Adrian Jaoude

Um dos principais nomes do wrestling brasileiro

Com força hercúlea, o campeão projeta o adversário tirando-o do solo e formando um arco com o próprio corpo no golpe conhecido como “suplê” (suplex), um dos movimentos mais bonitos e potentes da luta olímpica (wrestling) e de todo mundo das lutas. A cabeça do desafiante é chocada contra a lona que marca a arena de luta, então sente o mundo tremer e esboça uma reação descoordenada. Na sequência, dotado de maior experiência e técnica, o rival rapidamente se aproxima, pressiona suas costas contra o solo para vencer a disputa.

A cena acima impressiona por parecer ter sido tirada de um documentário do Animal Planet mostrando um tigre abatendo sua presa ou lutando por seu território, mas foi mais uma das lutas da antiga vida de Adrian Jaoude, um dos principais nomes do wrestling brasileiro e atual membro do pro-wrestling (telecatch) americano da WWE (World Wrestling Entertainment), maior empresa do mundo na modalidade que mistura esporte e entretenimento.

Como areia cavalgando o vento

O libanês Antoine e a brasileira Tânia, pais de Adrian, foram visitar o Líbano em 1977 para apresentar o primogênito Antoine de apenas seis meses. O país árabe entrou em Guerra Civil, uma das piores do século passado, o pai precisou defender a família que só pôde deixar o país em 1990.

Os Jaoude ainda se lembram dos bombardeios, homens bomba e o som de fuzis rasgando os céus dias e noites. No Brasil a família reencontrou o clima tropical, rostos amigos e oportunidades para crescer mesmo enfrentando dificuldades. Os pais chegaram com Antoine, Ralph, Adrian e Daniel ainda meninos enquanto Nicolas nasceu no Rio de Janeiro.

Os primeiros passos de Adrian no mundo das lutas se deram no aikido, arte marcial japonesa com enfoque em atacar pontos de pressão do adversário, depois por influência de Antoine migrou aos 12 anos para o wrestling e em seguida trilhou caminhos no jiu-jitsu brasileiro, grappling, muay thai e a luta livre esportiva.

Alcançou nível de excelência em todas, porém sua grande paixão era vestir a malha da luta e emular os passos de um dos seus maiores exemplos: o próprio irmão Antoine, atuante nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 onde foi o único representante masculino da América do Sul tanto que é tido como referência da região.

A vivência dos garotos Jaoude lembra a relação apresentada no clássico de Francis Ford Coppola O Selvagem da Motocicleta (Rumble Fish, 1983) inspirado no livro homônimo de S.E Hilton. O jovem Rusty James (Matt Dillon) quer se tornar como o lendário irmão O Motoqueiro (Mickey Rourke).

O exemplo do irmão motivou Adrian a conquistar seu espaço obtendo o 2º lugar na competição internacional Dan Koloff & Nicolas Petrov na Bulgária em 2012, feito inédito no wrestling brasileiro, além do 3º lugar no Pan-Americano (2008), 2º lugar na Copa Brasil (2012) e 2º lugar no Campeonato Sul-Americano (2013) e 3º lugar nos Jogos da América do Sul (2014).

Sua ascensão o levou a disputar campeonatos mundiais, uma metade do seu sonho havia sido concluída: enfim se tornou em um wrestler de nível mundial. Entretanto, sabia que para impressionar o irmão herói tinha de competir nos Jogos Olímpicos.

Da destruição surge um novo caminho

“Precisamos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos, para podermos viver a vida que nos espera. A pele velha tem que cair para que uma nova possa nascer”, escreveu o mitólogo americano Joseph Campbell, do qual a ideia da “Jornada do Herói” foi uma das inspirações para a saga Star Wars, assim como explica o escritor americano Adrian Jaoude precisou abrir a mão do sonho olímpico para encontrar felicidade no outro lado do continente.

Em outubro de 2015, passou junto com Antoine no teste de seleção da WWE que buscava na América do Sul talentos para suas apresentações. Um convite que não poderia abrir mão ainda mais sendo casado com um filho e esperando outro, portanto teria uma segurança financeira não comum para atletas do pobre mundo esportivo brasileiro. Adrian pretendia conciliar os treinamentos para os Jogos no Rio 2016 com as atividades do novo empregador.

Ter uma rotina com muitas tarefas não era novidade já que para pagar as contas dava aulas de sua modalidade tanto para atletas dela quanto para lutadores de MMA, entre eles lendas como os irmãos Rodrigo “Minotauro” e Rogério “Minotouro” Nogueira, Ronaldo “Jacaré” Souza e Demian Maia.

Adrian não deixou de exercitar o cérebro, se formou em Publicidade e Propaganda e também em Jornalismo pela Universidade Gama Filho, hoje Estácio de Sá, e fez pós-graduações em Marketing Esportivo e Administração pela mesma instituição. Um plano B para se um dia precisar deixar os tatames e ringues.

Com o tempo foi percebendo o quadro ético, político e econômico arduamente vivido pelos seus compatriotas, e, por fim o golpe de descaso das autoridades esportivas com a participação do próprio irmão nos Jogos Rio 2016 o levaram a decidir à carregar a bandeira brasileira nos ringues da WWE. Mais uma vez uma migração e mais uma vez um misto de dor e esperança no coração, entretanto o irmão Antoine e os demais parentes não o acompanharam. Seguiu com mulher e filhos.

Desde sua aprovação Adrian vem treinando no conceituado e moderno WWE Performance Center, onde se prepara sob os olhos de Matt Bloom, Robbie Brookside, Terry Taylor entre outros. Nas apresentações de Adrian a mesma elegância e potência demonstradas na luta olímpica ressurgem com seu impactante suplex seguido de chaves-de-braço e guilhotinas do jiu-jítsu.

Mesmo com poucos vídeos na internet – a WWE protege seus lutadores – é possível ver o crescimento e como tem aprendido nos ringues em suas apresentações com o japonês Hideo Itami e o canadense Tye Dillinger. Sem apressar sua estreia no programa televisivo.

O telecatch brasileiro viu personagens como o poderoso Fantômas e o grande Ted Boy Marino, uma das principais celebridades nos anos 1960 e 1970. Dado o empenho de Adrian Jaoude não é impossível pensar num futuro próximo no qual ele ganhe com afeto e talento o coração dos brasileiros assim como os heróis do passado.

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