Demetrio Giuliano Gianni Carta, o Mino Carta, jornalista italiano radicado no Brasil, morreu em 2 de setembro de 2025, aos 91 anos, após diversas complicações de saúde. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista.
Mino Carta foi casado com casado com Maria Angélica Pressoto, que morreu em 1996, Com ela, teve dois filhos, ambos jornalistas: Gianni, que morreu em 2019, vítima de câncer nas vias biliares, aos 55 anos, e Manuela Carta, com quem trabalhou por muitos anos.
Natural de Gênova, onde nasceu em 6 de setembro de 1933, chegou ao Brasil com sua família em 1946, logo após a Segunda Guerra Mundial.
Seu pai, um ferrenho opositor ao regime fascista de Benito Mussolini, era diretor de um jornal em Gênova, e foi afastado do cargo justamente pelas críticas que fazia ao sanguinário ditador italiano.
Ingressou no curso de Direito da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP (Universidade de São Paulo), mas não chegou a concluir o curso.
O primeiro trabalho deste ítalo-brasileiro como jornalista foi escrevendo sobre futebol para jornais italianos, por ocasião da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil.
Chegou a voltar para a Itália pra trabalhar no jornal Gazetta del Popolo em 1956, tendo o Brasil como tema de seus artigos, mas acabou retornando definitivamente ao Brasil em 1960, e a convite de Victor Civita, então presidente da Editora Abril, criou a Revista Quatro Rodas, publicação icônica do setor automobilístico brasileiro. Na ocasião do lançamento, em agosto de 1960, Mino Carta tinha 24 anos.
Trabalhou também no jornal O Estado de S. Paulo, criando no grupo da família Mesquita a editoria de esportes e o Jornal da Tarde.
Em 1968, quando a Ditadura Militar guinchava no Brasil, Mino Carta lançou a Revista Veja, no Grupo Abril, e a publicação foi crítica severa ao regime militar. Mino foi fundamental para tornar públicas denúncias de 150 casos de tortura em 1969, o que o levou a diversos interrogatórios promovidos pelos órgãos de repressão. Ao todo, 40 depoimentos na Polícia Federal, com duas prisões.
Sua saída da "Veja" se deu por não concordar com a demissão do colunista Plínio Marcos, dramaturgo, pois a demissão de Plínio havia sido uma ordem do regime militar à direção da Editora Abril.
Mas a veia editoria de Mino Carta não se exauriu com sua saída do Grupo Abril. Em 1978 ele fundou uma nova revista, a IstoÉ, e naquele mesmo publicou a primeira grande entrevista com Luis Inácio Lula da Silva, quando este liderava o movimento operário no ABCD paulista.
Depois, em 1979, junto ao saudoso jornalista Cláudio Abramo (1923-1987), fundou o Jornal da República, sua empreitada de menor sucesso, devido a problemas financeiros.
A volta por cima se deu em 1994, quando criou a CartaCapital, revista progressista que fez oposição ao governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso.
HONRARIA
Mesmo sem ter concluído nenhum curso superior, sua trajetória foi reconhecida, e em 1998 foi agraciado com o Título de Doutor Honoris Causa pela Faculdade Cásper Líbero.
Em 2006, mais uma justa homenagem, quando recebeu o prêmio de Jornalista Brasileiro de Maior Destaque no Ano da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira no Brasil.
ESCRITOR
Também escritor, publicou dois romances: O Castelo de Âmbar (2000) e A Sombra do Silêncio (2003). Também escreveu um livro de crônicas, o Crônicas da Mooca, lançado em 2009. Em 2013, com direito a uma movimentada sessão de autógrafos, lançou o livro O Brasil, na Livraria Cultura, em São Paulo. Sua última obra publicada foi A Vida de Mat - parte 1, lançada em 2016.
DEPOIMENTO DA FILHA
No Instagram da CartaCapital, Manuela Carta, sua filha, escreveu um depoimento emocionante sobre a trajetória e a convivência com seu pai, que segue abaixo:
Como é ser filha de um cara tão brilhante como o Mino?
Incontáveis vezes ouvi essa pergunta. A resposta vinha fácil, porque eu sempre tive muito orgulho de ser filha do maior jornalista do Brasil. Ele, juntamente com minha mãe, uma das minhas primeiras grandes referências de caráter e retidão. Como criador de tantas publicações, sempre será sinônimo de jornalismo honesto.
Com ele trabalhei duas vezes, primeiro na Senhor, depois na Istoé. Em 2001 aceitei o convite que ele me fez para me juntar, no papel de publisher, ao projeto da CartaCapital, que naquele momento viraria semanal.
Apesar do grande desafio que é tocar uma marca com ideais progressistas num país conservador, acho que fizemos uma boa dupla – ainda que entre tapas e beijos. Ah, como me aborrecia quando, pela enésima vez, ele escrevia que o Brasil é o país da Casa Grande e da Senzala, que isso aqui não tem conserto, que nossa elite é um horror. Eu argumentava, “troca o disco, papai”, mas ele, impaciente, explicava que certas coisas precisam mesmo ser repetidas. Sábio Mino. Infelizmente, ele tinha razão, o Brasil é muito atrasado e ele não viu as coisas melhorarem de verdade.
CartaCapital foi um sonho do meu pai e passou a ser também meu. Levar esse projeto adiante, sem pretender substituir o meu pai, mas tentando manter a qualidade e coerência que sempre marcaram seu trabalho, é a melhor maneira de honrar o seu legado.
No último ano, meu pai travou sua última batalha ao lutar pela vida, na esperança de chegar à sua festa de 100 anos. Aguentou o quanto pôde. Espero que encontre a esposa amada, Angélica, a velha e querida avó Eugenia e o filho perdido, Gianni, reunidos na sua inesquecível casa de San Remo, a bordo de um prato de tomates temperados com bom azeite, manjericão abundante e dois dentes de alho. Tudo regado a Pigato. Ao fundo, se ouvirá o barulho suave do Mediterrâneo, o perfume das oliveiras e dos pinheiros-marítimos e as músicas da Mina, do Fred Bongusto e do Peppino. Arrivederci, pai querido. Que você reencontre suas mais preciosas memórias na sua nova jornada.
ABAIXO, DIVIDIDO EM TRÊS PARTES, O PROGRAMA "PROVOCAÇÕES", APRESENTANDO PELO TAMBÉM SAUDOSO ANTÔNIO ABUJAMRA (1932-2015) EM ABRIL DE 2011, EM QUE MINO CARTA FOI O CONVIDADO
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