o campeonato brasileiro de 84, mas o Vasco perdeu na final para o Fluminense de Carlos Alberto Parreira.

No ano seguinte, quando voltava de uma festa na casa do centroavante Cláudio Adão, o zagueiro, que dirigia o seu Monza, sofreu o acidente fatal no Rio de Janeiro.

Ainda sobre Daniel Gonzáles, no dia 16 de maio de 2006, o site Terceiro Tempo recebeu o e-mail abaixo de sua filha Daniela González.
Milton, sou Daniela González, filha de Daniel González, dei muita alegria para ver informação de meu pai nos craques do passado, a verdade é que eu não encontrei qualquer coisa sobre ele no Internet. Obrigado muito muito. Desculpa meu português. Cualquier informacao que tein de ele manda pra mim. Beijos Daniela.(SIC).

Abaixo, texto de Leandro Paulo Bernardo sobre Daniel González

Os trinta anos do falecimento do craque uruguaio Daniel Ángel González Puga

Ao comentar em uma rede social, um texto do grande Mauro Beting sobre o inesquecível Dener, montei uma seleção de grandes jogadores que tive a honra de ver e que infelizmente faleceram em acidentes automobilísticos. Em minha "zaga" havia um craque uruguaio. Fiquei ainda mais triste ao pesquisar e confirmar que nenhuma matéria em 2015, havia mencionado os trinta anos do seu falecimento e que as novas gerações não  conhecem a história de Daniel Ángel González Puga. Daniel nasceu em Montevidéu em 22 de dezembro de 1954, fez toda a sua carreira de base no Nacional, aos dezessete anos tornou-se profissional e sempre se espelhava nos jogadores experientes dos bolsos; Manga, Cubillas, Artime e Mujica. Tal qual seu amigo, Dario Pereyra, jogava no meio de campo, era refinado e com muita habilidade, todavia jamais conseguia ser titular e depois de atritos com dois treinadores, Valter Brienza e Juan Faccio, foi emprestado ao Cerro e depois vendido ao pequeno Fênix.  Foram anos difíceis para o puga, os pagamentos sempre atrasavam no pequeno clube do parque Capurro. Era praticamente sustentado por seu pai, Don Ángel Ramón González que havia sido jogador juvenil do Peñarol, ao qual jamais desconfiou ou desistiu do talento do filho.

No Fênix ficou por quatros anos, o clube foi rebaixado em 1976, mas no ano seguinte voltou para a elite uruguaia. Decidiu interromper seu curso de medicina, para dedicar-se inteiramente ao futebol. Sua mãe queria ver Daniel como médico, pois teve um irmão jogador do Nacional na década de cinqüenta que era apontado por todos como craque, entretanto jamais conseguiu tirar a titularidade do genial Atílio Garcia. Dona Blanca temia ver no filho as amarguras e decepções do futebol pelas quais seu irmão havia passado. Em 1978 teve uma proposta para jogar na Áustria, mas preferiu jogar no Brasil, foi vendido para a Portuguesa de Desportos por 120 mil dólares. A família apoiou a mudança para o Brasil, aonde dois zagueiros conterrâneos charruas já estavam atuando, Dario Pereyra no São Paulo e Martin Taborda no Corinthians, ambos saídos do Nacional.

Para acompanhar as rádios paulistas, don Angel Gonzalez, seu pai, decidiu colocar uma torre de 40 metros no quinta de casa. Três meses antes, havia começado um namoro com sua amada Mabel. Meses depois ligou para Mabel, pedir para ela  ir escolher seu vestido de casamento, pois queria casar e levar ela logo para São Paulo, não suportava mais a solidão. Viveu bons e maus momentos no Canindé, era conhecido por sua liderança em campo e garra. Por alguns jogos, foi deslocado para atuar como quarto -zagueiro, para "quebrar um galho", enquanto o xerifão Moisés estava machucado. Nascia assim um mito uruguaio no futebol paulista... Moisés perderá seu espaço e pediu para sair e jogar no Bangu. Fez amizade com um jogador já em fase final de carreira; Zé Mário, do qual sempre ouvia conselhos.  Porém enfrentou novamente atrasos em pagamentos. A diretoria que o contratou prometeu mil dólares de salário, livres de imposto, casa e comida. Porém não era nada disso, Daniel teve que pagar tudo para alojar sua familia em hotéis e com as despesas do parto de seu primeiro fiho que acabará de nascer.

