Na briga entra a razão e o coração, ele chegou a uma conclusão: era preciso procurar um analista. Afinal, muita gente dizia que ele já não sabia distinguir a realidade da fantasia, estava com mania de grandeza e ria à toa, como se fosse um adolescente apaixonado.

Ele deitou no divã e resolveu logo abrir o jogo, sem rodeios. "Só penso naquilo, o tempo todo. A sensação é boa, mas tenho medo de estar exagerando ou indo com muita sede ao pote."

O terapeuta o tranquilizou. "No começo é assim mesmo, não se culpe. Aproveite esses momentos que são raros sem pensar no que vai acontecer amanhã. Viva o presente, meu amigo! Nada como um pouco de fantasia para encarar a realidade que por vezes é tão dura."

"Mas é esse o problema: não é fantasia", ele retrucou na hora. "Eu posso me desiludir lá na frente como já aconteceu tantas outras vezes, mas eu percebi logo de cara que era pra valer. Tá bom, eu confesso que a primeira vez me deixou meio desconfiado, mas tudo mudou rapidamente."

O analista foi condescendente. "Isso prova que você está ficando maduro. Não está desistindo logo no primeiro obstáculo. Está dando tempo ao tempo e quando falo em fantasia não duvido dos seus sentimentos, mas fantasiar faz parte do jogo."

Ele sorriu, mas antes de terminar a primeira consulta quis perguntar sobre a mania de grandeza de que os amigos tanto falavam. "E essa história de mania de grandeza? Será que ando mesmo passando do ponto? Sabe aquela sensação de se sentir poderoso, imbatível, de perceber de uma hora pra outra que você pode conseguir tudo o que quiser?"

O analista também sorriu, antes de responder. "Isso é pura paixão. Muita felicidade às vezes incomoda. Você só tem que estar preparado para não se sentir o pior homem do mundo quando esse fogo todo diminuir."

Ele levantou do divã irritado. "Eu sabia, você também é anti. Quase me enganou com esse papinho de viver o presente, etc e tal. Pois fique você sabendo que estou em contagem regressiva. Só faltam 33 jogos pro hepta do Timão. Quanto te devo pela consulta?"

"Não deve nada. Sofremos do mesmo mal. Pensei que eu era o único maluco que já estava fazendo contas pra mais um título do Timão. Domingo é nóis em Itaquera."