Ramon

Ex-centroavante do Santa Cruz e Vasco
por Rogério Micheletti e Gustavo Grohmann
 
Artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1973, o ex-atacante Ramon nasceu em Sirinhaém (PE) e vive hoje em Recife, no bairro Casa Amarela. Atualmente é presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol Profissional de Pernambuco.
 
Foi um dos primeiros treinadores do atacante Rico, que brilhou na Portuguesa Santista em 2003 e que também defendeu o São Paulo FC, no mesmo ano.
Como jogador, Ramon brilhou no Tricolor Pernambucano, onde iniciou a carreira em 1970, e depois foi jogar no Vasco da Gama, de 1976 a 1979, onde também viveu grande fase. Ele formou grande dupla de ataque com Roberto Dinamite no time de São Januário.
 
Em 1976, antes de se transferir para o Vasco, o ex-centroavante teve uma rápida passagem pelo Inter de Porto Alegre (RS), onde atuou ao lado de craques como o goleiro Manga, Don Elias Figueroa e Falcão (veja foto abaixo). Logo depois foi para o Sport e do time pernambucano foi negociado com o Vasco da Gama.
 
Ramon também passou pelo Goiás, de 1979 a 81, Ceará, em 1981 e 82, São José, em 1983, Ferroviário, em 1984, e Brasília, em 1985, quando encerrou a carreira.
Nascido no dia 12 de março de 1950, Ramon é casado, tem cinco filhos e sete netos.
 
Características:
Versátil - adequava-se a diferentes posições na frente -, habilidoso, oportunista, móbil e tinha boa arrancada.
 
Estréia pelo Santa: (fonte: pesquisador Carlos Celso Cordeiro)
Entrando no decorrer da partida:
03/12/1967
Amistoso - AGA 0x1 Santa Cruz (juvenil)
Entrando de frente:

18/05/1969
Amistoso - Central 3x1 Santa Cruz

Curiosidades:
Após se tornar o artilheiro do campeonato nacional, o Jóquei Clube de Pernambuco, através de seu presidente Sadoc Souto Maior, decidiu homenagear o centroavante Ramon. Foi-se, então, realizado o Grande Prêmio Ramón.

Um livro contando a história de Ramon está sendo elaborado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Sociologia do Futebol, da UFPE, e a Fundação Joaquim Nabuco. O lançamento da obra é aguardado para este ano.

Em homenagem ao pentacampeonato, conquistado por Ramon e seus companheiros, os irmãos Valença, autores do hino oficial do Santa Cruz, compuseram o frevo "O papa-taças" ("Quem é que quando joga a poeira se levanta? É o Santa! É o Santa!").
 
No dia 21 de janeiro de 2011 o site Terceiro Tempo recebeu de Sylvio Ferrer (sylvioferrer@uol.com.br) o seguinte e-mail:
 
"Grande Milton Neves,
O texto é de lavra própria e refere-se ao grande artilheiro Ramon, do Santa Cruz (e que jogou também no Internacional, no Vasco da Gama, Sport e Goiás, dentre outros clubes). Espero que você encontre tempo um dia para ler o texto em anexo com vagar. Creio que você apreciará saber um pouco mais da história desse fantástico jogador que foi artilheiro do campeonato brasileiro; para além do que, em geral, se é comumente sabido.
Saudações Corais,
Sylvio Ferreira"
 

Ramon, a usina de gols. Por Sylvio Ferrer

Ainda menino de calça curta e pés descalços na Usina Trapiche, no município de Sirinhaém, mata sul de Pernambuco, os canaviais lhe serviram como zagueiros imaginários que ele driblava na ida à escola deixando para trás as plantações de cana envergadas pela velocidade dos seus deslocamentos como se o seu corpo franzino fosse movido pela energia eólica ? aquela que provém do deus dos ventos. Em especial, nos dias em que o deus Éolo decide fazer de uma leve brisa uma forte ventania revelando o poder de mover a vida.

A caminho da escola, ele nunca deixava de levar a sua bola de meia; confeccionada com a matéria bruta dos seus sonhos: o de um dia vir a se tornar um jogador de futebol profissional e atuar por um grande clube. Era com ela que ele driblava as plantações e se fartava com o doce sumo da cana, esperançoso que os dribles dados não fossem em vão e que o seu sonho jamais se tornasse uma vã esperança. Enquanto o futuro ainda não passava de um simples presságio, o roçar das palhas das canas (que ele tomava como sinal de reconhecimento do seu talento após cada drible dado) lhe soava como os primeiros aplausos.

