Goleiro defendeu o Palmeiras na década de 80. Foto: Reprodução

Goleiro defendeu o Palmeiras na década de 80. Foto: Reprodução

A morte do goleiro João Marcos, ocorrida na manhã desta quinta-feira (02), em Botacatu, onde vivia, nos deixa uma reflexão importante sobre nossa missão por aqui.

João Marcos passou pelo funil do sonho de ser jogador de futebol e defender um grande clube. Com todas as dificuldades que o dia a dia lhe impôs, a partir do interior de São Paulo, chegou ao Palmeiras, o time consagrado por formar grandes goleiros.

Bom jogador que era foi além: atuou também no Grêmio e chegou à seleção brasileira. Fez um jogo como titular. Apenas uma partida, mas isso nem é tão relevante. Pois nesse funil dos sonhos, João Marcos chegou onde somente os raros conseguem chegar.

Motivo de extremo orgulho e realização profissional para qualquer atleta.

Imagino aqui que, depois de vivenciar o ápice, ter que parar (e João Marcos parou em 86, dois anos depois do auge de sua carreira), correr o risco de cair no esquecimento, de não ser mais badalado, solicitado... é preciso ser mais do que atleta nesse momento.

No ostracismo que, às vezes, toma conta de ex-jogadores aposentados, João Marcos começou a perder para o álcool. Quando percebeu já estava sendo goleado.

No jogo da vida de um ser humano, João Marcos estava quase caindo para a segunda divisão.

E foi aí que ele decidiu virar o jogo. A primeira e principal arma utilizada para iniciar a reação foi a humildade.

O ano era 2009. No Domingo Esportivo Bandeirantes, o apresentador Milton Neves inicia entrevista com o ex-goleiro do Palmeiras.

Logo no começo da conversa, munido de força descomunal, bem maior que a determinação que sempre teve em campo para encarar os atacantes adversários, João Marcos abre o coração: “Eu tenho problema com a bebida. Sou um alcoólatra e preciso de ajuda”.

O relato que se seguiu foi comovente e ao mesmo tempo estarrecedor. O ex-goleiro falou sobre o quanto estava sofrendo na vida por causa das presepadas do alcoolismo.

Dinheiro, emprego, família, amigos, bens... João Marcos colocou tudo a perder. E percebeu que só lhe faltava entregar a própria vida para o vício.

Começava ali a grande virada. Com o auxílio do empresário Reinaldo Henrique Moreira, inicialmente um benfeitor, depois um amigo, João Marcos foi internado em uma clínica de desintoxicação e equilibrou o jogo.

Aos poucos foi superando as adversidades.

Foi jogador, daqueles frios, para executar milimetricamente cada função determinante para atacar o problema e se defender como nos tempos de Palmeiras, Grêmio e seleção. Não levou mais nenhum gol da bebida.

Foi treinador, estrategista, incentivador e observador, para mudar a maneira de enfrentar o adversário mais perigoso da vida, para não deixar o atleta fraquejar quando parecia que os esforços não seriam suficientes.

João Marcos virou o jogo sim e, alguns anos depois, já goleava o alcoolismo, que nunca mais passou perto de sua área e continuou sendo atacado pelo ex-goleiro em palestras, conversas, entrevistas e no livro em que relatou todas as dificuldades vividas.

No dia 02 de abril João Marcos foi novamente vencido, mas não foi pelo álcool, porque viveu seus últimos 15 anos longe do que lhe degradou parte da vida.

João Marcos se foi, mas foi abraçado e rodeado pelos familiares, amigos, fãs e pelos garotos que lhe tinham como mestre em projeto social na cidade de Botucatu, onde nasceu.

Foi embora o João Marcos, como um grande vencedor. Foi-se o João, campeão da vida!

VEJA A PÁGINA DE JOÃO MARCOS NA SEÇÃO "QUE FIM LEVOU?"

 A única partida de João Marcos com a seleção foi no dia 21 de junho de 1984, em Curitiba-PR, no estádio Couto Pereira, sob o comando de Edu Coimbra, o Brasil venceu o Uruguai por 1 a 0, gol de Arturzinho. Em pé: Edson Abóbrão, João Marcos, Oscar, Mozer, Jandir e Wladimir. Agachados: o massagista Nocaute Jack, Tita, Delei, Reinaldo, Arturzinho e Marquinho Carioca. Foto Arquivo pessoal João Marcos.

Em 06 de fevereiro de 1983, no Palestra Itália, o Palmeiras goleou o Mixto-MT por 4 a 0, pelo Campeonato Brasileiro. Em pé: Carlão, Nenê Santana, Cléo Hickman, Rocha (já falecido), Perivaldo e João Marcos. Agachados: Carlos Alberto Borges, Luis Pereira, Jorginho, Carlos Alberto Seixas e Carlos Henrique. O treinador era Rubens Minelli. Foto Arquivo pessoal de João Marcos

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