Tsunami de Talcahuano

Chico Santo, bastidores do jornalismo internacional
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
A atração pelo perigo e disposição para grandes aventuras renderam a Chico Santo a credibilidade internacional em assuntos de alta octanagem, sobretudo, em trabalhos de alto risco. Ao longo dos anos, gradativamente, o repórter se especializou, de forma empírica, em tragédias. Entretanto, mesmo com a cobertura de três terremotos debaixo dos braços, entre outras pautas, faltava a ele um último tema específico.  Problema solucionado por ele as vésperas do embarque para a Copa do Mundo da FIFA. "Fiz de tudo. Desde de acidentes aéreos até enchentes e terremotos. Entretanto, nada foi tão chocante quanto estar em um Tsunami.? Em Talcahuano, em 06 de março de 2010, o jornalista assinou para o Terra e Jornal do Brasil a primeira reportagem do tema. "Foi assustador chegar em uma região devastada pelo mar. Os carros pareciam brinquedos de crianças jogados na sala. Estavam empilhados como cartas de baralho. As ruas lembravam de perto o rastro de um furacão. Era como se qualquer um desses filmes de fim do mundo fizesse parte da própria realidade humana. O que vi em Talcahuano foi algo tão forte que cheguei a me perguntar o que seria o Apocalipse ao fim das contas. Uma cena muito difícil de ser descrita e que, mesmo nas fotografias, por mais fortes que sejam, ficam extremamente longe do que de fato ocorreu.?
Entre os sinais da devastação, entretanto, nada chamou mais a atenção do repórter do que os próprios barcos que foram lançados à terra. "Lembro de um take do fime dos Caça Fantasmas II, dirigido por Ivan Reitman, em que o Titanic ancora em Nova York no meio da cidade. Eu nunca pensei que um dia fosse estar em uma área tomada por barcos de grandes proporções por todos os lados. Algumas embarcações permaneciam encostadas em prédios de 15 andares, lado a lado, como se fosse normal. Fico imaginando qual seria a altura necessária de uma onda para fazer com que um cargueiro com aquelas imensas dimensões chegasse a região central da cidade. As autoridades, muito mais em um chute do que qualquer outra coisa, acreditavam em 10 metros de altura. Particularmente, duvido. Os moradores, em contrapartida falavam em algo de um quilômetro, o que também parece ser um grande exagero. É difícil saber o tamanho exato da onda. Creio, até, que nesse caso, o ditado nem tanto ao mar, nem tanto a terra, se encaixa perfeitamente. Mas o que eu posso dizer mesmo é que a expressão de quem viveu aquilo era atemorizante. Conversei com muitos sobreviventes e todos me disseram que a onda gigante foi vista de longe e que era tão grande que quem estava na orla naquele momento em que ela se aproximava, ainda longe, teve tempo de sair correndo e fugir. Quem ficou morreu?.
No texto assinado para o Jornal do Brasil Chico Santo contou os detalhes do que presenciou. "Containers espalhados por todos os lados. Navios de grande porte encostados em prédios. Cinzas pelo chão. Peixes nas calçadas. Quem vai ao centro de Talcahuano, localizado há menos de 20 km da cidade de Concepción, encontra na Praça de Armas um local devastado pela fúria da natureza.? Na matéria, onde escreveu como enviado especial do Terra, a moradora Paola Aires deixava claro a gravidade da situação. "É o fim do mundo. Igual ao que a gente vê nos cinemas?.  Foi exatamente o que disse o policial Pedro Buchione. "Destruiu tudo. O porto e o centro da cidade estão acabados. Não sobrou nada. Veja esses barcos. Olhe o tamanho deles. É preciso muita força para fazer isso aqui. Por aí se pode ter uma idéia da dimensão do tsunami. Esses barcos estavam em alto mar e vieram parar aqui no centro da cidade. É realmente difícil de acreditar?. Pelo balanço oficial, até hoje, não há um consenso sobre o número de mortos. Sabe-se que pelo menos 20 pessoas foram carregadas pelo mar e dezoito estão desaparecidas. "Essa é sempre uma questão muito difícil de ser respondida. Aprendi a desconfiar desses números desde a Tragédia de Santa Catarina, quando encontrei um caminhão frigorífico de uma multinacional - com suas placas e logomarca cobertas por sacos pretos - estacionado com o motor da geladeira ligado em frente ao cemitério da cidade de Gaspar e as autoridades além de se recusarem a abrir a porta do freezer ainda insistiram em me dizer que havia apenas um corpo lá dentro. Pela minha experiência em tragédias é sempre a mesma história. Cada um fala uma coisa diferente. Governo, Defesa Civil, moradores. Quem tem a razão? Vai pela sensibilidade. No caso do Tsunami de Talcahuano dá para dizer que 80% da cidade foi afetada e que as autoridades não esperavam que o município fosse reconstruído em menos de 10 anos. A Base Naval, por exemplo, avaliou os prejuízos em até 150 milhões de dólares. Foram ao todo três ondas gigantes. A segunda foi a maior delas?.
O Tsunami de Talcahuano, em março de 2010, foi o último trabalho internacional de proporções trágicas feito por Chico Santo antes da Copa do Mundo de 2010, quando o jornalista embarcou com o Terceiro Tempo para o continente africano. Desde, então, o repórter internacional tem se dedicado exclusivamente ao futebol. "O Tsunami foi em março, descansei em abril e em maio já estava em Joanesburgo. Fiquei lá até o meio de julho, quase agosto. Depois voltei para tocar um projeto com os Diários Associados e o Núcleo Globo de Televisão. Em março de 2011, exatamente um ano depois, quando o Japão, do outro lado do mundo tremeu, recebi o telefonema de uma multinacional perguntando se eu toparia cobrir aquele terremoto. Tinha acabado de fazer um especial com Juan Sebastián Verón e estava iniciando uma nova etapa da minha vida com o Terceiro Tempo. Naquela oportunidade não aceitei. Sequer levei a proposta para o Milton Neves, mesmo porque eu estava com um contrato de apenas um mês de casa. É o tipo de pauta que sempre me interessa e se algum acontecer eu for lembrado, com a liberação do Milton Neves, tenho interesse em fazer. Mas, no meu atual momento, o que posso afirmar é que estou vivendo um raro ínterim de tranqüilidade. Tanto que, no último mês de janeiro (2012), fui chamado pela BBC de Londres para uma conversa e, após o cumprimento da agenda, ao invés de esticar as férias para Bagdá optei pelo romantismo de Paris. Em outros tempos eu estaria no Iraque.?
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