Eu estava na Baixada e, por conta própria, peguei minha máquina fotográfica e fiz o trabalho, muito bom por sinal, como todos que venho fazendo desde àquela época.
Em 18 de setembro de 2009, meu amigo Sergio Quintella, vizinho de bancada no site, iria trabalhar na cobertura da festa de veteranos do Palmeiras, mas sabendo que eu precisava mostrar serviço para Milton Neves, foi generoso e me deu esse presente.
Para muitos, trabalho não é presente. Para mim, foi.
Sempre foi, porque nunca medi esforços para chegar com um chip com centenas de fotos e ficar por horas a fio, madrugada à dentro, para colocar a matéria fresquinha, como pão novo que sai da padaria esperando pela manteiga que vai se derreter em suas entranhas.
Nunca fui do tipo "batedor de cartão", aquele funcionário que jamais abdica de seu horário do almoço, uma hora cravada, e fica de olho no relógio para levantar da cadeira às 18h em ponto para se livrar daquilo que deve considerar um martírio, mera função para ganhar dinheiro, trampolim para o sucesso efêmero, mesmo que às custas de "passar a perna" em alguém.
Foi em 18 de setembro de 2009, na festa de veteranos do Palmeiras, que conheci muitos ex-jogadores maravilhosos. o zagueiro Mexicano e sua linda família, o centroavante Mário Motta com suas lindas histórias do Inter onde jogou com meu amigo Adilson Miranda, o meia Bentivegna, sempre um gentil cicerone me apresentando cada um de seus amigos, o lateral Odair Bruxinha, sempre me chamando de fera e o goleiro Furlan, sempre acompanhado de seu filho Ricardo.
Eu havia feito muitas fotos, os jogadores já haviam sido homenageados no palco, e terminara de entrevistar Mario Travaglini, ex-treinador do meu Corinthians, comandante do time campeão paulista de 1982.
Sim, eu, corintiano na festa do Palmeiras.
Já era quase meia-noite e eu ainda não havia jantado, e a mesa italiana farta à minha disposição.
Eu, na verdade, nem me lembrara de comer, tamanha minha preocupação em fazer meu trabalho direito.
Foi nessa hora que o filho do Seu Furlan, o Ricardo, com quem eu já havia conversado bastante, pois ele e o pai haviam me contado as histórias do veterano goleiro do Palmeiras de 1953, se único ano no Palestra Itália, me chamou.
"Marcos eu e o meu pai fizemos um prato pra você, venha jantar com a gente", disse o moço.
À mesa, Seu Furlan, Ricardo e o filho do Ricardo. Era uma família.
Não vou aqui entrar em detalhes daquele meu momento pessoal, minhas aflições, mas posso garantir que aquela mesa, naquele momento, me fez um bem danado.
E o Seu Furlan foi me contando mais histórias, de uma foto maravilhosa que que ele sacou de uma pasta e me deu, para que eu a colocasse em sua página na seção "Que Fim Levou?", que já existia no site, feita pelo jornalista Rafael Cavaco.
É a imagem de um jovem goleiro então, Furlam,então no Nacional, envolvendo a bola com sua mão direita em um jogo no Pacaembu, o mais belo dos estádios em que já fui.
Seu Nacional (o da Rua Comendador Souza), primeiro time que defendeu, em 1952, perdeu aquela partida por 3 a 1 para o São Paulo, mas aquele momento eternizado na foto é do meu goleiro favorito, o Seu Furlam, que naquela imagem é melhor até que Cássio na defesa cara a cara que fez diante de Diego Souza, naquele mesmo Pacaembu, jogo crucial na Libertadores de 2012.
Porque, apesar de corintiano, eu sou palmeirense por um dia, sempre que vou trabalhar e me emocionar na festa de veteranos do Palmeiras.
A próxima vai ser muito triste, sem o sorriso lindo do Seu Furlam, que foi sepultado nesta sexta-feira, 12 de maio de 2017.
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