Fazia chuva ou fazia sol, frio ou calor, o radialista Narciso Vernizzi, o inconfundível "Homem do Tempo" da Jovem Pan, alcunha dada pelo jornalista Ney Gonçalves Dias, transmitia com clareza e tão logo cedo aos paulistanos seu boletim diário meteorológico.
No dia 11 de julho de 2005, o rádio brasileiro ficou órfão de sua principal da previsão do tempo. Narciso Vernizzi morreu aos 86 anos, às 10h30, em São Roque, a 42 quilômetros de São Paulo, onde tinha um agradável sítio.
Tudo começou com um simples acidente doméstico. Caiu em casa ao tropeçar no chinelo. Com fratura exposta no cotovelo, teve de ser operado. Como efeito colateral à anestesia, sofreu uma isquemia cerebral e hemorragia gástrica, que resultaram em sua morte. Foi sepultado no Cemitério da Paz, no nobre bairro do Morumbi, Zona Sul da capital paulista.
Vernizzi, nascido em 21 de outubro de 1918, no município paulista de São Roque, trabalhou por 57 anos na Jovem Pan, onde começou aos 31 anos, quando a emissora ainda se chamava Pan-americana. Também foi um dos precursores do plantão esportivo no rádio e levou a novidade do quadro do tempo à TV Record, num programa que durou 20 anos. Naquela época, não havia tecnologia de ponta nem mocinhas bonitas ao lado dos mapas virtuais.
Para amigos e colegas de trabalho, Vernizzi foi o melhor tradutor da linguagem meteorológica no rádio. Além de certeiras, suas previsões eram como uma conversa informal de vizinhos, sempre como uma dica para a dona-de-casa, do tipo: "olha, não coloque a roupa no varal hoje, porque vai chover".
"Ele conseguiu decodificar a previsão do tempo. Ensinava ao público o que eram os cúmulos nimbus", diz o jornalista-apresentador Heródoto Barbeiro.
Celso Vernizzi, um dos dois filhos - aliás, ambos seguiram a carreira do pai -, conta que Narciso foi autodidata. "Quando ele começou, não havia quase nada sobre o assunto. Aprendeu tudo sozinho, sem faculdade. Até curso por correspondência com a Nasa ele fez", orgulha-se o caçula.
Saiu na mídia do mundo: mais 80 milhões de dólares embolsados em cinco anos pela “Trinca Fifista” Blatter, Valcke e Kattner!
Que trio fantástico de ataque ao dinheiro do futebol do mundo, hein?
Fora as outras “milhares” de rapinagens já descobertas até pelo FBI.
E, depois dessa, aumenta ainda mais minha saudade de Vital Battaglia, auto aposentado do jornal, do rádio, da TV e da internet.
Uma pena.
Ele foi o nosso primeiro algoz da FIFA, então “entidade santa”.
Que falta faz Battaglia!
Foi em 1975 que conheci pessoalmente e para valer a Vital Battaglia.
Ele já era estrela da mídia impressa há anos e de vez em quando participava no estúdio do “Jornal de Esportes”, de Cândido Garcia, na Rádio Jovem Pan I AM.
Naquele jornal, que já foi épico, Paulo Machado de Carvalho, humildemente serviu de padrinho de inauguração em 1973 na avenida Miruna, 713, Aeroporto.
Nele, eu era locutor-cuco: só podia dar a hora certa e não me era permitido fazer perguntas ao entrevistado no estúdio ou por telefone, algo então espécie de novidade, coisa rara.
“Você é ainda calça branca (novato), procure aprender que te deixo perguntar. Mas escreva a pergunta antes que verei se é boa ou simplória”, dizia sempre o saudoso Cândido Garcia, o Morcego, meu doce censor.
E Battaglia, quando aparecia, basicamente fazia perguntas “padrão Joaquim Barbosa”: só porrada!
Era o mais combativo jornalista esportivo do então top “Jornal da Tarde”, do Grupo Estado.
Ele foi levado para a Jovem Pan pelas mãos de Osmar Santos, no auge da carreira.
Osmar era um Neymar!
Antes, em 1973, Osmar me colocou também no futebol da emissora no lugar de Fausto Silva, hoje “Faustão”.
Virei o “Plantão Esportivo Permanente”, como reserva de Narciso Vernizzi.
Até então, era apenas repórter rodoviário aos sábados e domingos e setorista de trânsito no Detran e nas ruas de São Paulo, no início das manhãs e finais de tarde.
E aí veio para a equipe Vital Battaglia, contratado.
Logo de cara, sempre austero e azedo, o “Geraldo Bretas moderno, mais novo e erudito”, como eu o chamava, marcou território com seu “jornalismo investigativo”.
