MAURÍCIO SABARÁ: Israel Stroh, fale um pouco sobre sua infância. Pelo que sei a paralisia cerebral foi algo diagnosticado depois, então a vida esportiva já fazia parte da sua vida.
ISRAEL STROH: Sim. Eu pratico esporte desde criança, desde meus seis anos. E já fiz de tudo (risos). Natação, futsal, tênis, basquete, badminton... mas o tênis de mesa foi o que deu certo de verdade. Minha infância sempre foi saudável. Como o esporte sempre fez parte da vida, os efeitos da deficiência foram sempre amenizados e continuam sendo.
MS: Foi com 14 anos que você começou de fato a praticar tênis de mesa. Como descobriu que tinha aptidão para o esporte?
IS: Foi como todo mundo aprende e é isso que eu gosto de falar em eventos que passo. Aprendi na escola, brincando... como todos aprendem a praticar o esporte que amamos. Comecei a melhorar e a sonhar mais alto.
MS: Outro esporte de raquete que você também se dedicou foi o badminton. Conte sobre essa experiência. Foi nele que percebeu que deveria participar de outra categoria, visando os Jogos Paraolímpicos?
IS: Eu no momento estava afastado do tênis de mesa. Interrompi a carreira nas mesas para me dedicar ao jornalismo e o badminton era meu hobby, meu lazer. Em uma das competições que joguei, acabaram comentando comigo que minha disfunção física me permitiria que eu jogasse competições paralímpicas. Aí eu decidi voltar ao tênis de mesa, que era onde eu era bom. No badminton eu era um pouco ruim (risos).
MS: Retornando ao tênis de mesa, coincidiu de você estar cursando a Faculdade de Jornalismo. Como conseguiu conciliar o estudo com o esporte?
IS: Eu já havia me formado no jornalismo. Eu decidi fazer do esporte a minha atividade principal quando eu estava chateado com as redações, com a perspectiva de carreira e vi no esporte a chance de realizar um sonho de infância. Eu já tinha passado por bons
empregos (TV TEM, TV Tribuna, Diário Lance!, Portal Terra, entre outros), mas achei que era hora de olhar para o tênis de mesa.
MS: Tênis de mesa é um esporte que requer um raciocínio muito rápido devido à velocidade do jogo e as variações no efeito. Para os atletas paraolímpicos existe um treinamento especial? Mencione também seu estilo de jogo.
IS: Não. O que fazemos no máximo é respeitar as dificuldades. Nosso jogo é um pouco mais lento, pois a velocidade entre os olímpicos aumentaria nossa margem de erro. Mas para por aí. Eu sou um jogador ofensivo, que busca muito as jogadas de finalização, mas que toma um cuidado em correr poucos riscos. Procuro ter a inteligência de escolher bem as bolas de finalização e as bolas para colocar em disputa.
MS: Muitos pensam que o saque do tênis de mesa deve ser feito apenas cruzado, mas sabemos que no jogo individual pode ser em qualquer posição da mesa e na direção que quiser, com tal obrigatoriedade sendo apenas nas partidas de duplas. É verdade que o saque para o cadeirante tem que ser cruzado?
IS: Não. O saque do cadeirante também é livre. A única regra é que no saque a bola tem que obrigatoriamente sair pelo fundo da mesa. Pode dar tantos pingos na mesa forem necessários, mas a bola deve sair da mesa pelo fundo. Se sair pelas laterais, se voltar para a rede ou se não sair da mesa, o ponto é invalidado e jogado de novo.
MS: Quais são as maiores forças no tênis de mesa paraolímpico? E quem são os grandes mesatenistas que você destaca?
IS: Os chineses obviamente são as grandes potências, mas estamos em um momento forte no Brasil e gosto de destacar os brasileiros. O Hugo Calderano é o grande ídolo da história e tão novo, nos dará muito orgulho. Gosto muito de ver o Eric Jouti jogar também. Aposto que ele será um ótimo parceiro do Hugo nesse ciclo.
MS: Quando o tênis de mesa paraolímpico começou a se desenvolver no Brasil? Você considera que há um apoio forte para o esporte?
IS: O esporte paraolímpico é muito forte e os resultados são prova disso. Não podemos reclamar de apoio, de jeito nenhum. Temos que aproveitar esse momento e buscar grandes resultados, fazer história e manter essa força por muito tempo. É esse um dos meus objetivos.
MS: Israel, antes de comentarmos sobre os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio, faremos um paralelo sobre sua carreira. Destaque seus grandes momentos, títulos e principais adversários.
IS: Meu grande momento na verdade foram nos Jogos Paralímpicos. Jogar no Brasil e com nossa torcida foi uma emoção enorme. É o meu grande estímulo, lembrar da torcida gritando meu nome. Entrei no grupo dos melhores jogadores do mundo da Classe 7, junto com rivais da China, Ucrânia, Grã-Bretanha, Holanda e França.
MS: Obviamente que o momento mais importante da sua carreira foi disputar os Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Por sinal você conseguiu o maior feito do Brasil na história olímpica do tênis de mesa, que foi a medalha de prata. Também tivemos ótimas participações de ótimas mesatenistas como Bruno Braga, Aloísio Lima, Danielle Rauen e Jannyfer Parinos. Relate sua participação desde a preparação, o torneio e a histórica decisão pelo ouro.
IS: O que marcou minha campanha foi meu auto-diálogo e minha preparação. Procurei sempre me preparar para todas as situações que eu viveria nos Jogos. Torcida, adversário por adversário, pressão, responsabilidade... estava pronto para tudo o que eu imaginei que passaria e passei. Ao mesmo tempo em que não me cobrava, não exigia de mim grandes resultados. Consegui curtir o momento, jogo a jogo, e os resultados foram sendo conquistados. Só que nessa preparação eu não me imaginei disputando uma final e cai em algumas armadilhas que eu não pensei que existiriam. Foi o que faltou para o ouro, além do grande adversário que eu tive que enfrentar.
MS: Nas Olimpíadas o Brasil também foi muito bem, especialmente pela excelente participação de Hugo Calderano. Essas excelentes atuações brasileiras, tanto nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, foram bem positivas. Você vê um grande futuro para o tênis de mesa do Brasil? E quais são os seus projetos, sendo um atleta jovem, de 30 anos?
IS: Eu imagino que viveremos dois grandes ciclos, com a geração que está em atividade. Prevejo muita evolução pois são jovens atletas e que têm muito para oferecer. Eu aos 30 anos não sou tão jovem, mas estou sonhando alto e com a disposição de um jovem. Somada à experiência que eu tenho, acho que poderemos ir longe até 2024.
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