O talento do menino para jogar futebol era grande e a sua paixão pela bola era sem tamanho. Sob o travesseiro, nas noites em geral enluaradas da usina, a velha bola de meia embalava o seu sono e, semelhante a uma bola de cristal, lhe revelava o que o aguardava no futuro ? ocupar o panteão sagrado dos artilheiros. Esse sentimento que lhe acometia o deixava confiante. Mas aos seus devaneios se contrapunha a dura realidade da usina. Pelos grossos rolos de fumaça cuspidos pelas chaminés muitos sonhos já haviam se esvaído.

De formação católica, obediente e temente a Deus, o menino rezava todos os dias suplicando ao Todo Poderoso que lhe fosse oferecida uma oportunidade para a consumação do seu anseio. Por essa época, ele estudava no Colégio Nossa Senhora das Graças. De tanto rezar, as freiras lhe disseram o seguinte, em tom de reprimenda: "Você mais reza do que estuda!?. Entre a cruz e a usina, ele seguiu adiante com a sua fé, abriu mão dos estudos e fez a opção pela bola. Em casa, à noite, ele teve uma conversa mais prolongada com Deus.

Em decorrência, obteve a sua carta de alforria divina. O que significava dizer que ele podia levar adiante o seu sonho. Mas, em contrapartida, que enchesse de alegria o coração de quem o assistisse jogando nos estádios ? Deus sempre soube que há algo de sagrado em certas práticas profanas. Embora o menino ainda não se desse conta, o Santa Cruz já lhe aguardava de portas abertas. Mas até chegar lá, a população da usina teve que se render ao talento do menino e vir, ela própria, a lhe conceder o direito de ser gauche na vida e assumir de vez o seu destino; longe das plantações, colheitas e moagens da cana de açúcar.

O que não demorou muito a acontecer! No seu aniversário de dez anos, por exemplo, o menino recebeu de presente, de diferentes pessoas, nada menos do que doze bolas de borracha; presente considerado caro, à época, para ser ofertado por uma população constituída em sua maioria por mão-de-obra barata. O gemido dos carros de boi nas estradas logo foi suplantado pelo som dos petardos e pelos gritos de alegria do menino ao chutar a bola em direção ao gol. De tão serelepe que era, ele, antes mesmo de adentrar a adolescência, já jogava pelo time da banda de música local; o Lira.  Na banda, ele tocava trompa. 

Entre um jogo e outro, e gols e mais gols marcados, o seu nome correu feito um rastilho de pólvora empolgando a população dos trinta e cinco engenhos que compunham a Usina. Obviamente que o seu nome empolgou também o técnico da equipe da Usina, Dario Souza ? que logo o convidou a jogar pelo juvenil do Rosário, esse era o nome da equipe. E o menino não parou com o seu rosário de gols. Essa é a prova mais cabal de que a sua citada carta de alforria trazia o sinete da autenticidade divina. No Campeonato das Usinas, o menino se tornou "a menina dos olhos de todos? e passou a atuar na equipe principal.

Seguindo a trilha traçada por Deus, o menino viu Dario Souza ser contratado para ser o técnico da equipe juvenil do Santa Cruz. Logo em seguida, chegou ao seu conhecimento que Dario Souza o queria jogando pel?O Mais Querido. Essa notícia o deixou noites a fio sem dormir de tanta alegria. Afinal, ele estava para concretizar o seu maior sonho e o mais profundo desejo. Entre aquilo que lhe chegou aos ouvidos e a efetiva formulação do convite, a sua determinação foi colocada à prova ? já que os dias se passavam e o convite não se concretizava.

Ao que lhe pareceu, a felicidade havia esquecido de bater à sua porta para duplamente premiá-lo. Em Trapiche, ele costumava acompanhar pelo rádio os jogos do Santa Cruz e havia estabelecido para si uma vontade férrea ? a de vir a ser um ídolo d?O Mais Querido, como assim era o meia atacante Terto. Essa sua admiração pelo meia santacruzense tão somente aumentou quando o menino, trazido pelo seu padrinho, colocou os pés pela primeira vez na cidade grande para assistir na Ilha do Retiro a um jogo Sport X Santa Cruz. Saiu encantado!

