ABAIXO, TEXTO ENVIADO POR ZÉ ROBERTO PADILHA EM 30 DE AGOSTO DE 2018
A Troca
Texto: Zé Roberto Padilha.
Sempre que tem um Fla-Flu acordo com a sensação de que um dia não fui jogador de futebol. Fui mercadoria. Não com o preço fixado, embalado para presente e exposto nas prateleiras, mas como objeto de troca entre dois dos clubes mais importantes do futebol brasileiro. Em uma conversa entre seus dois presidentes, Hélio Maurício e Francisco Horta, em dezembro de 1975, ambos esqueceram, no afã de promover o próximo estadual, que a moeda já havia substituído o escambo. E que a escravidão tinha sido abolida. E propuseram, no Ceasa que se tornara suas salas de reuniões, uma troca: “Tu me dá o Doval e leva o Zé Roberto!”. Gostaram tanto que acabaram fazendo um pacote: “Então leva também o meu goleiro, Renato, que eu fico o seu mais novo, Roberto!”. E para fechar o carrinho, “Que tal Rodrigues Neto pelo Toninho Baiano?
Estava em Iguabinha, região dos lagos, curtindo a melhor fase vivida na carreira. Como ponta esquerda tricolor, tinha sido titular na Taça Guanabara e recuperado a posição na reta final do campeonato brasileiro disputando a posição com Mário Sérgio Pontes de Paiva, que nos engrandecia profissionalmente e valorizava o currículo. Há pouco havia disputado, com Lula do Internacional, Joãozinho, do Cruzeiro, e Ziza, do Guarani, a cobiçada bola de prata de melhor ponta esquerda do brasileirão. E acabara de ler nas bancas que Osvaldo Brandão, em entrevista ao Jornal dos Sports, incluía meu nome na lista dos pré convocados para a seleção brasileira.
Mas quando abro na praia o Jornal do Brasil estavam estampadas as trocas sem consultar a gente. E me senti o pior dos homens por mesmo ter nascido detentor de todos os meus direitos, de liberdade e expressão, não me deram a oportunidade de escolher o meu destino. Afinal, foram oito anos de Laranjeiras, dos infantis aos profissionais, três Taças Guanabara conquistadas, dois títulos estaduais e o orgulho de ter transformado a bandeira que levava para as arquibancadas na camisas que entrava em campo. Calçar as chuteiras para torcer e jogar por sua paixão não tem preço. Aliás, tinha. E até hoje, quarenta e um anos depois, não sei quanto foi.
No primeiro FlaxFlu do troca-troca, (17/5/76, público de 155.116 mil pagantes, com renda de CR$ 4.073,586,00 e arbitragem de José Roberto Wright, Walquir Pimentel e Carlos Costa) deu no que deu: a mercadoria se perdeu. Não havia dormido, passara tantos filmes na minha cabeça às vésperas de sair da utopia de defender uma paixão para iniciar, de fato, minha profissão, que quando o time entrou em campo fui saudar a torcida errada. Tantos anos virando a direita das tribunas segui a tradição, e Zico, Junior, Tadeu, Rondinelli e Cantarele foram para a esquerda saudar a massa rubro-negra.
A vaia comeu, me atiraram copos de água, e enquanto retornava do vexame procurando meus companheiros, ainda ouvi os comentários de Iata Anderson e Mário Jorge Guimarães: “Você não tinha nada que ir lá provocar os tricolores!” Pouco adiantava responder que o subconsciente foi quem conduzira meu corpo para lá, talvez para abraçar aquela torcida e agradecer a formação, o carinho e a paciência que sempre tiveram por mim. E pedir desculpas pela primeira vez na vida jogar contra eles.
Neste instante me acertaram um saco de pó de arroz e despertei de vez para a realidade. Era jogador profissional de futebol, e do Flamengo, e passei a ter muito orgulho disto. Mas se como mercadoria errara a prateleira, teria que jogar muito para convencer o dono da Gávea, ou da Sendas, que aquele produto, de rótulo novo, não perdera a essência do seu conteúdo.
Flu inicia com W. Nem projeto de investir em nomes identificados com clube
Wellington Nem é apresentado no Fluminense: cria da casa de volta. Foto: Mailson Santana/Fluminense/Via UOLNenê pode estrear pelo Flu em clássico em que já foi herói, mas pelo rival
Nenê durante treinamento do Fluminense. Foto: LUCAS MERÇON/FLUMINENSE F.C/Via UOLO treinador Sérgio Soares é o convidado da live de Marcos Falopa nesta terça-feira
Saudade: Há nove anos morria Muhammad Ali, o maior pugilista de todos os tempos
Achados & Perdidos: O dia em que Milton Neves foi recebido com enorme festa pela torcida do Santa Cruz
Parabéns, Chicão! Campeão mundial pelo Corinthians, ex-zagueiro faz aniversário hoje!
Em vídeo, 'Antes & Depois' de centroavantes que marcaram muitos gols pelo Internacional
Achados & Perdidos: A inauguração do Mundão do Arruda, casa do Santa Cruz, há 53 anos
Olhos no retrovisor: Juan Manuel Fangio, saudoso pentacampeão da F1, homenageado pela petrolífera argentina
Parabéns, Godoi! Ex-árbitro, hoje comentarista, completa 70 anos!
Saudade: Orlando Fantoni, treinador que brilhou no Vasco, nos deixava há 23 anos
Ancelotti estreia pela Seleção nesta noite contra o Equador pelas Eliminatórias; os times