Luis Fernando Verissimo

Escritor, jornalista e músico
por Marcos Júnior Micheletti
 
O gaúcho Luis Fernando Veríssimo, um dos maiores escritores brasileiros, notabilizou-se pelas crônicas de humor, muitas delas eternizadas a partir de sua obra "Comédias da Vida Privada", lançada em 1994 e que tornou-se inicialmente um especial na Rede Globo para depois ser adaptada como um seriado de 21 capítulos.

Filho de um dos mais representativos escritores brasileiros, o também gaúcho Érico Verissimo (autor de "O Tempo e o Vento" e "Incidente em Antares", entre outros), Luis Fernando nasceu em Porto Alegre no dia 26 de setembro de 1936 e passou boa parte de sua juventude nos Estados Unidos, morando com sua família, uma vez que seu pai foi professor da Universidade de Berkeley. Em território americano, mais precisamente em Washington, apaixonou-se pelo jazz, o que lhe levou a cursar saxofone para tocar ao lado de alguns amigos, apresentando-se em alguns grupos musicais.

Tímido, conhecido por falar pouco, Luis Fernando Verissimo é um apaixonado torcedor do Sport Club Internacional, clube para o qual escreveu diversos textos.

Além da música é também apaixonado por gastronomia, sendo um grande conhecedor de pratos e ingredientes, e as viagens a Paris sempre foram constantes para que pudesse apreciar as iguarias francesas.

Quando regressou dos Estados Unidos para Porto Alegre, em 1956, começou a trabalhar no departamento de arte da Editora Globo, passando depois para a função de tradutor e redator publicitário, nesse ocasião no Rio de Janeiro, durante o tempo em que morou na capital fluminense (1962 a 1966).

Novamente voltou a Porto Alegre para inicialmente trabalhar como revisor do Jornal Zero Hora, passando depois a assumir uma coluna diária, inicialmente abordando o futebol.

O primeiro grande sucesso, de alcance nacional, foi "O Analista de Bagé", um personagem psicanalista freudiano com características gaúchas, que também foi adaptado para o teatro. Os irmãos gaúchos Kleiton e Kledir amigos de Verissimo, fizeram uma música em homenagem à obra com o mesmo título, "O Analista de Bagé", qu foi um dos sucessos do disco lançado pela dupla em 1983.

Escreveu também para a Revista Veja  entre 1982 e 1989 (coluna semanal) e depois o mesmo trabalho para o jornal "O Estado de São Paulo".

Suas "tiras" de humor "As Cobras", também foram outro sucesso do escritor, também desenhista, que lançou outro grande sucesso literário em 2000: "As mentiras que  os Homens Contam".

"Ed Mort" e a "Velhinha de Taubaté", foram outros dois personagens criados por Verissimo adaptados para a televisão, o primeiro interpretado pelo ator Paulo Betti e a segunda pelo humorista Chico Anísio.

Reside na mesma casa que foi de seu pai, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. É casado com a carioca Lúcia Helena Massa, com quem tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro. É avô de uma neta: Lucinda, filha de Fernanda.

Em 22 de novembro de 2012, aos 76 anos, foi internado no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, em estado grave, após um encontro literário na cidade mineira de Araxá.

Com uma infecção generalizada, o escritor começou a ser monitorado com respiração artificial, sedado e administrado com antibióticos para tentar controlar a enfermidade.

Um dos textos ótimos textos escritos por Luis Fernando Verissimo para o futebol foi a respeito do futebol de rua, onde ele enumera as dez regras para a prática da atividade de maneira extremamente criativa e bem humorada. Veja, abaixo:

FUTEBOL DE RUA - por Luis Fernando Veríssimo


Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora. Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim:
 
1. A BOLA
A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do irmão menor.
2. O GOL
O gol pode ser feito com o que estiver à mão: tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, chinelos, os livros da escola e até o seu irmão menor.
3. O CAMPO
O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e, nos clássicos, o quarteirão inteiro.
4. DURAÇÃO DO JOGO
O jogo normalmente vira 5 e termina 10, pode durar até a mãe do dono da bola chamar ou escurecer. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
5. FORMAÇÃO DOS TIMES
Varia de 3 a 70 jogadores de cada lado. Ruim vai para o gol. Perneta joga na ponta, esquerda ou a direita, dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.
6. O JUIZ
Não tem juiz.
7. AS INTERRUPÇÕES
No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada em 3 eventualidades:
a) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isso não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação.
b) Quando passar na rua qualquer garota gostosa.
c) Quando passarem veículos pesados. De ônibus para cima. Bicicletas e Fusquinhas podem ser chutados junto com a bola e, se entrar, é gol.
8. AS SUBSTITUIÇÕES
São permitidas substituições no caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer lição ou em caso de atropelamento.
9. AS PENALIDADES
A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar o adversário dentro do bueiro.
10. A JUSTIÇA ESPORTIVA
Os casos de litígio serão resolvidos na porrada.
 
ABAIXO, A MÚSICA "OLHO MÁGICO", COMPOSIÇÃO DE LUIS FERNANDO VERÍSSIMO E KLEITON & KLEDIR. VERÍSSIMO TOCA SAXOFONE NA CANÇÃO QUE ESTÁ PRESENTE NO ÁLBUM "COM TODAS AS LETRAS", QUE REUNIU DIVERSOS ESCRITORES GAÚCHOS COM A DUPLA 


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