Confira mais um capítulo dessa divertida história

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Hoje pela manhã, como em todas as manhãs. Brasilina desceu antes da irmã para tomar café. Balbina sempre demora mais porque leva tempo passando creme antirrugas.
— Por que você não usa também?
— Eu? Nunca! Aceito as rugas que a vida de me deu – resigna-se Brasilina. — Rugas são sinal de sabedoria.
— Se rugas fossem sinal de sabedoria, minha bunda seria o Einstein.

Brasilina estava na cozinha pondo café com leite na xícara, que tinha ao lado uma tigela de cereais com iogurte. Essa é a costumeira primeira refeição de Murtosa, o único cão de guarda que nunca late, mas que come como lobo.
— Bom dia, Brasilina.
— Grrrr...

O rosnado em questão obviamente não vinha da boca de Murtosa e sim de Brasilina, que desde a noite anterior estava possessa com a irmã.

Tudo começou desde que Brasilina manifestara preocupação com Fred, centroavante titular da seleção.
— Tou preocupada com o Fred, sabia?
— Por quê?
— Sei lá. Durante o jogo ele fica tão isolado, sufocado, pressionado. Parece ser esquecido, quase desprezado.
— Brasilina, onde mora o Fred?
— Aqui no Brasil, ora.
— Então, não esquenta. Ela tá acostumado a viver assim.

O outro motivo da ira acontecera quando as duas estavam assistindo ao amistoso entre Itália e Fluminense. Ao ver a escalação italiana, Balbina não conteve a ironia.
— Deviam contratar o atacante da Itália como garoto-propaganda do trânsito em São Paulo: IMMOBILE.

Por isso, ela não estava estranhando o mau humor de Brasilina. Em copas passadas havia acontecido a mesma coisa e depois, quando os jogos começaram, tudo foi esquecido.

Mas uma coisa causou extremo tremor em Balbina ao descer do andar dos quartos para a sala. Ao pé da escada estavam encostados a velha mochila, o saco de dormir e a barraca de camping.

Aquilo faz com que sentisse um arrepio de mau pressentimento. E olha que ela recebe aposentadoria, já enfrentou fila no INSS e no SUS, e ainda paga plano de saúde, IPTU, supermercado, feira, etc. Ou seja, não há nada que possa assustá-la. Mas aquele “kit”...
— Brasilina, pra que a mochila, a barraca...?
— Já decidi, Balbina, vou me preparar pra abertura da Copa.
— Quê?
— Vou montar acampamento. Do jeito que a coisa anda, ou não anda, será complicado assistir ao jogo de abertura no Itaquerão.
— Mas não vamos ao Itaquerão. Vamos ver o jogo de abertura aqui na nossa sala.
— Eu sei. Mas seguro morreu de velho – e começou a montar a barraca de camping na sala.

Balbina teve vontade de abraçar a irmã. Afinal, até aquela cabecinha ufanista – ao contrário de tantas outras com mais autoridade – havia percebido que, quando se trata de mobilidade urbana, é melhor prevenir do que remediar.

09/06/2014
Magalhães Jr. – o Maga

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