Washington pode estar vivendo o seu primeiro, seu único e, mais que tudo, seu último momento ligado ao Mundial FIFA de 2026

Washington pode estar vivendo o seu primeiro, seu único e, mais que tudo, seu último momento ligado ao Mundial FIFA de 2026

Nas horas que antecedem o sorteio da maior Copa do Mundo da história, Washington vive algo raro.

A cidade recebe dirigentes, técnicos, delegações, autoridades e o olhar global total do futebol.

A capital política dos Estados Unidos se transforma, por um breve instante, no coração do esporte mais popular do planeta.

Enquanto o mundo foca no palco do sorteio, um detalhe passa despercebido.

Washington, que hoje respira futebol como nunca em sua história, pode estar vivendo o seu primeiro...seu único e mais que tudo: seu último momento ligado ao Mundial FIFA de 2026.


Para entender isso, basta observar o cenário.

As seleções classificadas enviam seus treinadores. As federações tomam seus lugares nas mesas.

Os principais rostos da Copa desfilarão da bola e da política pelo luxuoso Kennedy Center for the Performing Arts, onde o sorteio será conduzido e transmitido para 183 países.

A imprensa internacional já lota hotéis, se move pelas ruas de Washington, e circula pelos cafés, bares e restaurantes.

Mas, toda essa movimentação e câmeras e visitas....e imprensa...Pois...Nada disso voltará a acontecer nesta mesma cidade até a chegada da Copa do Mundo e nem durante o torneio.

A capital americana recebe hoje uma presença massiva e irrepetível.

O fato é que pela última vez em que todos esses técnicos e delegações do futebol mundial visitarão Washington.

E a razão é simples e, para muita gente, é desconcertante.

Mesmo sendo a sede do sorteio e apesar de os Estados Unidos abrigarem a maior parte dos 104 jogos da Copa de 2026, eis que Washington não receberá uma única partida do Mundial!

Nem fase de grupos, nem oitavas, nem quartas, nem semifinal, nem nada.

A capital do país que assume a maior responsabilidade logística da história dos Mundiais ficará completamente fora do calendário esportivo do torneio.

Terminou o sorteio da Copa no Centro Kennedy, dia 5....terminou o que será qualquer menção da cidade de Washington ligada à Copa do Mundo de 2026.

Essa decisão de deixar de fora a capital dos EUA, não caiu bem entre dirigentes locais, empresários, patrocinadores e boa parte da imprensa.

O projeto original foi uma candidatura conjunta entre as cidades de Washington e a cidade vizinha à capital dos EUA, Baltimore.

Com jogos previstos no antigo estádio FedEx Field, em Maryland, localizado há cerca de 32 km do centro de Washington.

Mas os sonhos da capital americana foram por águas abaixo.

Isso porque a FIFA considerou o estádio "insuficiente" em termos de infraestrutura, ruim em termos de acessibilidade, "impróprio" na qualidade do gramado e "arriscado" no que diz razão à capacidade de modernização da arena.

A avaliação final da entidade máxima do futebol mundial colocou o Fedex Stadium como um dos 3 piores entre todos os estádios americanos inicialmente analisados para servirem de palco para os jogos da Copa.

Sem o apoio pleno da administração do estádio e sem garantias financeiras para a potencial atualização estrutural, a candidatura de Washington/Maryland-Baltimore perdeu completamente força e saiu da disputa.

E é assim que Washington se tornou um caso singular na história moderna do torneio máximo do futebol mundial.

A capital do país com mais de 75% dos jogos da Copa do Mundo de 2026.... ficará fora do campo.

O Mundial será distribuído entre 16 cidades. Nos EUA, são 12:

Atlanta, Boston, Dallas, Houston, Kansas City, Los Angeles, Miami, New York New Jersey, Filadélfia, São Francisco e Seattle. No México, são 3: Monterrey, Guadalajara e Cidade do México. E no Canadá, 2: Vancouver e Toronto.

A ironia é inevitável.

O Canadá também não terá jogos em sua capital. Ottawa, que é, como no caso da Austrália e Brasília, ou seja: cidades praticamente dedicadas quase totalmente a serem centro político dos países em questão, não tem estrutura em nível Mundial para uma Copa.

Mas Washington é um caso diferente.

No México, a Cidade do México, berço histórico de duas finais de Copa, volta a ser palco da competição.

Assim, os Estados Unidos decidiram deixam sua capital de fora. E perdem a oportunidade de gerar um futuro diferente e melhor para o seu futebol, em toda a região da capital.

O contraste fica ainda mais evidente quando se observa a linha histórica das Copas do Mundo.

Desde 1930, as capitais dos países organizadores do torneio máximo, costumam aparecer com protagonismo.

