Ladinho

Ex-lateral-esquerdo do Grêmio

por João Lucas Cardoso, repórter esportivo do Diário do Sul

Adelardo Madalena, o Ladinho, marcante lateral-esquerdo do Grêmio nos anos 1970, morreu no dia 24 de março de 2022, em Tubarão-SC, sua cidade natal, aos 75 anos, vítima de infecção generalizada. 

Enquanto Adelardo Madalena vestiu a camisa azul, preta e branca, o Internacional de Falcão não tinha muita sorte nos Gre-Nais. "Nas minhas contas, joguei 12 clássicos. Só perdi dois: o primeiro e o último", assegurava Ladinho, lateral-esquerdo do Grêmio entre 1977 e 79.

Nascido em Tubarão-SC, em 24 de abril de 1947, ele começou no Ferroviário, de sua cidade natal, em 64, sendo protagonistas de diversos clássicos Ferro-Luz, contra o Hercílio Luz. "Sempre foi uma grande rivalidade. O pessoal de Oficinas (Ferroviário) não ia ao Centro (Hercílio) e eles não iam para o Oficinas. Não podia nem passar sobre o trilho", recordava-se.

Nos cincos anos no Ferrinho, chamou a atenção e passou a defender outras camisas (América de Joinville/SC em 1969, Portuguesa/SP em 70 e 71, Joinville/SC no ano seguinte) até chegar ao Atlético Paranaense, em 73. "Tive uma boa passagem. Fiz 11 gols no Paranaense de 74". A notoriedade veio depois, quando foi contratado pelo Grêmio, na época comandado por Telê Santana. "O Lauro Búrigo (técnico do Joinville em 1971) me indicou. Na época o zagueiro tinha que ser no estilo guarda-roupa. Eu era magrinho e franzino, por isso me colocaram na ala. E foi na posição que cheguei aos times maiores", contava.

Ladinho assegurava que foi um precursor em sua posição. Por aqueles anos, lateral servia somente para defender. "Era um jogador diferente para aquela posição. O que os alas fazem hoje, de chegar no gol, eu já fazia naquela época", garantia o ex-lateral que vivia numa chácara no bairro Cruzeiro, na querida Tubarão. Ele encerrou a carreira após outra passagem pelo Joinville (1980 a 82) e ainda encarou mais sete meses no Avaí, onde encerrou a carreira, aos 35. "Na época, jogador que chegasse aos 30 já era considerado velho, jogador com idade avançada. Dali por diante tentei a carreira de treinador". O pai de Gil e Jean e avô de Gabriela, ainda teve envolvimento esporádico com o futebol, geralmente nas categorias de base, e em dias de Gre-Nal atendia a telefonemas da Rádio Gaúcha.

Ainda sobre Ladinho, o portal Terceiro Tempo recebeu no dia 1º de julho de 2015 o seguinte e-mail do jornalista Léo Saballa

Transplante dá nova vida ao ex-jogador Ladinho

Manhã de sábado, 30 de maio de 2015. Adelardo Madalena, o Ladinho, 68 anos, ex-jogador do Grêmio, do Joinville, do Atlético Paranaense e do Avaí, estava fazendo hemodiálise, em uma clínica de Tubarão (SC), uma rotina que cumpria resignadamente nos últimos três anos e meio.

Neste momento, tocou o telefone e ele foi convocado pela Fundação Pró-Rim a se deslocar com urgência até Joinville para disputar o jogo mais importante da sua vida. Assustado e emocionado, ficou sabendo que uma família generosa acabara de perder um ente-querido e doou um rim para ele. Finalmente a fila avançou e chegou o tão esperado dia do transplante.

Nos 300 quilômetros que separam as duas cidades, Ladinho foi transportado pelo filho mais velho, em uma viagem tensa, porque o paciente precisava estar no hospital até as 14h30min. Saíram por volta das onze horas. Não haveria tempo de acréscimo, como ocorre no futebol. Fora do prazo, o órgão se deteriora e coloca em risco a vida do receptor. Então, toda essa logística teria sido em vão.

