por Marcos Júnior Micheletti
O carioca Saulo Gomes, jornalista e escritor nascido em 2 de maio de 1928, morreu em 23 de outubro de 2019, aos 91 anos de idade, em Ribeirão Preto, vítima de um infarto fulminante.
Membro da cadeira 28 da Academia de Letras de Ribeirão Preto, notabilizou-se por ter sido o primeiro repórter da televisão brasileira com a utilização de helicópteros nas coberturas jornalísticas.
Um dos pontos altos de sua carreira aconteceu com o saudoso médiu Chico Xavier. Saulo Gomes o entrevistou pela primeira vez em 1968, em Uberaba, para a extinta TV Tupi de São Paulo, e em 1971 levou Chico Xavier ao aclamado programa "Pinga Fogo", também da TV Tupi.
Aliás, consta que foi Saulo Gomes o jornalista responsável pelo anúncio oficial do final das transmissões da emissora paulistana, em 2 de maio de 1980.
Saulo Gomes começou sua carreira no jornalismo em 1956, ocasião em que foi o primeiro colocado entre 200 postulantes a uma vaga na Rádio Continental, como repórter. Foi diretor de jornalismo da TV Rio Preto, da Rádio “A Voz do Oeste” e da “TV Brasil Oeste”, esta em Cuiabá (MT), além da “Rádio Capital”, em São Paulo (SP).
Também escritor, Saulo Gomes publicou cinco livros.
Uma de suas obras, "As Mães de Chico Xavier", acabou ganhando as telas dos cinemas, com direção de Glauber Filho, em 2011.
ABAIXO, NA ÍNTEGRA, A ENTREVISTA DE CHICO XAVIER A SAULO GOMES, PARA A TV TUPI DE SÃO PAULO, EM 1968
Abaixo, veja o Obituário da Folha de S.Paulo sobre Saulo Gomes:
Mortes: Repórter do Chico, Saulo Gomes morre aos 91 anos
Jornalista relatou de queda de meteorito à morte de PC Farias, mas médium era seu tema favorito
Marcelo Toledo
RIBEIRÃO PRETO
Ele gostava de se definir como repórter investigativo, profissão que abraçou há 63 anos. Mas nas últimas décadas se tornou o “repórter do Chico”, em alusão à proximidade que manteve com o médium mineiro Chico Xavier (1910-2002).
Saulo Gomes fez coberturas de queda de meteoritos, da seleção brasileira após a conquista da Copa do Mundo de 1958 e de casos como as mortes dos integrantes do grupo Mamonas Assassinas e de PC Farias, mas eram as passagens envolvendo Chico as que mais gostava de falar.
Como quando convenceu o líder espírita, em 1968, a romper silêncio de 24 anos com a imprensa. Desde 1944 ele não concedia entrevistas, após repercussão de reportagem de Davi Nasser e Jean Manzon que questionou sua mediunidade em “O Cruzeiro”.
“Foi por meio do Saulo que tive a primeira manifestação de ser jornalista, ao ler uma entrevista na extinta Revista do Rádio, em 1957. Li ele contar uma passagem num voo que tinha problemas e poderia cair. Ele pegou o gravador, um trambolho, ligou na tomada do avião e começou a entrevistar os passageiros. O avião não caiu e ele teve uma bela reportagem”, disse o amigo Moacyr Castro, 70.
Desde 2009, Saulo publicou em livros histórias do médium, de quem virou amigo naquele 1968, em uma trilogia.
No mais recente deles, “Nosso Chico” (Intervidas, 2018), que celebrou 50 anos do primeiro encontro com Chico, contou que o líder espírita poderia ter sido fazendeiro, quando, nos anos 1970, ganhou uma propriedade em Goiás de uma frequentadora de sua entidade em Uberaba (MG). Mas destinou o imóvel para ações sociais, como fazia com os presentes que recebia.
Sempre guardava tudo ligado às reportagens que fazia e, com Chico, amealhou documentos e bilhetes que manteve de forma reservada até a publicação no livro.
“Poucas vezes um repórter tem chance de comemorar bodas de ouro de uma reportagem”, disse ele a este jornalista, ao celebrar seu objetivo de entrevistar Chico.
Antes, lançara “Pinga-Fogo” (2009), que reproduz uma entrevista de 1971 ao programa homônimo da TV Tupi, e “As Mães de Chico Xavier” (2011).
Natural do Rio, viveu em São Paulo, São José do Rio Preto, Cuiabá e Montevidéu, exilado na capital uruguaia por sete meses durante a ditadura.
Morava em Ribeirão Preto desde 2002, onde ocupava a cadeira 28 da Academia Ribeirão-pretana de Letras e era membro da Ordem dos Velhos Jornalistas.
Vice-presidente da Abap (Associação Brasileira de Anistiados Políticos), dizia que tinha como segredo para manter a mente acesa ler “o dia inteiro”. “Sobre tudo quanto é assunto”, repetia.
Sempre que questionado se era espírita devido à ligação com Chico, Saulo dizia ser “repórter”. Um infarto o matou na madrugada desta quarta (23), em seu apartamento, no centro de Ribeirão, onde vivia com a mulher, Edna. O corpo está sendo velado no Memorial Campos Elíseos, em Ribeirão Preto.
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