Raul Drewnick

Jornalista e escritor
por Marcos Júnior Micheletti
 
Raul Drewnick é um dos principais cronistas do Brasil, com passagens pelo jornal "O Estado de São Paulo", "Veja", "Diário Popular", "Jornal da Tarde" e "Cláudia". Atualmente escreve para a "Revista Rubem", além de livros infantis, infanto-juvenis e adultos, e também textos e poesias em seu blog.
 
Depois da pandemia de covid-19 mudou-se do Jardim da Saúde (na capital paulista) para a cidade de Santos, com sua esposa Josefa.
 
Filho de poloneses, família muito pobre, o corintianíssimo Raul nasceu em São Paulo, em 22 de outubro de 1938.
 
Aos dez anos de idade leu um livro que o influenciou por toda a vida: "A Comédia Humana", do norte-americano William Saroyan.
 
O livro, que retrata as aventuras do pequeno Ulisses fez o também pequeno Raul descobrir as alegrias e tristezas do mundo. Monteiro Lobato foi outra influência importante em sua formação literária.
 
Um dia, em uma prova de química, escreveu versinhos no lugar de uma resposta para uma questão que não sabia. Talvez tenha sido nesse dia que nasceu o escritor Drewnick.
 
Ainda menino, na década de 50, a paixão pelo futebol levou-o de bonde até a rua São Jorge para dois treinos no Corinthians. Plenamente aprovado pelo técnico, foi demovido da idéia pela mãe: "De jeito nenhum", disse resoluta.
 
Ele poderia ter feito uma bela dupla com seu grande ídolo Luizinho, "o Pequeno Polegar" e outros grandes craques da conquista do Campeonato Paulista de 1954.
 
Se o Timão perdeu um craque, a crônica e a literatura ganharam um, que começou sua carreira no jornalismo, em 1960, no jornal "O Estado de São Paulo", com a intenção clara de que a atividade no jornal (foi revisor de textos) facilitasse sua aproximação por sua maior paixão: a literatura.
 
E foi justamente no "Estadão", que Raul deu o pontapé inicial na carreira de cronista, com textos marcantes, como um que publicou no dia seguinte à morte de Ayrton Senna.
 
Seus personagens, entretanto, passam longe das figuras famosas. A vendedora de cachorro-quente, a menina que é caixa no supermercado, o açougueiro, o pintor de paredes são as figuras mais comuns em suas crônicas, normalmente encontrados em seus passeios matinais pela avenida do Cursino, no Jardim da Saúde.
 
O perfume de uma planta, a "dama da noite", pode render o elo que une o presente e o passado de uma viúva, por exemplo.
 
O futebol, o vôlei, o basquete e o atletismo aparecem frequentemente em suas crônicas e livros. Vários de seus textos retratando o futebol, principalmente o Corinthians,  foram utilizados no programa "Grandes Momentos do Esporte", da TV Cultura.
 
Seu livro de estreia foi "Uma história inacreditável", em 1990, pela Editora FTD, dirigido ao público infantil.
 
Depois vieram: Meninos do Farol  (Editora Moderna, 1994); Veneno Lento (Editora Modera, 1996); e Contra Tudo e contra Todos (também pela FTD, em 1997).
 
Um grande amigo, o também escritor Marcos Rey, foi quem o indicou para a Editora Ática para escrever livros infanto-juvenis.
 
A partir daí, Raul iniciou uma intensa carreira literária.

Estreou na premiada série "Vagalume", da Editora Ática com "Um Inimigo em Cada Esquina", em 1994, o seu livro mais vendido até hoje.
 
Depois uma sequência de sucessos com a garotada (e muitos pais e mães também):

"Vencer ou Vencer", em 1995; " O preço da Coragem", em 1997; "A grande Virada, em 1999; "Correndo contra o Destino", em 2001; "A Noite dos Quatro Furacões", em 2005.

Ainda pela Editora Ática, também publicou livros para a Série Vaga-Lume Jr:

"Ricardinho, o Grande" , em 2001 (publicado também em espanhol pela Larousse, em 2003) e "A Hora da Decisão", também em 2003.

Na área juvenil, pela Editora Escala, escreveu "A Sombra da Suspeita", em 2006;  pela Lazuli-Companhia Editora Nacional publicou "Pais, Filhos e Outros Bichos" (crônicas), em  2006.
 
Seu primeiro livro para adultos foi uma coletânea de crônicas publicadas no jornal "O Estado de São Paulo e na revista "Veja", chamado "Antes de Madonna", pela Editora Olho D´Água, em 1994.
 
Participou também de um livro que reúne textos de cronistas que escreveram para "O Estado de S. Paulo" nos mais de cem anos de vida do jornal: "Cronistas do Estadão", pela Saraiva, em 1991.
 
Também para adultos, um livro de contos ("Um Corpo Chamado Roseli", pela Editora Olho Dágua, em 2002) e uma participação em outra coletânea de crônicas ("Lições de Gramática para Quem Gosta de Literatura"), pela Panda Books em 2007.
 