Terto deitou e rolou naquela tarde de domingo. A tal ponto que o menino, hoje já próximo da casa dos sessenta, não hesita em dizer que nunca sentiu tamanha emoção em toda a sua vida de atleta e goleador como a que ele sentiu naquele dia. Para ele, Terto era uma espécie de ilusionista do gramado; já que se deslocava por todas as partes do campo e, em cada uma delas, realizava um espetáculo de mágica ? ao fazer a bola aparecer e desaparecer para voltar a fazê-la aparecer, outra vez, onde bem queria; como se ele dispusesse de um cordão invisível para controlá-la à distância e ludibriar os adversários antes do chute fatal.

Pensando no tal convite que não vinha e lembrando-se do jogo que assistira levado pelas mãos do padrinho, o jovem de quatorze anos decidiu se apresentar por conta própria no Santa Cruz. Num certo dia em que o irmão da sua namorada (que era mais velho do que ele, de nome João Paulino) tinha uma viagem programada para o Recife, ele decidiu acompanhá-lo. Era uma quarta-feira, do mês de agosto de 1967. O seu cunhado partiria no ônibus do centro de Sirinhaém em direção à Usina Trapiche, ao raiar do dia. De lá, eles viriam juntos para a capital.

Mal o galo cantou, o jovem atleta já estava de pé para dar curso à sua sina. Às cinco horas e uns quebrados, o ônibus chegou à Usina. Movido pela ansiedade, ele logo adentrou no veículo. De olhos bem abertos, examinou o interior da condução por inteiro. Para o seu espanto e desapontamento não havia nem sombra do cunhado. Embora nada conhecesse da "cidade grande?, ele disse, de si para si, que aquela era uma decisão sem volta. Ao longo do percurso, ele deixou para trás as cidades de Sirinhaém, Camela (próxima à entrada de Serrambi), Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão Velho; até dar de cara com a cidade maurícia.

Da antiga estação rodoviária, localizada próxima ao Forte das Cinco Pontas, ele saiu perguntando a um e a outro como faria para chegar ao campo do Santa Cruz. Alguém lhe apontou o caminho da ponte Buarque de Macedo e lhe disse que lá ele apanharia uma condução que o levaria ao seu destino. Em lá chegando, ele avistou uma Lotação (veículo precursor do micro ônibus) onde o letreiro assinalava "Água-Fria?, bairro contíguo ao do Arruda. Nela, ele logo se aboletou.

Ao condutor do veículo, ele pediu um obséquio ? que lhe dissesse onde era para descer, na ocasião em que a Lotação chegasse ao Santa Cruz. Solicitação feita, pedido atendido. Eram oito horas. Mal descera, ele observou vários jogadores da equipe profissional chegando ao clube para treinar: Uriel, Norberto, Terto, etc. Ao ver Terto, de perto, o seu coração disparou. O que lhe parecia um sonho quase impossível, a despeito da sua vontade férrea, era uma realidade quase palpável. Restava-lhe procurar o técnico Dario Souza e se apresentar.

Dario Souza abriu um sorriso de ponta a ponta da orelha quando o avistou. De braços abertos, essas foram as suas palavras: "Eu estava pronto para ir lhe buscar. Que bom que você veio!?. Encaminhou-o então ao vestiário, apresentou-o ao roupeiro e solicitou ao mesmo que lhe fornecesse o material de treinamento.  O velho Roque perguntou de forma atravessada quanto ele calçava e ouviu, de pronto, a resposta seca e segura: trinta e oito. De dentro de um saco, ele retirou um par de chuteiras e o jogou na direção do jovem atleta, sem erguer a cabeça.

Chuteiras nos pés, ele sentiu um prego lhe furando. Pensando no ditado que diz que "o bom cabrito não berra?, tentou suportar a dor e o incômodo. Mas não conseguiu! Dirigiu a palavra ao roupeiro e disse-lhe acerca do prego a furar-lhe um dos pés. O velho Roque puxou dos quartos uma peixeira e começou a raspar a ponta no chão provocando faíscas. Em seguida, perguntou: "Prefere a chuteira ou a peixeira??. O jovem atleta não pestanejou em se dirigir para o centro do gramado.

Tudo não passou de uma brincadeira, esse era o jeito de ser do velho Roque ao dar as boas-vindas a um atleta. Em particular, àqueles vindos do interior; os quais ele costumava chamar de "matuto fela da puta?. Tendo o atleta passado pelo batismo de fogo, o velho Roque era só ternura. O treino teve início (ocasião em que pelejaram as equipes de aspirantes e profissionais) e o técnico lançou em campo o atleta que havia vindo treinar pelo juvenil (naquele dia, o juvenil iria treinar à tarde). Dario Souza conhecia o seu potencial. Com cinco minutos de treino, ele deu um drible curto, duas passadas largadas e deixou Lula Vasquez a ver navios.