Montevidéu recebeu todos os jogos da primeira edição em 1930.

Roma, Berlim, Paris, Cidade do México, Buenos Aires, Madrid, Moscou, Doha. Quase sempre a capital organizadora teve papel simbólico, técnico ou decisivo na história do torneio.

Não faltam casos em que a final foi disputada diretamente na cidade que concentra o poder nacional.

A lista é longa e mostra como o Mundial sempre procurou esse eixo simbólico: país organizador e sua capital, juntos pela glória . A final de 1930 em Montevidéu. A final de 1934 em Roma. A final de 1938 em Paris. 1950 em Montevideo. Berna em 1954. Na Copa de 1962, a final foi em Santiago, e em 1966, foi em Londres a final.

Em 1970, o palco foi a capital, CIdade do México. Em 1978 em Buenos Aires. 1982, foi em Madrid.

Em 1986, novamente a Cidade do México, e em 1990, Roma recebeu a final.

A final de 1998 foi em Paris. 2006 foi Berlim o palco da final.

2010, Johannesburgo recebeu a decisão.

A final de 2018 em Moscou. A final de 2022 em Lusail, uma cidade planejada, integrada à capital Doha em termos de região metropolitana.

Maioria esmagadora dos países organizadores da Copa do Mundo não perderam a oportunidade de valorizarem suas capitais.

Mesmo assim, a história registra exceções notáveis.

Em 1974, a Alemanha Ocidental tinha Bonn como capital. Nenhuma partida aconteceu lá, pela dimensão menor da cidade.

A FIFA concentrava suas escolhas em cidades com estádios modernos ou reconstruídos no pós-guerra.

Bonn ficou fora por razões que combinavam falta logística, de capacidade e de projetos urbanos. Mas principalmente porque a Alemanha estava em processo de mudança da capital de Bonn para Berlim. E foi Berlim que recebeu a grande final da Copa do Mundo realizada na ALemanha, em 2006.

Outra exceção ocorreu em 2002.

O primeiro Mundial dividido entre dois países na história, Japão e Coreia do Sul. A Coréia do Sul centralizou vários jogos em Seul.

Mas o Japão praticamente ignorou Tóquio, a maior metrópole do planeta e sede do governo japonês.

A idéia tinha uma lógica. Excelente por sinal.

Em primeiro lugar, fazer o máximo para tirar turistas da capital, e fazer com que todo o Japão recebesse mais torcedores e mais eventos fora da principal cidade do país.

O Estádio Nacional de Tóquio, tombado pelas autoridades arquiteturais do país, não poderia ser modificado, aumentado, nem tocado.

Distante do padrão exigido, o Japão preferiu focar em outros palcos.

A FIFA preferiu Yokohama, que acabou recebendo até a final, e Saitama, que completou o eixo da região próxima à Tokyo.

Esses dois casos sempre foram tratados como situações específicas, raras, e bem únicas.

Bonn carregava marcas de sua condição política e urbana. Tóquio vivia limitações de estádio e planejamento.

Porém, em ambos os casos, o país anfitrião ao menos mantinha proximidade natural entre a capital e o eixo do torneio.

Em 1974, as sedes com seus estádios em Colônia e Düsseldorf ficavam a minutos da capital Bonn.

E em 2002, Yokohama e Saitama pertenciam ao arco urbano de Tóquio,a menos de uma hora de trem da capital.

Em 2026, a ruptura deste desenho tradicional histórico é total.

No caso de Washington para a Copa de 2026, a capital americana ficará a centenas de quilômetros do estádio mais próximo.

O intenso fluxo de membros credenciados FIFA ligados ao mundial de futebol que hoje atravessa as avenidas de Washington não voltará à capital americana, durante os mais de trinta dias de torneio, no Mundial do ano que vem.

Nem um amistoso sequer, está marcado para ser jogado em Washington. Nem uma base de treinos de seleções, nem um centro oficial de mídia, nada.

A capital dos Estados Unidos estará fora do mapa da Copa enquanto o resto do país vive a maior operação esportiva de sua história.

Esse vazio é ainda mais simbólico porque 2026 será o Mundial mais amplo já organizado.

Serão 48 seleções com um total de 104 jogos. Serão jogados em três países.

Será o maior deslocamento logístico já visto na historia dos Mundiais.

E mesmo assim, ou talvez por causa disso, a capital política dos EUA não terá papel algum além do sorteio que ocorre nesta dia 5 de Dezembro.

A geografia emocional e econômica do futebol se afasta do centro do poder político norte-americano e cria um mapa mais distribuído, mais comercial e mais vinculado a estádios com potencial econômico. Bem longe de Washington e do centro político norte americano.

Quando o sorteio terminar, quando os técnicos deixarem seus hotéis, quando as delegações retornarem aos seus países, Washington perderá a presença mundial que hoje carrega.

Nos trinta dias do Mundial, nenhum dirigente da FIFA ficará baseado na capital americana.

Nem membros do Comitê Organizador. Nem diretores da US Soccer. Nem a FIFA: ninguém escolheu ficar, abrir escritórios ou trabalhar desde a capital americana.

Washington realmente é bem mais que só o local do sorteio final da Copa do Mundo de 2026, e de ser uma capital que está fora do mapa do futebol.

E isso porque o sorteio da Copa não só um evento e nada mais.

Pois não é que em meio a um clima pesado de receio e de muitas críticas, o sorteio traz um receio grande.

E isso porque que essa reunião de técnicos e dirigentes do futebol mundial em Washington neste 5 de Dezembro, a segurança estará no nível máximo!

Isso porque este sorteio da FIFA é o primeiro evento público que acontece na capital, depois do atentado terrorista de 26 de novembro de 2026, quando dois membros da Guarda Nacional foram atacados a tiros por um imigrante afegão em frente à Casa Branca.

Exatamente a Casa Branca: o ponto que deveria ser o mais protegido de toda a capital.

O episódio expôs fragilidades de segurança, abriu discussões sobre riscos e deixou parte da população desconfortável com a ideia de receber delegações internacionais tão poucos dias depois de um ataque que deixou um dos soldados americanos mortos.

Para muitos, a escolha de manter o sorteio ali atende mais a uma obrigação política do que a uma convicção real de que a cidade está preparada para um evento desta magnitude, que é o sorteio da FIFA....enquanto a cidade ainda está em choque pela gravidade do atentado.

E tem mais: ao mesmo tempo, Washington vive o sorteio como uma promessa de muitos comentários que irão muito além do futebol.

A capital que ficou fora da Copa recebe um sorteio de Copa do Mundo, para grande parte dos observadores, terá uma cerimônia paralela...que se camufla como um prêmio de consolação. Quem sabe oferecido ao vencedor para amenizar o constrangimento da capital americana ser ignorada como sede de jogos da Copa, num país que terá mais de três quartos de todos os jogos do torneio.

A proximidade nesta minúscula janela de tempo, entre o atentado em frente a Casa Branca e o sorteio da FIFA amplia a sensação de improviso e torna tudo ainda mais polêmico, já que a cidade não deveria estar lidando com multidões, imprensa internacional e protocolos reforçados, nesse momento, enquanto ainda tenta absorver o impacto do ataque.

Pois essa contradição fica ainda mais evidente com a tal cerimônia paralela: que será realizada simultaneamente com o sorteio.

O assim chamado Prêmio da Paz da FIFA: um troféu criado recentemente, sem que saiba quem forma a lista de indicados ao prêmio, sem regras públicas conhecidas e sem qualquer transparência sobre quem vota ou como se decide o vencedor.

Nem de quanto será o prêmio em dinheiro ou que formato terá o troféu.

Um prêmio cuja existência repentina, como já escrevemos aqui no 3º Tempo, levanta suspeitas e que muitos acreditam ser direcionado politicamente, transformando Washington no palco ideal para uma cerimônia mais simbólica do que esportiva, mais diplomática do que técnica, mais estratégica do que espontânea.

Que nasce dias após o Comitê do Prêmio Nobel na Noruega definir que o Presidente dos EUA não receberia a honra dessa vez.

Que nasce em um encontro de negócios em Miami, anunciado pelo presidente da FIFA, em um evento que ele estava ao lado do Presidente americano. E que quando perguntado sobre quem seria o vencedor desse novo prêmio, o presidente da FIFA só respondeu: " Dia 5 de Dezembro, no sorteio da FIFA, voces vão saber quem foi o escolhido".

Assim como o sorteio, o prêmio aparece como um elo frágil entre a Copa e a capital norte-americana.

O que fica para Washington, no fim, é a lembrança de um dia em que a cidade vira centro do futebol mundial, num sorteio decisivo para cada uma das 48 seleções classificadas... sem receber nem um só jogo da mesma competição.

Assim a Copa de 2026 oficializa o registro de que, mesmo sendo a maior da história, os organizadores optaram por um caminho raro e contraditório: deixar a capital do país anfitrião completamente fora do espetáculo.

Confinar Washington a eventos protocolares e cerimônias. E nada mais,

A Copa do Mundo de 2026 será um torneio que passa longe da capital do EUA.

O que fica para Washington é a memória de um dia em que a capital do país anfitrião não faz parte do espetáculo de verdade.

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