Casado com a professora aposentada Maria Josefa Bejar Drewnick, é pai de três filhos: Eduardo Augusto, Ana Maria e Raul Flávio.
 
Eduardo Augusto, ex-jogador de basquete, foi campeão sul-americano juvenil pela seleção brasileira e campeão brasileiro (com o Oscar) no Corinthians.
 
Nos EUA, foi campeão nacional pelo time da cidadezinha de Twin Falls, de Idaho (feito mais do que inédito, pelo qual ele recebeu como uma das honrarias a chave da cidade). Edu é casado com a ex-jogadora de vôlei Cilene, da geração da Ana Moser, Ida, Ana Paula, Márcia Fu e da então iniciante Fofão. Foi supercampeã (estadual, nacional, sul-americana) e titular na seleção que esteve em Barcelona).
 
Ana Maria é professora e Raul Flávio é jornalista e trabalha na Gazeta, em São Paulo.

Raul Drewnick é avô de dois netos: Nicole (filha de Eduardo) e Gianluca (filha de Ana Maria).
 
Em julho de 2011 lançou o livro "O Goleiro Fantasma", obra de ficção dedicada ao ex-goleiro Barbosa, crucificado pela derrota brasileira na final da Copa de 1950.
 
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Raul Drewnick por Raul Drewnick
"Estudei do primário ao clássico no Colégio Alfredo Pucca; cursei até o terceiro ano a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que abandonei por vagabundagem e pelo jornalismo; não tenho o curso de jornalismo, que não era necessário quando entrei no Estadão, em 1960. O Estadão me ensinou tudo, principalmente a vida. Se alguém me considera um cronista, é necessário que eu diga que, nessa área, minhas escolas foram o Lourenço Diaféria e o Rubem Braga. Eles deviam ter algo com Deus ou o Diabo, para escreverem daquele jeito... Treinei duas vezes no Corinthians, na década de 1950. Não se falava em Sub isso ou Sub aquilo. Falava-se em infantil, juvenil e aspirante. Pela idade, eu jogaria no infantil. Fui aprovado na peneira (era esse o nome), mas, quando levei a ficha de inscrição para casa, minha mãe me puxou as orelhas com o entusiasmo típico dos poloneses (e polonesas) e disse: "De jeito nenhum". Eu tinha escapado da escola nas duas vezes, para treinar, levado pelo bonde que ia até a rua São Jorge (tinha esse nome a linha, por sinal). Minha família veio muito pobre, da Polônia, e meus pais e meus quatro irmãos trabalharam muito duro, para que eu pudesse estudar. Não me esqueço nunca disso (se me esquecesse, seria aquelas duas coisas que os antigos pronunciavam com a boca cheia e os olhos fuzilantes: um crápula, um canalha)".

"Levantar a mão", publicada primeiramente no jornal "O jornal "O Estado de São Paulo" e também em seu livro "Antes de Madonna", é um texto presente em murais de diversas Associações de Alcóolicos Anônimos.

ABAIXO, ÁUDIO DA CRÔNICA "LEVANTAR A MÃO", DE RAUL DREWNICK, COM LOCUÇÃO DE MILTON NEVES DURANTE O "DOMINGO ESPORTIVO" DA RÁDIO BANDEIRANTES, EM 13/04/2014

Levantar a mão

Houve tempo em que minha maior preocupação diária, depois de acordar, era desvencilhar-me imediatamente do pijama, tomar uma chuveirada, vestir-me e sair logo, para ir encostar a barriga no primeiro balcão. Nunca fui comerciante, mas nessa época poderia ter sido - e dos bons. Era uma figura mais presente nos bares que os próprios donos. Meu amor a esses estabelecimentos era comovente. Chegava muito cedo e, quando saía, geralmente de madrugada, quase sempre era sob protesto. Às vezes, precisavam pôr-me para fora.

Duas instituições impediam que eu me entregasse ao copo em período integral: o trabalho e a família. O primeiro me roubava, de segunda a sábado, pelo menos cinco irrecuperáveis horas por dia. A segunda - mulher e, na época, dois filhos - submetia-me à sua tirania especialmente nos fins de semana: eu ansiava por me enfiar em  uma bodega qualquer, para emborcar uns bons conhaques, e acabava indo parar em uma matinê de Tom e Jerry, em um teatrinho infantil ou em um cirquinho de periferia, onde minhas mãos, atacadas de inexplicável tremor nessa época, emborcavam não os cálices almejados, mas os algodões-doces, as pipocas e os refrigerantes que meus filhos me mandavam segurar, enquanto aplaudiam as peripécias da tela, as aventuras do palco ou as eletrizantes atrações do picadeiro.

Esses contratempos me exasperavam, mas não me desviavam de minha vocação. Nem podiam. Eu era um grande copo, possivelmente o maior de todos, e nada ia me tirar esse orgulho. Nem a família, nem o trabalho, nem o tremor nas mãos, nem as vacilações de memória que eu começava a notar. Não era nada grave. Simplesmente me acontecia, algumas vezes, acordar e não lembrar nem como tinha chegado nem como havia subido a escada até o meu quarto. Nessas ocasiões, minha mulher me dizia que eu viera carregado por vizinhos ou por motoristas de táxi. Naturalmente, eu não acreditava nela, nem dava atenção às suas censuras. Vestia-me depressa e corria para o bar. Lá me respeitavam.   

