UOL Esporte
Prestes a completar 80 anos, Alexandre Santos fez história no grupo Bandeirantes de comunicação. Foram 45 anos de trabalho entre rádio e televisão na Band. E só lá. O narrador e apresentador encerrou a carreira sem passar por nenhuma outra emissora, e hoje olha para trás com muito orgulho da história que construiu. O que pouca gente sabe, porém, é que Alexandre Santos não é Alexandre Santos, e sim Antônio Hélio Spímpolo.
A mudança veio logo após entrar na Rádio Bandeirantes, quando teve o prazer de trabalhar com o lendário Fiori Gigliotti. Curiosamente, havia outro Antônio Hélio que trabalhava como locutor na Rádio Tupi, e assim, foi necessário um novo nome. Surgiu, então, a oportunidade de homenagear o irmão que havia perdido, e assim o fez.
"Alexandre é o nome de um irmão meu que morreu quando eu estava começando, e Santos por causa do dia de todos os Santos", recorda em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
"E quem me deu a primeira oportunidade foi o Fiori Gigliotti. O plantão fixo ficou doente e falaram: `e agora, quem nós vamos botar? Vamos colocar o Antônio Hélio´. Mas não podia chamar Antônio Hélio porque na Tupi já tinha um locutor que chamava Antônio Hélio, e sugeri Alexandre Santos. E fiz meu primeiro plantão com o Pedro Luiz e ele gostou e me efetivou", conta Antônio Hélio, casado há 50 anos e pai de três filhos – além de avô de cinco netos.
Em 2002, Alexandre Santos foi surpreendido com um acidente vascular cerebral. Do nada, precisou parar com a carreira depois de 45 anos ininterruptos no grupo Bandeirantes.
"Entrei no grupo Bandeirantes em 1957 e fui até em 2002, quando tive AVC e tive que parar. Faz 16 anos. Foram 45 anos de grupo Bandeirantes. Eu nadava segunda, quarta e sexta-feira fazia 30 anos, eu fazia mil metros em 34 minutos, não fumava, não bebia, pesava 60 kg, estava enxutinho, e acordei com AVC. Isso aí não tem explicação. Eu fiquei quatro anos meio sem voz, depois foi voltando devagarinho, e a Bandeirantes me bancou todos esses anos, me deu assistência médica, convênio, tudo, e até hoje eu tenho convênio, a Bandeirantes deixou para mim. É cobertura total também. Eu trabalhei 45 anos na Bandeirantes sem advertência, sem falta, sem nada, no rádio, na televisão e às vezes em publicidade. Era uma época bem diferente", lembra.
"Eu só trabalhei no grupo Bandeirantes, nunca mais trabalhei em lugar nenhum. Eu tenho muita saudade de narrar futebol pela televisão, eu gostava muito, ficava muito feliz, mas hoje eu sou conformado com o que eu fiz, foi o suficiente", acrescenta.
Os bordões: "criei mais de 50"
"Apontou, guardou". Uma das características mais marcantes nas transmissões feitas por Alexandre Santos foi a criação de bordões. Algo que, em sua opinião, é pouco feito hoje em dia.
"Eu criei mais de 50, e depois usava muito nas transmissões. Inclusive marcou bastante, alguns marcaram, mas o locutor, hoje em dia, não cria muito e eu penso que deveriam criar alguma coisa, porque tem pouca gente criando, está em falta. Depois do Silvio Luiz pouca gente tem criado alguma coisa. Hoje em dia os narradores são mais normais, tem pouca criação", diz.
"Tocou, guardou, guardou certinho, certinho, mas eu tenho muitos. Se eu falar aqui vamos demorar muito. Era só momento de inspiração, intuição. Aparecia de repente e eu usava nas transmissões. Não é fácil você colocar um bordão numa transmissão, é muito difícil você encaixar. O Osmar Santos tinha muitos, ele criou bastante", acrescenta Alexandre, que ainda vê algo de suas criações citadas nos dias de hoje por alguns narradores.
"Já ouvi muitos, muitos deles estão em evidência, mas não quero falar nada porque seria muita pretensão minha. Mas eu já ouvi `acabou o campo´, `no capricho´, `ele e a bola´, `apresentou-se´, esses são alguns", destaca Antônio Hélio Spímpolo.
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`Professor´ de Milton Neves na publicidade
Até uma vez o Milton Neves perguntou para mim: `Como é fazer publicidade´? E eu falei: `Vai num anunciante, faz amizade com ele e começa a falar bem dele´. O Milton começou e hoje é o maior vendedor de publicidade no Brasil, e também um grande amigo meu.
Gol, o Grande Momento do Futebol: o auge da carreira
Foi. Eu apresentei por 35 anos e aí parei e o Milton Neves assumiu, e até hoje está dando um show. A ideia do Gol o Grande Momento do Futebol foi minha. Eu patenteei e depois doei os direitos autorais para a Bandeirantes.
Quem são seus narradores preferidos atualmente
Eu não posso dizer isso porque seria muita pretensão minha, mas, por exemplo, eu admiro muito o Gustavo Villani, que está na Globo agora, e o Milton Leite, que está no SporTV. São, para mim no momento, os melhores locutores. O Gustavo Villani era da Fox, é um menino muito bom, vai subir muito. Dizem, inclusive, que ele vai ser o substituto do Galvão Bueno, pelo menos saiu até nos jornais, mas ele é muito novo ainda, tem 37 anos, é muito novinho, mas ele é muito bom.
Time de infância: "torcia para o Palmeiras"
Quando era garoto eu torcia para o Palmeiras, mas depois que eu virei profissional não torcia mais porque você tem que fazer Juventus x XV de Piracicaba do mesmo jeito que você faz Brasil x Inglaterra, então eu preferi não torcer mais. Depois que eu parei eu torço para o Palmeiras, o meu neto é palmeirense e ele é vidrado em todos os jogos do Palmeiras.
Paixão surgiu cedo: "narrava jogo de botão"
Eu sempre gostei de narrar jogo de botão. Tinha um clube na várzea e eu ia ver o jogo e ficava narrando com uma latinha escondido, atrás do campo, e aí eu fui pegando gosto até que eu fiz um teste na rádio Bandeirantes. Entrei em 1957 e o Fiori Gigliotti me colocou como rádio escuta no plantão, e eu fui aprendendo. Fiz plantão, depois externa, depois narrei futebol pela rádio, depois passei a narrar futebol pela televisão, e é uma carreira que eu acho muito bonita.
Por Marcello De Vico e Vanderlei Lima
Do UOL, em Santos e São Paulo
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