Ao término do treino, já estava de contrato assinado. Pela idade, quatorze anos e uns quebrados, o contrato firmado foi de Juvenil. No entanto, dois meses depois que ele aportou no Santa Cruz, Amauri Santos (que assumiu o comando interino da equipe profissional) o escalou para jogar uma partida amistosa contra a AGA, de Garanhuns. O jovem atleta entrou no segundo tempo e deixou a sua assinatura registrada na rede, ao marcar um gol. O Santa Cruz venceu de goleada, pra lá de sete. Porém, ele ainda disputaria os Campeonatos Pernambucanos de Juvenil e Aspirante (tendo se consagrado campeão por essa última categoria) antes de vir a se profissionalizar e se tornar um dos maiores ídolos do Clube.

Em 1969, ele foi alçado à categoria Profissional. Nos últimos jogos do Campeonato Pernambucano daquele ano, ele participou compondo o banco de reservas. No ano seguinte, firmou-se como titular da equipe. A sua trajetória profissional no Santa Cruz se inicia, portanto, com a série de conquistas que conduziu O Mais Querido ao penta campeonato, título até então inédito. O povaréu sorria feliz.

Em 1970, ele marcou um dos gols da vitória do Santa Cruz contra o Náutico, na ocasião da conquista do bi-campeonato (o outro gol foi assinalado por Cuíca). Em 1973, ele foi o destaque na decisão do título contra o Sport, assinalando dois gols. No mesmo ano, marcou 23 gols no Campeonato Pernambucano e 21 no Brasileiro (o que fez dele o artilheiro nacional daquele ano). O menino de Trapiche definitivamente viera para vencer. E ele o fez em grande estilo!

Goleador nato, ele nunca abdicou do espírito de equipe. Do começo ao fim do jogo, participava das armações das jogadas de ataque, tabelava com os seus companheiros, colocava-os na cara do gol, deslocava-se em campo para abrir a marcação da defesa adversária, realizava o primeiro combate sobre os zagueiros; ou seja, numa época em que os atacantes ainda costumavam atuar à moda antiga (apenas aguardando receber a bola), ele já atuava de forma moderna. O que em nada diminuía o seu instinto de goleador e o seu apetite de gol, desbravando as defesas que tentavam parar as suas jogadas a todo custo.

De espírito desassombrado, ele não temia as travas das chuteiras dos adversários que tentavam pará-lo à base de pontapés; submetidos ao vexame de tentar marcar um atacante inteligente, ágil e de drible fulminante. Se as caiporas que habitam os canaviais nunca o assustaram, o que dizer dos zagueiros de carne e osso que sequer acompanhavam de perto as suas passadas velozes? Quanto aos goleiros, coitados! Debaixo das metas, eles mais pareciam zumbis assustados com o reflexo da própria sombra em noite de lua cheia ao avistá-lo nas proximidades da grande área. Para ele, nascido e criado na Usina Trapiche, as balizas eram feixes de cana sempre a lembrar-lhe o prazer que sentia ao sorver o mel de engenho e ao se lambuzar no seu tacho. 

Sobre o jogo referente à conquista do pentacampeonato, o segundo gol por ele marcado merece registro. O jogo foi na Ilha do Retiro e, como disse, ele marcou dois gols; um em cada tempo da partida. No segundo gol (que ocorreu no lado em que se situa o placar), a equipe adversária atacava, na região intermediária da defesa do Santa Cruz, quando Zito ("Peito de pombo?) interceptou o ataque, deu três toques na bola, antes de chegar ao círculo central do gramado, e realizar um lançamento direto e em profundidade para o antigo menino de engenho.

O lançamento foi feito em diagonal e em diagonal ele correu em direção à bola para apanhá-la e dominá-la às costas do zagueiro. Possuído da velocidade de um raio, ele conseguiu o seu objetivo deixando Bibiu para trás; em seguida deu mais dois toques na bola, penetrou na grande área pelo lado esquerdo e com o pé esquerdo acertou um petardo no ângulo direito do goleiro Adeildo. Pela posição em que ele se encontrava em relação à meta, era de se esperar que o chute a ser desferido partisse no sentido do lado esquerdo da baliza, jamais do direito. Mas que nada! Ele contrariou a lógica ao chutar de pé esquerdo no ângulo direito. Esse foi um dos seus mais belos gols ? e dele ele se lembra com enorme apreço.