Pensou em voltar ao Uruguai, mais havia jurado a si mesmo que somente voltaria quando estive cercado de respeito profissional. Quando finalmente deixou de morar em hotéis, foi residir em um apartamento vizinho ao do lateral corintiano Wladimir. Iniciava uma grande amizade e troca de idéias e pensamentos além do futebol. Tinha ânsia por títulos, coisa que já começava a ficar difícil no time rubro verde. Já sonhava com Corinthians, Flamengo e com os 15% do seu passe, à qual teria direito com o término do contrato em 23 de abril de 1982. Sua amada Mabel estava grávida novamente. Começou assim a investir em uma loja para administrar com sua família em Montevidéu... lojas São Jorge. En 1982, Mário Travaglini assumiu como treinador no clube do parque São Jorge, de imediato o pediu a contratação do jogador com o qual havia trabalhado e passado a admirar. Vasco, Palmeiras e Fluminense o queriam, mas o Corinthians comprou seu passe e ainda cedeu Martin Taborda para a lusa. Veio para formar a zaga alvinegra ao lado do zagueiro Mauro. Sua estréia foi justamente no empate de 1 x 1 contra  a Portuguesa de Desportos, no dia 28 de abril de 1982, foi eleito o melhor em campo. Ao término do jogo, foi levado pelos repórteres ao alambrando do Pacaembu com mais 15 mil pagantes. O médico da sua esposa queria avisar do nascimento de sua filha, após uma gestação complicada de oito meses. Ao saber que tudo havia ocorrido bem, gritou no microfone de uma rádio; "esse sim é meu grande prêmio".

Raçudo e firme no combate, jogava com muita disposição e comprometimento nas partidas, e isso fez com que o zagueiro agradasse à torcida. Literalmente voava na bola aérea, alcançando dois metros e meio em impulsão. Era a alma latina da democracia corinthiana, levava para os mais novos conhecimentos sobre investimentos financeiros além do futebol, cuidados com contratos, pensamentos políticos da america latina, respeito a instituição família e perseverança no difícil ambiente esportivo. Conquistou o título paulista de 1982 na final contra o São Paulo. Em 1983, ano em que o Corinthians conquistaria o bicampeonato paulista, Daniel chegou a jogar 17 partidas, mas resolveu deixar a equipe, e se transferir para o Vasco da Gama, por 130 milhões de cruzeiros e com salário de quatro milhões por mês, depois de um longo namoro do clube cruz maltino pelo jogador, sua última partida no Corinthians foi em 31 de julho de 1983 contra o Santos. Ao chegar no Rio de Janeiro tinha quatro sonhos; ganhar títulos, ganhar o troféu bola de prata da revista placar, trazer o pai para morar com ele no Brasil e seguir jogando bem para no futuro ir jogar no exterior, assinando um bom contrato e de preferência nos Estados Unidos. Teve um inicio um pouco conturbado nos bastidores do clube da colina, depois de uma série de derrotas no estadual o elenco fez várias reivindicações para a diretoria. Daniel era o líder do grupo e o Treinador Oto Glória desabafou com muita arrogância contra o uruguaio; " jogador aqui tem que treinar nos dois expedientes, sou ditador sim e a democracia Corinthiana era pura anarquia. O treinador foi demitido semanas depois e Puga virou xodó e ainda mais ídolo no Vasco. Em 1984 fez uma excelente dupla com Ivan e por muitíssimo pouco não foi campeão nacional. Estava na plenitude da forma.

Em 1º de fevereiro de 1985, chovia torrencialmente no Rio de Janeiro. Daniel e Mabel retornavam de uma festa na casa do também jogador Claudio Adão. Estava também Ivan Edevaldo com suas respectivas esposas.  Ao retornar para casa, acabou sofrendo um acidente automobilístico no túnel dois irmãos (atual túnel Zuzu Angel) foi socorrido, mas faleceu após três cirurgias. A comoção foi geral tanto no Brasil quanto no Uruguai... A rodada do brasileirão foi adiada e o amistoso da celeste contra o Paraguai no domingo seguinte ao seu falecimento teve um minuto extremamente triste para todos, especialmente ainda para Diogo, Rodolfo Rodriguez e Dario Pereyra que dividiram sonhos e ouviram tantos conselhos do amigo, que lutou, passou adversidades em São Paulo, mas venceu no Brasil. O ciclo da vida foi seguindo... Aquela edição de número 768 da Placar, à qual sempre pulava as páginas 32, 33 e 34 para não ler sobre a morte do Daniel, ainda está guardada no porão da casa dos meus pais. Pesquisei em outras edições da mesma revista e procurei deixar aqui um pouco da sua história para as novas gerações... Resumindo, Daniel González era um craque, dentro e fora dos gramados.

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