Como comentarista, no lugar de Leônidas da Silva, estreou no Parque Antártica, dia 9 de outubro de 1975, quinta-feira, naquele Corinthians 0 x 0 Sport do Recife, ao lado da novidade José Silvério, outro filho de Osmar Santos.
Substituto do curitibano Willy Gonser, que foi para Belo Horizonte, Silvério estreou “voando” e impressionou a Vital Battaglia: “Nunca a bola rolou tão rápido no rádio”, escreveu no Jornal da Tarde.
Mas aí, também em 1975, em rara entrevista ao vivo por telefone, o todo poderoso João Havelange foi confrontado por Battaglia ao final de seu primeiro ano como presidente da FIFA.
“A sua FIFA me lembra o Vaticano, antes duas entidades acima de quaisquer suspeitas, mas agora sustento que nem tudo é tão honesto. E pergunto se a FIFA não vem fazendo negociatas em direitos e patrocínios, e até conchavos políticos que o elegeram no lugar de Sir Stanley Rous, sem parceiro, no ano passado”, perguntou na lata.
Havelange, antes de bater o telefone, encerrando a entrevista, só respondeu que “quem é o maior acionista da Viação Cometa não precisa e não faz negociata financeira ou conchavos”.
Assustado com aquilo, o “calça branca” aqui “brigou” fora do ar com Battaglia: “Você é muito bom, mas foi desrespeitoso com o homem. A FIFA é muito séria, como o Vaticano”, disse a ele.
Battaglia, com aqueles lábios de italiano tipo “boca de cabrito”, resmungou que eu precisava crescer.
Ele tinha razão, e como tinha, e hoje pergunto se Stanley Rous e Havelange não fizeram um acordo para o Brasil não ganhar a Copa de 1966 e “estragar o produto Copa do Mundo”, que seria desvalorizado com nossa seleção tri em 58, em 62, em 66 e fazendo o Mundial “ perder a graça”?
Sei lá, mas a verdade é que um cartola (Havelange) sucedeu o outro (Stanley Rous) na segunda Copa seguinte e o Brasil “jogou mesmo” para perder a Copa de 66, “não é possível”!
É “a única explicação” para a seleção brasileira ter viajado para Liverpool sem o ícone e dispensado Paulo Machado de Carvalho, por ciúmes de Havelange, e sem Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Roberto Dias, Dino Sani, Rivellino, Servílio e Ademir da Guia.
Foram só veteranos superados, jogadores comuns como Fidélis, uns bons como Gérson, Lima e Tostão, ao lado do baleado Pelé e de um magistral Edu, não escalado.
Jogamos para perder, Vital Battaglia?
Mas duro mesmo foi o jornalismo ter perdido você!
Ainda sobre Narciso Vernizzi, veja abaixo e-mail do internauta Mário Lopormo, do dia 7 de outubro de 2007:
"Narciso Vernizzi foi o criador do plantão esportivo do rádio brasileiro. Começou aqui em São Paulo, no final dos anos 1940, na radio Pan-Americana, na época a emissora dos esportes. Desde o final dos anos 1940 e inicio dos anos 1950, quando a equipe de esportes tinha Pedro Luis e Mario Moraes como titulares das transmissões, como locutor e comentarista, outros secundários locutores como Nelson Spinelli, Darcy Reis, Raul Tabajara, Helio Ansaldo, que revezavam em fazer também as reportagens de campo.
Já Octavio Munis, era somente repórter de campo, que quando muito transmitia as cobranças de escanteio, devolvendo a palavra ao locutor. No estúdio de plantão estava Narciso Vernizzi que dava todos os demais resultados da rodada. Começava ai o plantão esportivo do rádio. Após o término dos jogos, ele arquivava, além de gravar o jogo que havia sido transmitido. Depois vinha o programa Palhinha Filmando a Rodada e a resenha do esporte durante o programa, ouvia-se o tilintar das teclas da máquina de datilografia. Era o momento em que os que trabalhavam no plantão registravam as súmulas dos jogos, que tinham sido realizados naquele domingo, formando um dos melhores arquivos do rádio.
Infelizmente, muitas fitas foram extraviadas quando do incêndio de 1966, que o prédio da Avenida Miruna sofreu. Narciso era um radialista eclético, fazia vários trabalhos, não lidava exclusivamente com futebol. Quando Wilson Fittipaldi (pai) fazia os programas de automobilismo ainda nos anos 1960, ao meio dia em que falava de vários pilotos famosos na época, como Jim Clark, Narciso estava na retaguarda, mostrando que realmente era a emissora dos esportes. Nos anos 1970, quando já tínhamos um brasileiro (Emerson) disputando o titulo mundial, ele estava sempre atento a auxiliar o velho "Barão? que transmitia as corridas. Um dia fui visitá-lo (1969) já na emissora como Jovem Pan. Randal Juliano me disse que dificilmente eu o veria, pois ele estava às voltas com a sintonização das ondas curtas para a transmissão de uma corrida de fórmula 1 na Alemanha. Nem se cogitava de uma emissora de rádio transmitir ou noticiar os resultados, o que veio a acontecer depois que Emerson Fittipaldi estava em condições de ser campeão em 1972.