O ano de 1974 lhe foi ingrato, por conta de uma série de contusões que sofreu. Ele mal se recuperava de uma lesão e logo tornava a se contundir. Coincidentemente, para tristeza da nação coral, esse foi o ano em que o Santa Cruz deixou escapar a conquista do hexa. Somente depois de uma bateria quase infindável de exames médicos realizados foi que a causa específica das suas constantes lesões foi corretamente diagnosticada, a razão era a elevada taxa de ácido úrico.

Em 1975, ele voltou a todo vapor ? marcando gols importantes e decisivos pelo Santa Cruz no Campeonato Brasileiro daquele ano. No jogo Flamengo 1 X 3 Santa Cruz, marcou dois gols; em pleno estádio do Maracanã. O citado ano é o de maior glória na história do Clube da Multidão, o Santa Cruz obteve o Quarto lugar no Campeonato Brasileiro e por um triz não disputou a Final. À época, o Santa Cruz era mais do que uma equipe, era uma seleção. Do goleiro ao ponta-esquerda o time jogava como um piano afinado para a execução de um grande concerto.

No final da temporada de 75, ele foi negociado para o Internacional, do Rio Grande do Sul. Pelo Inter, atuou de janeiro a junho do ano seguinte. Longe do Clube que o projetou para o cenário nacional, dos amigos, da família e da cidade que o acolheu e aprendeu a amar; e tendo deixado os canaviais para trás para residir numa capital litorânea, o rio Guaíba não exerceu sobre ele o mesmo fascínio que exercia a praia de Boa Viagem e ele acabou sem render o esperado. Nesse mesmo ano, o Inter se consagrou Campeão Brasileiro.

De meados de 76 até novembro, ele atuou pelo Sport. No primeiro jogo entre Sport X Santa Cruz, pelo Campeonato Pernambucano, ele assinalou um gol contra o seu ex-Clube; fazendo-o ser derrotado por 1 x 0. A cabeça pesou, o coração lhe doeu e a alma quase arrebenta de tristeza. O atleta profissional sucumbia diante do antigo torcedor coral e daquele que se tornou um dos ídolos mais importantes da história d?O Mais Querido. Em conseqüência, ele entrou num prolongado período de jejum de gols. Por quatorze partidas seguidas as redes adversárias não foram contempladas com a sua marca registrada, grande era o remorso.

Embora ele não tivesse consciência da razão do jejum vivido, algo dentro de si levava-o a considerar tal hipótese. Tão logo ele foi negociado para o Vasco da Gama, ao término da temporada de 76, no primeiro treino marcou quatro gols. Jogando pelo Vasco, ele foi bi-campeão da Taça Guanabara e Campeão Carioca de 1977 (formando a dupla de área com Roberto Dinamite). O seu coração voltou a sorrir e o brilho do seu olhar reacendeu.

Em junho de 1979, ele passou a atuar pelo Goiás; onde jogou por dois anos. Em 1981, atuou pelo Ceará; tendo sido bi-campeão cearense. Em 1983, retornou ao Santa Cruz; o seu lar de origem, mas apenas disputou o Primeiro Turno do Campeonato Pernambucano daquele ano (ano da conquista do tri-super campeonato, uma das mais memoráveis conquistas da história do Clube). Ainda em 1983, foi emprestado para o São José dos Campos.

 No ano seguinte, voltou para o Santa Cruz e obteve o passe-livre. Antes de encerrar a carreira, atuou ainda por dois clubes: o Ferroviário, do Ceará, e o Brasiliense. Em 1985, pendurou as chuteiras. Segundo um levantamento realizado pela revista Placar, ele marcou 531 gols ao longo de um pouco mais de uma década e meia como atleta profissional. Poucos jogadores no Brasil alcançaram essa marca. O que o coloca no panteão sagrado dos grandes artilheiros.
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Texto publicado no site www.loucospelosanta.com . Em 01 de junho de 2009.

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Foi pentacampeão pernambucano (1969-1970-71-72-73), campeão carioca (1977) e campeão cearense (1981).

Ramon foi artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1973 com 21 gols, maior marca até então. Pelo Santa Cruz, marcou 148 gols em 377 jogos.

Por sinal, após este feito foi homenageado pelo Jóquei Clube de Pernambuco através de seu presidente da época, Sadoc Souto Maior, que instituiu o Grande Prêmio Ramon.

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