Não perdi a confiança no meu taco nem quando ratos, cobras e morcegos passaram a invadir minha casa e meu sono. Tinha um remédio infalível: aumentar a dose. Numa das noites em que eu reforçava minhas defesas para enfrentar os pesadelos, saí do meu rumo, fui arrastado pela ressaca para os lados da praça João Mendes e, quando vi, estava, não sei como, na porta de - nada mais, nada menos - uma liga antialcoólica. O que me empurrou para dentro é uma questão que passo ao leitor. No dia, atribuí o impulso à curiosidade: ia conhecer meus opostos.   

A reunião já havia começado. Umas cinquenta pessoas acompanhavam o relato de um senhor que, pelo aspecto, eu apostaria jamais ter tomado nada mais forte que um Biotônico Fontoura ou uma groselha. No entanto, ele nos garantia que, com aquela cara de santo, tinha sido capaz, antes de entrar na associação, de espancar a mulher dia sim dia sim, durante anos, sem nunca admitir que o fazia, porque o álcool transformava certos momentos de sua vida num buraco negro, inacessível à memória. Depois dele, outros convertidos falaram. E eram histórias tristes, de gente que estourava o cofrinho dos filhos, torrava a herança da mãe e desviava o dinheiro da firma para manter a barriga encostada no balcão. Ouvi uma, ouvi outra, ouvi todas e descobri que não estava entre opostos, mas entre semelhantes. Como eu, eles haviam julgado ser campeões e não passaram de perdedores até o dia em que, finalmente, reconheceram isso.   

Quando o coordenador da reunião perguntou se havia ali mais alguém escravizado pelo álcool e disposto a se libertar, cinco homens de rosto sofrido levantaram timidamente a mão. Eu era um deles e não me arrependo do gesto, passados vinte anos. Espero que os outros quatro também não.

(Crônica publicada em 22/8/89 no Estadão e incluída no livro Antes de Madonna, da Editora Olho d´Água.)

Em 20 de julho de 2014 recebemos o seguinte e-mail de Raul Drewnick:

Raul Drewnick Drewnick
Para Marcos Júnior
Jul 20 em 9:00 PM

Marcos, várias pessoas, até amigos com quem há muito tempo não converso, têm me falado da generosidade do Milton ao repetir aquela crônica sobre o alcoolismo. Hoje foi assim. Lembrei-me então deste outro texto, feito para o Diário Popular, em que tratei do mesmo assunto. Se o Milton quiser, pode dispor dele sem problema, até sem me citar, se ele julgar que essas memórias alcoólicas podem fazer bem a alguém. Agradeça-lhe, por favor, essa gentileza que ele sempre tem comigo. Espero que o Lucas e você estejam bem. Abraços

Abaixo, o texto de Raul Drewnick mencionado no e-mail, publicado no Diário Popular em 9 de fevereiro de 2000:

Em 7 de dezembro de 2014 participou da coluna "Personalidade", na página de Milton Neves no jornal Agora S.Paulo, também veiculada no Portal Terceiro Tempo. Veja, abaixo:

Qual o seu time?
Corinthians.

Qual o jogo mais marcante que você assistiu?
Corinthians 1 x 0 Ponte Preta, final do Paulistão 1977.

Qual a sua seleção de todos os tempos?
Gylmar; Zé Maria, Domingos da Guia, Gamarra e Wladimir; Roberto Belangero e Sócrates; Cláudio, Luizinho, Guerrero e Rivellino.

Qual a camisa mais bonita?
A número dois do Corinthians, com listras verticais.

Qual o melhor e o pior esporte?
Melhor: futebol. Pior: MMA.

Em que rádio você ouve futebol?
Rádio Bandeirantes.

Qual revista que você lê?
"Veja".

Qual o melhor e o pior presidente da história do Brasil?
Melhor: Itamar Franco. Pior: Fernando Collor.

A personalidade marcante em sua vida.
Lourenço Diaféria.

Narrador esportivo de TV e de rádio.
TV: Milton Leite. Rádio: José Silvério.

Comentarista esportivo de TV e de rádio.
TV: Maurício Noriega. Rádio: Juarez Soares.

Repórter esportivo de TV e de rádio.
TV: Mauro Naves. Rádio: Wanderley Nogueira.

Apresentador esportivo de TV e de rádio.
TV: André Rizek. Rádio: Milton Neves.

Apresentador de auditório de TV.
Nenhum.

Melhor ator e melhor atriz no Brasil.
Tony Ramos e Lília Cabral.

Jornalista de TV.
Sem preferência.

Programa esportivo de TV.
"Loucos por Futebol".

Quem melhor escreve sobre esporte no Brasil?
Xico Sá.

O melhor e o pior cartola.
Melhor: Andrés Sanchez. Pior: José Maria Marin.

O melhor e o pior técnico.
Melhor: Tite. Pior: Lazaroni.

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