Por Chico SantoO Brasil abriu mão de sediar a 13ª edição da Copa do Mundo de 1986. Inicialmente, prevista para ocorrer na Colômbia, o mundial por pouco não saiu. Problemas de ordem econômica, bem como a guerra entre os cartéis de Cali e Medellín, inviabilizaram a disputa do torneio no país tido, então, como o principal produtor de cocaína do planeta. Como medida de emergência, sobretudo em virtude da aproximação da data do pontapé inicial, a FIFA, então, sugeriu que a competição fosse realizada em solo brasileiro. José Sarney, presidente do Brasil, na época, recusou. Diferentemente do que fez o México.
Para realizar o evento, entretanto, o país de origem asteca teve que driblar um terremoto de grandes proporções que atingiu a Cidade do México em 19 de setembro de 1985. O sismo de 8.1 graus de magnitude na escala Richter, sentido em Houston, Guatemala e Chiapa, gerou ainda um tsunami com ondas de 3 metros. Até hoje não há um consenso em relação ao número de vitimas fatais. A estimativa varia de 9 a 40 mil mortos. Mesmo assim o México não desistiu de organizar a Copa.
Mais uma vez, vinte e quatro seleções participaram do encontro. Canadá, Iraque e Dinamarca estrearam na competição. A seleção dinamarquesa ficou conhecida como "Dinamáquina? após a goleada por 6 a 1 no Uruguai. O brasileiro Evaristo de Macedo assumiu o comando técnico do Iraque enquanto José Faria fez o mesmo com o Marrocos. Cayetano Ré, com o comando do Paraguai, se tornou o primeiro treinador a ser expulso em um mundial na partida contra a Bélgica. José Batista entrou para a história como o jogador a receber o cartão vermelho mais rápido da história das Copas. O uruguaio precisou de apenas 55 segundos para conquistar a façanha. Bem menos do que Fernando Vanucci para conter as lágrimas após a eliminação do Brasil de Telê Santana diante da França.
A campeãEm 1986 a Argentina encantou o mundo com uma das equipes mais técnicas de todos os tempos. Formado por Carlos Bilardo, o time portenho apresentou em campo aquilo que César Luis Menotti não conseguiu nos mundiais de 1978 e 1982. Diego Armando Maradona, evidentemente, foi o grande maestro da Copa. Sua liberdade em campo foi contida pelos excelentes volantes Jorge Burruchaga e Sergio Batista.
A Argentina estreou na competição em 02 de junho de 1986 com a vitória por 3 a 1 em cima da Coreia do Sul. Três dias depois, contra a Itália, empatou em 1 a 1 com gol de Diego Maradona. A classificação para as oitavas-de-final, como primeira colocada do grupo, entretanto, só veio na última rodada. Diante da Bulgária, em 10 de junho, vitória por 2 a 0.
Na fase eliminatória, passou pelo Uruguai com o placar apertado de 1 a 0. Nas quartas-de-final, fez um dos jogos mais antológicos da história do futebol frente a Inglaterra, algoz da Guerra das Malvinas. Naquela tarde de 22 de junho de 1986, no Estádio Azteca, palco da conquista do tricampeonato de 1970, as duas seleções jogaram, acima de tudo, para não perder. Basta dizer que tanto a Argentina quanto a Inglaterra entraram em campo com apenas um atacande. Jorge Valdano pelo time sul-americano e Gary Lineker com a camisa britânica.
A consequência da postura tática defensiva se refletiu nos primeiros 45 minutos através de uma partida truncada, porém com jogadas de efeito de Maradona e tabelas de calcanhar de Valdano. El Pibe de Oro, como também ficou conhecido o principal jogador de futebol argentino, chamou a atenção também pela indisciplina. Sem espaço para cobrar um escanteio na ponta direita chegou a arrancar a bandeirinha da linha de fundo. Repreendido, só repôs a bola após recolocar o basto no gramado.
Aos 5 minutos do 2º Tempo, entretanto, Maradona silenciou a poderosa esquadra inglesa, posicionada estrategicamente nas Malvinas, com o gol que lhe rendeu o apelido de "Mão de Deus?. Depois de receber um passe de Valdano na entrada da pequena área abriu o placar com um toque discreto de mão. Os ingleses protestaram. Contudo, o árbitro Ali Bem Naceur ? da Tunísia ? entrou para as páginas do desalento ao validar o lance ilegal. Minutos depois Maradona driblou praticamente todo o time inglês para aumentar a vantagem e fazer o gol mais bonito da Copa. Com o placar de 2 a 1 - Gary Lineker fez o gol de honra inglês ? a Argentina se classificou para a semifinal como a única seleção sul-americana entre as quatro melhores do torneio.