O filho estava focado na estrada, em alta velocidade e Ladinho permanecia calado, quase o tempo todo. Nada agora dependia dele. Em outros tempos, bastaria usar a sua velocidade, na lateral do campo, para decidir a história de um jogo. Lamentou que pudesse, depois de tudo, perder esse jogo por um simples capricho do tempo, por um inesperado congestionamento no trânsito ou alguma falha mecânica no carro. Na sua cabeça, um misto de ansiedade, insegurança, mas, ainda assim, uma ponta de esperança.

Neusa, a esposa de Ladinho, sua companheira dos últimos 40 anos, naquele momento, não estava ao lado dele, como sempre fazia nos episódios marcantes. Ela precisou arrumar malas com roupas e documentos. Para o marido ganhar tempo, ela viajou um pouco mais tarde, na companhia do outro filho.  

Para não deixar o filho mais tenso ainda, Ladinho disfarçava sempre que olhava para o relógio no celular. O tempo passava rápido demais, voava, mas a distância que faltava ser percorrida parecia cada vez maior.  

Retrocedeu no tempo. Lembrou do sucesso que obteve na sua profissão e das sólidas amizades que conquistou a partir do seu trabalho. Resgatou momentos dos jogos memoráveis contra o Santos de Pelé, o Flamengo de Zico e o Botafogo de Gerson, entre tantos outros gigantes do futebol. Recordou também dos vários títulos de campeão, que contam a trajetória vitoriosa da sua vida. Emocionou-se outra vez com os gols que marcou, outros tantos que evitou e a alegria constante que proporcionava aos seus torcedores.   

Ladinho perdeu a função renal por conta do excesso de automedicação, para combater uma dor crônica na perna. Analgésicos e antiinflamatórios eram ingeridos sem nenhuma orientação médica.

A gravidade da doença renal foi diagnosticada numa véspera de Natal, após sintomas de anemia. Os exames confirmaram que os rins do ex-jogador não cumpriam mais as suas funções. Na etapa seguinte, veio a máquina de hemodiálise, mas, sempre de olho no transplante.    

O relógio marcava exatamente 14h15min. Portanto, com apenas quinze minutos antes do prazo, o carro estacionou no Hospital Municipal São José de Joinville. Ladinho e o filho se abraçaram chorando, sem dizer nada. Nem precisava.

Ele foi levado rapidamente ao Centro Cirúrgico, onde a equipe o esperava. Estava de volta à Joinville. Desta vez, o palco do jogo não era o estádio Ernestão. Na torcida não havia bandeiras do América nem do JEC. No lugar da bola, uma parafernália médica. Naquele momento, apenas o filho torcia, em uma sala de espera. Os médicos e enfermeiros, estes sim, participavam ativamente do jogo e também torciam silenciosamente.

Assim como no futebol, mais uma vez Ladinho não decepcionou. O transplante foi um sucesso. Três horas depois ele se encontrava em recuperação. Em breve, estará de volta ao seu sítio, no Bairro Cruzeiro, em Tubarão, para cuidar do pomar, da horta e da criação. Vai ter muito tempo para assistir futebol na TV, para brincar com os netinhos e viajar com a Neusa, livre da dependência da máquina de hemodiálise.

Mais um jogo inesquecível. Para Ladinho, o maior e o mais disputado entre todos.

LÉO SABALLA

Obs: Ladinho voltou hoje (1º de julho) à Fundação Pró-Rim para os exames semanais. Está se recuperando e sentindo-se cada vez melhor. Disse que está no “come e dorme”. Passa o dia assistindo TV e não perde o Terceiro Tempo. Manda um abraço para o Milton Neves e toda a equipe. Torce pelo Grêmio, JEC, Avai e Atlético Paranaense. Espera se recuperar completamente e, se houver algum clube interessado, pretende colaborar com a sua experiência, em departamento de futebol. Ladinho está com 68 anos e mora em Tubarão (SC).  

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