Paulo Edson, histórico plantão esportivo, morreu na manhã do dia 10 de agosto de 2020, aos 77 anos. A "Voz do Rádio", como era conhecido, sofreu um infarto uma semana antes de sua morte e foi internado em hospital de São Pedro-SP, sua terra natal. Dois dias mais tarde, pela complexidade do caso, os médicos decidiram pela transferência para a Santa Casa de Piracicaba, onde o grande jornalista acabou falecendo.
Em 6 de dezembro de 2019 foi homenageado no Troféu Aceesp pelos 50 anos de trabalho no jornalismo esportivo. Clique aqui e veja a cobertura completa do evento, com texto e fotos de Marcos Júnior Micheletti, do Portal Terceiro Tempo.
Abaixo, você conhece a carreira de Paulo Edson em belíssimo texto escrito por Hélio Soares:
"Nascido no dia 19 de junho de 1943, em São Pedro-SP, Paulo Edson é casado desde 1965 com Valdecila Alves Soares da Silva. É pai de três filhos, Tanimara, Helio e Priscila, e avô de dois netos, Lucas e Matheus.
Começou no rádio em 1960, na Rádio Clube de Rio Claro - antiga PRF.2 - no dia 18 de junho, um dia antes de completar 17 anos. Mauro Martins Coelho, gerente da rádio, abriu inscrições para testes. Paulo Edson fez os testes e foi aprovado. Trabalhou na Clube até agosto de 1961, quando se transferiu para a Verinha, de Marilia, onde permaneceu até março de 62. Aí foi gerenciar a Rádio Luz, de Araçatuba, onde ficou até novembro de 62, e retornou para Rio Claro por mais algum tempo, antes de retornar à Marília.
Foi lá que ficou sabendo que a Rádio Difusora São Paulo procurava locutores para a sua programação. A fitinha com a voz ainda desconhecida em São Paulo seguiu para a capital. Uns meses depois foi chamado para trabalhar na Difusora - integrante da antiga rede associada (Emissoras Associadas - que englobavam rádios e tv no Brasil). Estreou no rádio de São Paulo em novembro de 1964, em pleno início do regime militar. Carlos Spera e José "Tico-Tico" de Moraes eram os repórteres, naquele tempo. Na Difusora permaneceu até 1968, quando se transferiu para a Rádio Tupi, trabalhar na famosa Equipe 1040, naquela época dirigida por Milton Camargo, que acabou se transformando em grande profissional e amigo.
Trabalhou ao lado de Haroldo Fernandes - o homem da camisa 10, Alfredo Orlando, Wilson de Freitas, Antonio Rangel, Milton Camargo, Ávila Machado, José Góes, Manoel Ramos, José Roberto Ramos, Vitor Moran, Lucas Neto, Juarez Soares, Edgard Soares, Henrique Guilherme - na época, rádio-escuta.
Esta equipe chegou a balançar a liderança da Bandeirantes, com o advento da Loteria Esportiva. E foi também neste período que começou a trabalhar em TV (Rede Tupi), apresentando os boletins informativos diurnos do Ultranotícias - noticiário famoso naqueles tempos. O jornal da noite era apresentado por Ribeiro Filho. Foi na Tupi, também, que apresentou o "Matutino Tupi" e o "Grande Jornal Falado Tupi", ao lado de Corifeu de Azevedo Marques, grande nome do jornalismo daqueles tempos.
Trabalhou na Tupi até 4 de abril de 1973, quando, a chamado de Helio Ribeiro - com quem havia trabalhado na Tupi, trasnsferiu-se para a Rádio Bandeirantes. Nas Associadas, foram 8 anos e 6 meses de trabalho. Na Bandeirantes, 23 anos, dividindo-se às vezes, entre rádio e TV.
Na Bandeirantes foi dirigido pelo saudoso Darcy Reis - um dos mais corretos profissionais que declara ter conhecido na carreira. Participou da equipe do Scratch do Rádio ao lado de Fiori Giglioti, Flávio Araújo, Enio Rodrigues, José Paulo de Andrade, Borghi Junior, Alexandre Santos, Roberto Silva, Jota Háwilla, Chico de Assis, João Zanforlin, Mauro Pinheiro, Loureiro Júnior e Sérgio Cunha - que chegou à direção de esportes no final da década de 90.
Em 1985 deixou a Bandeirantes e foi trabalhar na record, no time de Oswaldo Maciel e Sérgio Cunha. Tinha como companheiros, além dos dois, Loureiro Júnior, Reinaldo Costa - autor do slogan "A Voz do Rádio", Augusto Quelhas, Roberto Silva, Luís Carlos Quartarolo (naquele tempo chamado de Luís Carlos Santos - mudou o nome para não ser confundido com um deputado do mesmo nome, e Márcio Calves.
A equipe ganhou a liderança esportiva na rádio durante a Copa do Mundo de 86, escorados num trabalho sério e apoiados com apresentadores de fama como Eli Corrêa, Paulinho Boa Pessoa e Paulo Barboza. Quando Maciel e Sérgio Cunha deixaram a Record, assumiu Osmar Santos. E foi nesta época que teve, segundo ele mesmo relata, a grande honra de trabalhar ao lado do maior relator esportivo do rádio em todos os tempos - Pedro Luís. Permaneceu na Record, onde também fez TV, até janeiro de 1991.