Narciso praticamente morava na Rádio Pan-americana Jovem Pam. Certa vez numa entrevista ele elogiava sua esposa pela paciência que tinha por saber que a vida de um radialista era mais de ficar no trabalho do que em casa. Em 1970, quando da transmissão da copa do mundo daquele ano, as emissoras de rádio, Bandeirantes, Jovem Pan e Nacional, resolveram fazer um pool (transmissão conjunta) dos jogos da copa, revezando seus locutores, Fiori Gigliotti, Pedro Luis e Joseval Peixoto e Flavio Araújo. Os repórteres Roberto Silva, Geraldo Blota. Num domingo estavam reunidos no estúdio da Rádio Bandeirantes os representantes dos plantões esportivos das respectivas emissoras, Alexandre Santos da radio Bandeirantes seu irmão Silvio Filho da rádio Nacional e Narciso Vernizzi da rádio Jovem Pan. Alexandre Santos, emocionado por estar ao lado de Narciso Vernizzi, disse a seu irmão: - Mano, esse aqui é o pai do plantão esportivo, muito respeito hein! Mesmo trabalhando em emissoras diferentes Narciso e eu, tínhamos troca de informações, a partir de 1970 quando a loteria esportiva virou uma febre nacional o serviço nos plantões esportivos triplicou, e as comunicações eram precárias, com pedidos de linha pelo 101, que nunca vinha na hora, pela companhia telefônica, que mais tarde seria a TELESP.
Então um recorria ao outro. Narciso era sempre aquele gentil colaborador. Um fã incondicional do futebol argentino. Que eu saiba era o único que divulgava os resultados do futebol portenho. Em caso de necessidade de alguma noticia sobre automobilismo, era com ele mesmo. Dificilmente ficávamos sem a noticia correta. "A gente enchia muito o saco dele? Narciso era muito atencioso com as pessoas que o procuravam. Em 1970 ele teve um problema de saúde.
Quando estava melhor, fui à Avenida Miruna visitá-lo, ai ele já tinha um trabalho paralelo ao do plantão esportivo. Era o trabalho de meteorologista, que já tinha iniciado anos antes. Mais tarde foi cognominado como "O homem do tempo", sendo o mais respeitado homem em meteorologia. Disse-me ele que um dia ouviu numa emissora que o tempo estava ruim e que mais tarde estaria pior. Verificou por todas suas fontes que a noticia não correspondia a verdade. Entrou num momento em que não era hora de falar sobre o tempo, dizendo como estava o tempo e como estaria mais tarde, sem contudo dizer que tal radio havia anunciado o contrário. Narciso era muito ético. Depois de percorrermos várias partes da Jovem Pan, levou-me ao telhado da radio e mostrou todo o aparelhamento que lá estava.
Era um aparelhamento primitivo, com formas interessantes de colher a situação como ficaria o tempo nas horas posteriores. E foi falando que não fazia aquilo assim sem algum conhecimento. Disse que o doutor Paulo Machado de Carvalho o mandou para os Estados Unidos, onde fez um curso de dois anos na NAZA. Sendo assim ele estava em condições de fazer um trabalho que vinha sendo reconhecido pelo povo ouvinte. Ele nos deixou em junho de 2005, aos 86 anos muito bem vividos em prol de sua familia e do radio. Narciso nos faz muita falta. É o tipo de pessoa que gostaríamos que fosse eterno em vida.
E no dia 29 de março de 2016, a redação do Portal Terceiro Tempo recebeu o seguinte e-mail, de Celso Vernizzi:
Pode não parecer, mas eu tinha 13 anos quando esta foto foi tirada. Vindo do Colégio Ipiranga descia do ônibus na Av. Miruna, perto da hora do almoço, para pegar uma carona com meu pai até em casa. Enquanto esperava perambulava pelas rádios Record, Jovem Pan e São Paulo, nos estúdios da TV também, queria conhecer e saber de tudo. Era uma delícia. Nesse dia, de 1965, o fotógrafo da Record, senhor Bonilha, me presenteou com esta foto que guardo com muito carinho. A camêra era uma GE preto e branco, muito boa para a época. Fui e sou realmente privilegiado pela convivência que tive desde cêdo com a comunicação e poder continuar aprendendo todos os dias. A convivência com o avanço tecnológico e o aprendizado constante com profissionais do mais elevado gabarito nesses últimos 50 anos passam como um filme em minha memória. Agradeço a Deus e também a muita gente com quem estive nessa trajetória.
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