Em 25 de junho, o grupo de Carlos Bilardo voltou ao Estádio Azteca. Com mais dois gols de Maradona, os argentinos se classificaram para a decisão da Copa. Diante da Alemanha Ocidental, em uma partida apitada pelo brasileiro Romualdo Arppi Filho, a Argentina levantou a taça ao vencer o time germânico por 3 a 2. Ao contrário do que se viu em 1978, uma vitória incontestável.
O Brasil na CopaEm 1986, às vésperas da Copa do Mundo do México, a Seleção Nacional do Brasil não vivia um bom momento tanto do ponto de vista técnico quanto administrativo. Diante de um cenário marcado por disputas políticas, Octávio Pinto Guimarães assumiu em 1º de janeiro a presidência da Confederação Brasileira de Futebol no lugar Giulite Coutinho. Apesar da boa campanha apresentada no mundial da Espanha, Evaristo de Macedo, então sucessos de Telê Santana, não conseguiu emplacar. O futebol, em meio as brigas internas da CBF, foi deixado de lado e somente na última quinzena que antecedeu a eliminatória sul-americana a direção resolveu intervir. Para o lugar de Evaristo de Macedo, Octávio Guimarães optou em trazer de volta um velho conhecido de outras Copas.
Diferente do que ocorreu na Espanha, Telê Santana não teve o mesmo tempo hábil para montar o time. Na correria, conseguiu a classificação para o torneio do México depois eliminar o Paraguai e a Bolívia. Depois, com uma equipe formada com a base de 1982, convocou a Seleção Nacional do Brasil. Na lista dos atletas relacionados, Sócrates, Júnior, Falcão e Zico eram as grandes apostas. Nenhum deles estava na plenitude de seu condicionamento físico. Se não bastasse isso, poucos dias antes do embarque para a América do Norte, o treinador alegou a falta de comprometimento de Renato Gaúcho e cortou o atacante. Leandro, considerado nos bastidores o pivô da crise entre Renato Gaúcho e Telê Santana ? os dois (Renato e Leandro) deixaram a concentração em Belo Horizonte para curtir à noite mineira - tomou partido para o companheiro do Flamengo e pediu dispensa. Outro que também ficou de fora do mundial foi Toninho Cerezo. O volante não conseguiu se recuperar de uma lesão sofrida antes da Copa.
No México, Telê Santana enfrentou mais problemas como a falta de campo para treinar. O resultado disso apareceu logo na primeira fase, onde o time canarinho, apesar de não ter tido sua defesa vazada sequer uma única vez, não convenceu. Logo na partida de estreia, em 1º de junho de 1986, no Estádio Jalisco em Guadalajara, vitória magra por 1 a 0 com gol de Sócrates. Cinco dias depois, diante da inexpressível Argélia, foi a vez de Careca anotar o único gol do jogo. Contra a Irlanda do Norte, no último jogo da abertura, entretanto, a Seleção Brasileira esboçou um sinal de reação e goleou o time europeu por 3 a 0 com dois gols de Careca e outro de Josimar.
Nas oitavas-de-final, contra a Polônia, a equipe de Telê Santana manteve o bom retrospecto. Sócrates, Josimar, Edinho e Careca fizeram os gols da partida. A Seleção Brasileira estava classificada para enfrentar a França em 21 de junho de 1986, data em que o Brasil completava 16 anos do tricampeonato do México e Michel Platini comemorava o 31º aniversário. Cerca de 65 mil pessoas assistiram ao histórico duelo no Estádio Jalisco. Uma tarde que, definitivamente, não era para ser brasileira.
Com a bola rolando, logo aos 16 minutos da etapa inicial Careca abriu o placar após receber um passe açucarado de Júnior. Aos 40 minutos do fim do primeiro tempo, em uma falha de Branco, Carlos e Josimar, Michel Platini empatou. A Seleção Brasileira teve, ainda, uma chance de evitar a eliminação nas penalidades. Na etapa complementar, Branco foi derrubado dentro da área. A infração foi anotada pelo o árbitro romeno Igna. Na sequencia, Zico, que estava fora do jogo e entrou especialmente para cobrar o penal, desperdiçou. O embate terminou empatado e teve de ser decidido nas cobranças de pênaltis.
O primeiro a bater foi Sócrates. O eterno craque corintiano perdeu. Na sequencia, Stopyra abriu a contagem para os franceses (1x0). Alemão empatou (1x1). Amoros ampliou (2x1). Zico, com raiva, fez na segunda tentativa. (2x2). Bellone bateu, a bola explodiu na trave, tocou as costas do goleiro Carlos e entrou... (3x2). Branco converteu. (3x3). Michel Platini, o aniversariante do dia, fez aquilo que todo o Brasil esperava: chutou para fora. A Seleção Brasileira, finalmente, conseguira empatar as penalidades. Foi a vez, então, de Júlio César acertar a trave (3x3). Fernandez balançou as redes e colocou a França nas semifinais (4x3). A Copa do Mundo de 1986 havia acabado para o Brasil.