Em outubro de 1991 retornou à grande paixão Bandeirantes, mas desta vez apenas para o rádio, onde permaneceu até 1998. Foi nesse ano que o rádio da capital deixou de acompanhar a Voz do Rádio.
Hoje, secretário de cultura, turismo e esportes na cidade de São Pedro, ainda arranjo um tempo para "brincar" de rádio. Fez umas "pontas" na Rádio Brasil, de Santa Bárbara D´oeste e na Rádio Mix, de Limeira-SP."
No dia 15 de setembro de 2015, a redação do Portal Terceiro Tempo recebeu o seguinte e-mail de Helio Soares, sobre Paulo Edson:
Os melhores domingos da minha vida Desde sempre o futebol foi coisa de domingo. E como meu pai trabalhava no Scratch do Rádio e estava sempre na frente de um microfone em todas as jornadas esportivas, eu, quando criança, tive pouco a companhia dele nos finais de semana em um passeio no parque ou coisa parecida. Na época, não sabia o que isso poderia significar, pois nunca tive, mas também não lamento. Eu tive o privilégio de crescer vendo o meu pai trabalhar. A alternativa encontrada por ele para estar comigo e deixar minha mãe em paz sem um impaciente moleque correndo pelo apartamento, no domingo, era me levar para o trabalho. Desta forma, vi muita coisa acontecer e muita mudança na Band. Tenho poucas lembranças da época pré-escolar, mas as minhas primeiras recordações de criança são dentro da Band. A entrada da rua Radiantes, onde logo depois tinha um corredor à esquerda, que parecia imenso para uma criança. A redação de esportes ficava no final. No meio tinha uma escada que me dava medo, pois o corrimão de uma madeira maciça era “alto” e eu poderia passar por baixo com muita facilidade, então sempre subia ou descia por essa escada escorado pela parede. Era por essa escada que eu alcançava o segundo andar. Era subir e logo me dava de frente ao Controle Geral, aquela sala enorme com um grande vidro na frente, onde se podia ver tudo dentro. Eu, pequeno, via apenas o teto da sala, mas quando entrava, ficava fascinado com aqueles equipamentos todos e, apesar da pouca idade, sabia da importância daquilo tudo. Mas ainda não era esse o andar onde o meu pai trabalhava. Para meu desespero, tinha que subir ainda mais um lance de degraus para atingir o andar onde, virando a direita, numa das últimas salas à direita, ficava o QG de Esportes. Nesse espaço eu me sentia em casa e foi onde aprendi a admirar o meu pai, a dedicação dele ao trabalho e o amor que tinha pela Band. Uma sala pequena, com uns rádios que mais pareciam da Segunda Guerra dos dois lados. Eram aparelhos enormes que pegavam emissoras de todo mundo. Aquilo para mim era a glória. Adorava ficar sintonizando rádios que falavam uma língua que eu nunca entendia. Passava horas com aquele meu “brinquedinho”. No final dessa sala tinha um cubículo com uma redoma de vidro. Era lá dentro onde meu pai trabalhava. Era o espaço para uma pequena mesa com um microfone no centro, uma prateleira com um cronômetro e uma cadeira. Uma chavezinha nessa prateleira transformava aquilo em mágica. O meu virava aquele botão e começa a falar. Muitas vezes eu estava em algum rádio, do lado de fora do vidro, ouvindo a própria rádio Bandeirantes (sempre em onda curta), para poder ouvi-lo Na frente dessa sala tinha um grande armário com várias de pastas. Era lá onde todas as fichas técnicas das partidas eram metodicamente armazenadas. Algum rádio escuta pegava uma pasta daquelas para mim e eu ficava vendo as escalações, tempo dos gols, renda, público... e imaginando como as partidas tinham acontecido. No outro lado do corredor do QG de Esportes, acho que no andar superior, ficava a central de telex. Era uma sala barulhenta onde máquinas de teletipos ficavam a todo instante soltando rolos e mais rolos de notícias. Para uma criança, era uma enorme “máquina de escrever” sem ninguém digitando nada, mas que tinha folhas e mais folhas com coisas escritas. Eu era autorizado pelo meu pai a ir até lá, de vez em quando, pegar a cópia que era separada para o departamento de esportes. Lembro que no final de um desses corredores tinha um termômetro. E Isso também fazia parte das minhas “tarefas”. Sempre ao final da jornada esportiva eu tinha que ir até lá e ver quantos graus estava marcando. Era o plantão de esportes que encerrava a transmissão, mas não antes do meu pai ler as fichas técnicas das partidas do campeonato paulista e os resultados dos campeonatos estaduais país a fora e falar: “No alto do Morumbi, os termômetros marcam...” Mas já estava escuro e acabava mais um dia ao lado do meu pai, que para mim não era um domingo, e sim mais um dia que não tinha aula e eu aproveitava para estar ao lado dele.]
Abaixo, confira a entrevista concedida por Paulo Edson ao colaborador Edvaldo Tietz, no dia 2 de agosto de 2019: